Thread by @silviogrimaldo

O positivismo, em essência, é administração científica da sociedade por uma elite que detêm o poder em suas mãos exclusivamente para a formação de uma sociedade perfeita no futuro. A coisa não pode dar certo pq o q eles imaginam ser científico é só cientificismo,

o poder nunca está exclusivamente na mão da elite tecnocrática, a sociedade perfeita ninguém sabe exatamente como é e, por fim, o futuro nunca chega. Mas em nome dessas 4 impossibilidades, muita cagada é feita e muito crime é cometido.

Mas a gente não precisa voltar ao Estado Novo para dar exemplos. Vamos ver como a coisa funciona hoje!
A opinião pública (leia-se grande mídia e políticos q ficaram de fora da administração) exigem que decisões políticas sejam tomadas "com base na ciência",

essa choradeira da Verba Magaranha das últimas semanas que vcs conhecem bem. Aí o governo consulta "a classe científica", que atualmente são burocratas que trabalham na luxosa sede da OMS em Genebra. O conselho é: fechem tudo. O governo, que é da idade média, hesita, pois...

a medida parece que terá conseqüências sociais e econômicas muito ruins. Os governadores, esses sim guiados pela fé científica, obedecem e fecham tudo na marra. Mesmo os liberais, ah, os liberais, aquiescem, afinal, a coisa é científica e com a ciência não se discute.

Assim, você tem implantado em duas semanas a perfeita ditadura positivista com que nem Augusto Comte, nem Mannheim, nem Góes Monteiro poderiam sonhar. Um burocrata planeja racionalmente em Bruxelas, um governador executa ordeiramente no interior do Brasil uma norma clara,

objetiva e perfeitamente repetível em várias situações. A vantagem é que o decreto, sua execução e cumprimento não passam pela decisão política: é tudo fruto de uma necessidade quase trágica que se impõe pelo reconhecimento científico dos fatos.

A política só atrapalha, a política é um monte de gente defendendo interesses privados por meio de muita conversa, q dura muito tempo. É preciso se livrar dos políticos. É preciso deixar a administração nas mãos dos homens de ciência. Bem vindo a São Paulo. Bem vindo à Londrina.

Parece perfeito, não? Você está preso em casa, não pode trabalhar, não pode sustentar sua família, mas não por uma decisão política, mas por uma decisão científica, ideologicamente neutra, que só deseja o teu bem.

Qual o problema então. O primeiro é que nada garante q uma decisão que parta de uma conclusão científica será ela mesma científica. Mas isso é para outra discussão. O ponto aqui, no caso concreto, é: não há ciência nenhum, só cientificismo.

Ciência é baseada em primeiro lugar na observação dos fatos. Mas não temos os fatos, pq os fatos, nesse caso, são observados de maneira indireta por meio dos testes de coronavírus. E esses testes não temos e não fizemos. Não chegamos ainda na fase preliminar de qquer

investigação científica, a descrição dos fatos. Não sabemos o tamanho da população infectada, portanto, não sabemos sua real velocidade de contaminação, nem sua taxa de mortalidade, por um simples motivo: só uma parcela ínfima da população foi testada.

Nesse cenário, estamos falando em achatar a curva da transmissão quando sequer sabemos que desenho essa curva tem. E que milhões de pessoas correm perigo qdo não sabemos se o corona mata 10% da população ou 0,001%, o que faz bastante diferença.

Mas nossos administradores científicos sabem disso. Então precisam tomar uma decisão: vamos testar. A decisão de trazer testes da China não parece ter sido uma coisa muito científica tbm, mas isso a gente nem questiona.

O problema é que os testes chineses tem "apenas" 75% de chance de dar um falso negativo. Ou seja, é possível que 75 em cada 100 pessoas doentes testas sejam falsamente diagnosticadas como saudáveis. O que dá aos "cientistas" uma descrição completamente equivocada do fenômeno.

E com base nessa ilusão de saúde, políticos como Mandetta, Dória, Witzel, Caiado, etc., justificam suas decisões puramente técnicas, trazendo, obviamente, resultados inesperados, mais dor e sofrimento para todos.

Que as coisas sejam assim no âmbito científico é perfeitamente normal: a ciência é um cemitério de hipóteses, não um canteiro de conclusões. Pode levar anos até que apareça algum consenso sobre o problema, e ele pode ser desfeito no dia seguinte por um novo experimento.

O problema obviamente não está na atividade científica, mas sim na ideologia cientificista que aparece como um dos fundamentos das pretensões autoritárias das ditaduras tecnocráticas. Decisões políticas devem levar em conta elementos de outra ordem. Elementos heterogêneos..

impossíveis de serem equacionados numa fórmula científica objetiva e só encontram validade possível graças à responsabilidade individual do tomador de decisão, que chama para sua consciência individual a articulação das variáveis divergentes e contraditórias da situação concreta.

Por isso a política é uma arte, não uma ciência.
Mas tudo isso era só para mostrar uma coisa mesmo: quando nego começa a falar que vai tomar decisões baseado na ciência, fique esperto, pois ele que te enfiar um cabresto.