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13 Oct, 22 tweets, 6 min read
“Clássico é clássico e vice-versa”. Essa folclórica frase que ficou famosa diz um pouco sobre o que foi esse Vasco e Flamengo. A partida não teve alta qualidade tática ou técnica, mas foi disputada e até divertida de se ver. Vamos de fio.
O Fla permanecia com os desfalques dos selecionáveis e agora também de Isla, liberado para jogar a 2ª partida do Chile na data FIFA. Nathan descansou e Léo Pereira teve nova oportunidade. O 4-2-3-1 foi mantido com Diego na meia central e Gérson na meia-direita.
O Vasco comandado por Alexandre Grasseli, treinador do sub-20 do clube que esteve como interino após a (bizarra) demissão de Ramon, fez algumas mudanças. Jogadores contestados pela torcida como Yago Pikachu e Fellipe Bastos perderam vaga.
Talvez por conhecer as deficiências defensivas do lateral rubro-negro Matheuzinho desde os tempos de base, a estratégia de Grasseli era justamente utilizar a fragilidade desse setor e forçar o jogo nas costas do lateral rubro-negro com Benítez e principalmente Talles Magno.
O mapa da mina do Vasco era explorar o lado esquerdo de ataque. O gol saiu aos 8’ justamente utilizando essa estratégia, mas até o lance do gol, esse ataque às costas do lateral do Fla já havia acontecido algumas vezes.
O Flamengo, que tentava subir em campo e fazer pressão alta na saída de bola cruzmaltina tinha muitas dificuldades para cobrir esse setor. Arão não dava conta da cobertura e Gustavo Henrique acabava ficando exposto com os constantes ataques de Magno e Benítez por esse lado.
Após o gol, o Vasco resolveu se fechar e passou a apenas se defender. Parecia pouco importante se o gol havia saído aos 8’ do 1T e ainda faltavam mais de 85 min em disputa. Mas nas poucas subidas em contra-ataque, a estratégia de forçar o jogo pelo lado esquerdo se mantivera.
O jogo ficou amarrado. O Flamengo tinha muita dificuldade de encontrar seus meias e atacantes em situação de superioridade. Lembremos que o jogo posicional faz uso dos diferentes tipos de superioridade para poder avançar em campo e chegar até o gol adversário.
Se defendendo com praticamente todo mundo, o Vasco não permitia que o Flamengo gerasse superioridade numérica. BH e Gerson não conseguiam receber em superioridade qualitativa. Diego tinha dificuldade para flutuar no entrelinhas e gerar superioridade posicional.
Isso somado aos erros técnicos frequentes. Diego e Gérson, as duas cabeças criativas do time no terço final, erraram mais passes que o normal. Ambos tiveram percentual de aproveitamento de passes abaixo de suas próprias médias no campeonato.
Um outro problema, citado inclusive por Domenec na coletiva pós-jogo, era a ocupação dos espaços. Laterais e extremos por vezes ocupavam a mesma faixa do campo, sobretudo na direita com Gérson e Matheuzinho.
Diferente de Isla, Matheuzinho utilizou bem menos as ultrapassagens à linha de fundo. Isso embolava a dinâmica do setor e dificultava o jogo de Gérson, que precisa dessas ultrapassagens para gerar superioridade numérica pelo lado ou para arrastar um adversário e esvaziar o meio.
Com toda essa dificuldade ofensiva, a bola parada passou a ser uma boa alternativa para o Flamengo. Léo Pereira e Gustavo Henrique são muito bons nos duelos aéreos e logo no início do 2º tempo sai o gol de empate do Fla em cobrança combinada na primeira trave.
O gol da virada sai numa jogada combinada no intervalo. A linha de defesa do Vasco marcava de forma espaçada, visando cobrir mais a amplitude do campo e não se distanciar muito dos extremos do Fla. Só que isso gera um espaço grande entre os defensores.
Ainda sobre esse lance do segundo gol, vale destacar o bom lançamento de Thiago Maia, que vem se mostrando muito competente neste tipo de jogada. Contra o Independiente Del Valle fez passe parecido em um dos gols.

Após a virada, o Vasco voltou a buscar mais a posse, mas encontrava dificuldade para criar. O Flamengo passou a ter espaço para os contra-ataques, e Dome inclusive entrou com Michael no lugar de Diego, empurrando Gérson para o centro do campo.
Mas o rubro-negro tinha muita dificuldade de encaixar boas transições e esbarrava nas más tomadas de decisão principalmente de Michael, que mais uma vez entrou mal.
Ainda deu tempo para uma “polêmica” no gol do Vasco anulado pelo VAR. “Polêmica” entre aspas porque ninguém merece ficar debatendo e inventando teorias contra algo que é claro. Enquanto não houver mudança na regra, centímetros continuarão separando o gol regular do irregular.
Podemos até discutir se a regra deve ser revista, mas enquanto esta que está ai for vigente, há de se respeitar e anular os gols irregulares por menor que seja a distância entre o atacante e o defensor. Na regra atual, não há diferença entre estar 5 cm ou 10 metros à frente.
No final das contas, o Flamengo jogou mal, mas venceu. A sequência de jogos é brutal. Serão 5 jogos em apenas 12 dias. Surreal vermos isso acontecer ainda em 2020. Mas esse é o calendário que a pandemia e a (incompetente) CBF providenciaram. Impossível exigir alto nível sempre.
O Vasco entra ano, sai ano e não consegue tirar os pés da areia movediça. As decisões contestáveis da diretoria do clube ficam ainda mais evidentes em ano eleitoral num clube que tem uma das políticas internas mais complexas e bagunçadas do Brasil.
Enquanto não chega um novo treinador (ou seria apagador de incêndio?), o time fica nas mãos de Alexandre Grasseli, que terá que preparar a equipe para enfrentar o bom time do Fortaleza de Rogério Ceni e, na sequência, o vice-líder Internacional.

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14 Oct
No meio de uma sequência muito intensa de jogos, o Fla conseguiu vencer mais uma. De novo contra uma equipe extremamente defensiva. Mesmo com alterações na dinâmica ofensiva, o Fla criou e viu um Tadeu fechando o gol. Vamos de fio sobre os aspectos táticos da partida. Image
De forma surpreendente, Dome escalou o que havia de melhor nas mãos. Nenhum jogador fora poupado. As duas únicas diferenças para o time que jogou contra o Vasco eram o retorno de Nathan e a entrada de Michael no lugar do suspenso Diego. Image
Apesar da manutenção do 4-2-3-1 houve alteração na dinâmica ofensiva pelo lado direito do campo. Isso porque Michael jogou no setor e Gérson foi deslocado para meia central. Desta maneira, o Fla passava a ter pontas mais agudos e de profundidade dos dois lados do campo.
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8 Oct
Um 1º tempo modorrento. Do jeito que o Sport queria e Jair planejou. Mas a leitura de jogo de Dome e a análise de como encontrar os espaços deixados pelo adversário fizeram a diferença no 2º tempo. Segue o fio e vamos trocar uma ideia sobre como Dome mudou o jogo.
Dome manteve o 4-2-3-1 e mesmo com os desfalques de Arrascaeta e ER7, armou o time para tentar manter ao máximo a estrutura do time. Diego entrou como meia central e Gérson empurrado para a meia-direita, dando espaço a volta de T. Maia como volante.
Gérson é talvez o jogador com características mais parecidas a de É. Ribeiro no elenco. Meia canhoto, tem como tendência puxar as jogadas pra dentro, abrindo o corredor para Isla atacar. Mesma dinâmica que ocorre quando ER7 está em campo.
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7 Oct
QUAL ATACANTE TEM MAIS PODER DE FOGO NO BRASILEIRÃO?

Análise gráfica da relação entre número de finalizações e taxa de conversão dos atacantes pode mostrar algumas conclusões interessantes. Veja como está o atacante do seu time e entenda o gráfico nesse fio.
Perceba que o gráfico tem 4 quadrantes:
1) Superior direito- muita finalização com alta conversão
2) Inferior direito - muita finalização, mas baixa conversão
3) Inferior esquerdo - pouca finalização com baixa conversão
4) Superior esquerdo - pouca finalização, mas alta conversão
No quadrante superior direito temos jogadores que conseguem finalizar bastante e convertem grande parte das chances que tem. É o melhor dos dois mundos e é, portanto, os atacantes de maior destaque no gráfico. São eles: Thiago Galhardo, Pedro, Marinho e R. Kayser.
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5 Oct
Se o Flamengo teve o retorno de alguns jogadores importantes no time titular, Eduardo Barros trouxe um CAP praticamente todo reserva. O Athletico não perdia há 6 jogos e até fez bom início de 1T, mas não conseguiu segurar um Fla que cresceu demais na segunda etapa. Segue o fio.
O 4-2-3-1 ganha cada vez mais sequência no Flamengo. Apesar do retorno dos laterais titulares, o Fla não tinha Thiago Maia poupado por desgaste físico. Assim, a dupla de volantes teve Arão e Gérson. Na linha de meias, BH na esquerda, Vitinho na direita e Arrascaeta por dentro.
Do lado do CAP, nomes importantes como Wellington, Erick, Christian e Cittadini foram poupados devido à sequência pesada de jogos e Eduardo Barros trouxe um time bem alternativo. 4-4-2 com losango no meio e destaque para o recém contratado Renato Kayzer no comando de ataque.
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1 Oct
O Flamengo precisava responder à sapatada que levou do Del Valle na semana passada. Não importa se o time estava recheado de meninos ou se metade do elenco ainda estava fora por COVID. E com uma mudança de estratégia tática e a superação dos meninos, conseguiu. Segue o fio...
O Flamengo ainda estava remendado devido aos casos de COVID no elenco. Alguns jogadores importantes foram relacionados, mas sem condições de iniciar a partida, deram espaço a muitos meninos no 11 inicial. A linha de defesa era toda sub-20: Matheuzinho, Noga, Natan e Ramon.
O 4-2-3-1 foi mantido. A formação começa a tomar forma, padrão e continuidade. Com Gabigol de volta e Pedro também titular, o herói do título da Libertadores 2019 foi jogar na ponta direita. Lincoln repetiu a posição que jogou contra o Palmeiras, ponta esquerda.
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30 Sep
Na base Lincoln era considerado diferente. “Centroavante como poucos”, diziam. Hoje com apenas 19 anos e já há 3 anos no elenco profissional, @Lincoln9 paga por ter passado por uma das piores transições base-profissional que o Flamengo já fez. Segue o fio...
Lincoln iniciou sua trajetória no Flamengo em 2011, quando tinha 11 anos de idade. Com 1 ano de clube, aos 12 anos, já fechava seu primeiro contrato de patrocínio com uma fornecedora de material esportivo.
Nessa época já mostrava ser diferenciado e com 13 anos já era convocado para seleção de base e pulou sua primeira etapa, subindo direto para o sub-15. Assim começa sua saga de pular etapas de formação. Mas por que isso pode ser tão prejudicial?
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