Bruno Pet Profile picture
14 Oct, 25 tweets, 7 min read
No meio de uma sequência muito intensa de jogos, o Fla conseguiu vencer mais uma. De novo contra uma equipe extremamente defensiva. Mesmo com alterações na dinâmica ofensiva, o Fla criou e viu um Tadeu fechando o gol. Vamos de fio sobre os aspectos táticos da partida.
De forma surpreendente, Dome escalou o que havia de melhor nas mãos. Nenhum jogador fora poupado. As duas únicas diferenças para o time que jogou contra o Vasco eram o retorno de Nathan e a entrada de Michael no lugar do suspenso Diego.
Apesar da manutenção do 4-2-3-1 houve alteração na dinâmica ofensiva pelo lado direito do campo. Isso porque Michael jogou no setor e Gérson foi deslocado para meia central. Desta maneira, o Fla passava a ter pontas mais agudos e de profundidade dos dois lados do campo.
Com É. Ribeiro ou Gérson, o lado direito segue uma dinâmica onde o meia aberto centraliza e o lateral apoia com ultrapassagens pelo corredor. Com Michael, o próprio tende a dar essa amplitude e profundidade, alterando o posicionamento do lateral que passa a atacar mais por dentro
O Goiás é um time com imensa dificuldade de estruturar minimamente um modelo de jogo. Enderson já é o terceiro treinador em apenas 15 rodadas de Brasileirão. No meio dessa loucura, o treinador esmeraldino trouxe a campo um 4-4-2 com Rafael Moura e Vinícius como destaques.
A proposta de jogo do Goiás era bem defensiva e o gol cedo ajudou bastante nessa abordagem. Aliás, a partir do gol podemos identificar um problema tático crônico no sistema defensivo do Fla: os espaços no lado direito de defesa.
O Goiás forçava a construção do jogo com Keko pelo lado direito de ataque, mas o objetivo final era mesmo usar às costas de Matheuzinho no último terço.
Antes do gol, Rafael Moura já havia dado cabeçada perigosa em jogada trabalhada desta forma. Na ocasião, Matheuzinho estava posicionado fora da linha defensiva e chegou atrasado na marcação, deixando Rafael cabecear livre.
Já no lance do gol há muito mérito de Rafael Moura, que se posicionou no espaço entre zagueiro e lateral, ficando fora do campo de visão de G. Henrique e arrastando a marcação de Matheuzinho. Esse espaço gerado foi aproveitado por Vinicius, que entra completamente livre.
Seria injusto associar exclusivamente esse problema no setor direito de defesa do Flamengo a Matheuzinho. Mesmo com Isla, o setor sofre e é elo fraco no sistema defensivo. Ainda assim, podemos sim dizer que essas situações são acentuadas com Matheuzinho.
Com a vantagem no placar, o Goiás ganhou ainda mais motivo para manter sua estratégia defensiva e reativa. O sistema defensivo se postava em bloco baixo e com duas linhas de 4 + Shaylon fazendo pressão principalmente nos volantes pelo meio.
O Flamengo dominava a posse, pressionava alto forçando o chutão adversário e passava o tempo quase todo estruturado em momento ofensivo. Virou bem cedo um jogo de ataque contra defesa.
Mas três coisas atrapalhavam: a má atuação dos jogadores do setor direito do ataque (Michael e Matheuzinho), a má pontaria e a excelente atuação do goleiro Tadeu.
Buscando balançar o sistema defensivo do Goiás e encontrar espaços, o Fla abusava das viradas de jogo buscando os pontas abertos do lado oposto em superioridade qualitativa (1x1). E conseguia. Apesar de defender com muita gente, o Goiás não tem um sistema muito sólido.
Neste aspecto, podemos destacar a boa partida de Arão. Foram 11 lançamentos longos certos em 11 tentados. 100% de acerto. O volante é um dos melhores do campeonato no quesito com aproveitamento de 88,7% em 71 lançamentos tentados.
Mas o gol acaba saindo num raro momento de transição ofensiva. Após tiro de meta de Tadeu, Nathan ganha pelo alto, Gérson tabela com Pedro, acelera e o Fla se vê em igualdade numérica no contra-ataque (4x4). Mais um bom contra-ataque encaixado pelo Fla de Dome nesse campeonato.
O segundo tempo começa da mesma forma que terminou o primeiro. O volume ofensivo do Fla continuava alto e as cartas do jogo eram as mesmas. Só que o gol não saia. Quando não esbarrava na incompetência do setor direito ou das finalizações, parava no excelente Tadeu.
Só que aos 5’ houve uma pausa longa para atendimento médico de um jogador do Goiás e com isso o ritmo dos jogadores do Fla caiu demais. O cansaço físico da sequência pesada de jogos começava a aparecer e a organização começava a ir pro espaço.
Após a retomada, um outro fator referente a dinâmica ofensiva do Fla foi acentuado: a constante busca pelos cruzamentos. O Flamengo não é um time que costuma buscar muitos cruzamentos. Mas com pontas abertos buscando a profundidade dos dois lados do campo, essa dinâmica mudou.
Se nos últimos 8 jogos, a média era de apenas 17.8 cruzamentos por jogo, contra o Goiás esse número subiu para 42. Alguns dirão que isso é resultado da falta de criatividade do time, o que não é verdade, já que o Fla criou 4 grandes chances e fez 31 finalizações.
Assim, eu prefiro associar esse crescimento no número de cruzamentos à utilização dos dois pontas em profundidade, sobretudo com a alteração na dinâmica ofensiva do setor direito e, por fim, na substituição de Gérson por Lincoln, promovida por Dome aos 30’.
Com a saída do meia central e a entrada de mais um atacante com presença de área, a estrutura do Fla passou para um 4-2-4 e as jogadas eram criadas exclusivamente pelos lados do campo.
Mas o tempo passava, o cansaço físico aumentava, a recomposição defensiva falhava e o jogo começou a ser disputado mais com raça que com organização. Todos os jogadores do Fla pareciam estar pilhados, acelerados, nervosos, buscando a vitória a qualquer custo...
Até que aparece Pedro. Com a paz e tranquilidade de um monge budista em estado de transe, dominou um chute (!) de Arão e teve a calma para ajeitar o corpo e finalizar tirando de Tadeu. Gol de quem sabe. Gol de quem sabe muito.
A vitória do Fla foi apertada e com gol no último lance, é verdade. Mas não fosse Tadeu fechando o gol, o jogo poderia ter se desenrolado de forma diferente e a avaliação geral seria bem diferente dessas críticas à atuação do time que andam rolando por aí.

• • •

Missing some Tweet in this thread? You can try to force a refresh
 

Keep Current with Bruno Pet

Bruno Pet Profile picture

Stay in touch and get notified when new unrolls are available from this author!

Read all threads

This Thread may be Removed Anytime!

PDF

Twitter may remove this content at anytime! Save it as PDF for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video
  1. Follow @ThreadReaderApp to mention us!

  2. From a Twitter thread mention us with a keyword "unroll"
@threadreaderapp unroll

Practice here first or read more on our help page!

More from @obrunopet

16 Oct
Menos de 48h após a última partida, o Flamengo novamente entrou em campo. Ignorar o contexto na análise desse jogo seria leviano, já que ele afeta diretamente o rendimento do time. Vamos trocar uma ideia sobre esse contexto e o que aconteceu dentro das quatro linhas nesse empate. Image
Não bastasse o elenco todo ter sido infectado por COVID recentemente e o já insano calendário devido a pausa da pandemia, a “cereja do bolo” foi ser submetido a jogar uma partida 48h após o término da anterior. Mas qual é o problema disso?
Estudos fisiológicos indicam que o ápice da fadiga muscular e da sensação de cansaço físico ocorre justamente 48 horas após uma partida. É quando o atleta apresenta maior queda de rendimento. Não há tempo para o cara se recuperar fisicamente.
Read 26 tweets
13 Oct
“Clássico é clássico e vice-versa”. Essa folclórica frase que ficou famosa diz um pouco sobre o que foi esse Vasco e Flamengo. A partida não teve alta qualidade tática ou técnica, mas foi disputada e até divertida de se ver. Vamos de fio.
O Fla permanecia com os desfalques dos selecionáveis e agora também de Isla, liberado para jogar a 2ª partida do Chile na data FIFA. Nathan descansou e Léo Pereira teve nova oportunidade. O 4-2-3-1 foi mantido com Diego na meia central e Gérson na meia-direita.
O Vasco comandado por Alexandre Grasseli, treinador do sub-20 do clube que esteve como interino após a (bizarra) demissão de Ramon, fez algumas mudanças. Jogadores contestados pela torcida como Yago Pikachu e Fellipe Bastos perderam vaga.
Read 22 tweets
8 Oct
Um 1º tempo modorrento. Do jeito que o Sport queria e Jair planejou. Mas a leitura de jogo de Dome e a análise de como encontrar os espaços deixados pelo adversário fizeram a diferença no 2º tempo. Segue o fio e vamos trocar uma ideia sobre como Dome mudou o jogo.
Dome manteve o 4-2-3-1 e mesmo com os desfalques de Arrascaeta e ER7, armou o time para tentar manter ao máximo a estrutura do time. Diego entrou como meia central e Gérson empurrado para a meia-direita, dando espaço a volta de T. Maia como volante.
Gérson é talvez o jogador com características mais parecidas a de É. Ribeiro no elenco. Meia canhoto, tem como tendência puxar as jogadas pra dentro, abrindo o corredor para Isla atacar. Mesma dinâmica que ocorre quando ER7 está em campo.
Read 23 tweets
7 Oct
QUAL ATACANTE TEM MAIS PODER DE FOGO NO BRASILEIRÃO?

Análise gráfica da relação entre número de finalizações e taxa de conversão dos atacantes pode mostrar algumas conclusões interessantes. Veja como está o atacante do seu time e entenda o gráfico nesse fio.
Perceba que o gráfico tem 4 quadrantes:
1) Superior direito- muita finalização com alta conversão
2) Inferior direito - muita finalização, mas baixa conversão
3) Inferior esquerdo - pouca finalização com baixa conversão
4) Superior esquerdo - pouca finalização, mas alta conversão
No quadrante superior direito temos jogadores que conseguem finalizar bastante e convertem grande parte das chances que tem. É o melhor dos dois mundos e é, portanto, os atacantes de maior destaque no gráfico. São eles: Thiago Galhardo, Pedro, Marinho e R. Kayser.
Read 7 tweets
5 Oct
Se o Flamengo teve o retorno de alguns jogadores importantes no time titular, Eduardo Barros trouxe um CAP praticamente todo reserva. O Athletico não perdia há 6 jogos e até fez bom início de 1T, mas não conseguiu segurar um Fla que cresceu demais na segunda etapa. Segue o fio.
O 4-2-3-1 ganha cada vez mais sequência no Flamengo. Apesar do retorno dos laterais titulares, o Fla não tinha Thiago Maia poupado por desgaste físico. Assim, a dupla de volantes teve Arão e Gérson. Na linha de meias, BH na esquerda, Vitinho na direita e Arrascaeta por dentro.
Do lado do CAP, nomes importantes como Wellington, Erick, Christian e Cittadini foram poupados devido à sequência pesada de jogos e Eduardo Barros trouxe um time bem alternativo. 4-4-2 com losango no meio e destaque para o recém contratado Renato Kayzer no comando de ataque.
Read 24 tweets
1 Oct
O Flamengo precisava responder à sapatada que levou do Del Valle na semana passada. Não importa se o time estava recheado de meninos ou se metade do elenco ainda estava fora por COVID. E com uma mudança de estratégia tática e a superação dos meninos, conseguiu. Segue o fio...
O Flamengo ainda estava remendado devido aos casos de COVID no elenco. Alguns jogadores importantes foram relacionados, mas sem condições de iniciar a partida, deram espaço a muitos meninos no 11 inicial. A linha de defesa era toda sub-20: Matheuzinho, Noga, Natan e Ramon.
O 4-2-3-1 foi mantido. A formação começa a tomar forma, padrão e continuidade. Com Gabigol de volta e Pedro também titular, o herói do título da Libertadores 2019 foi jogar na ponta direita. Lincoln repetiu a posição que jogou contra o Palmeiras, ponta esquerda.
Read 23 tweets

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just two indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member ($3/month or $30/year) and get exclusive features!

Become Premium

Too expensive? Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal Become our Patreon

Thank you for your support!

Follow Us on Twitter!