É um bom debate, mas faço a ressalva, de historiador, que isso é também um projeto de construção de memória.

O capitalismo da ditadura foi campeão mundial em acidente de trabalhos, como bem aponta e analisa a minha colega, Ana Beatriz Silva: periodicos.ufsc.br/index.php/mund… .
Uma boa hipótese para pensar aí é comparar com outras ditaduras latino-americanas, como Chile e Argentina, para ver se há semelhante nostalgia popular de "emprego e segurança" que se criou no Brasil.
Mas meu ponto é que a ditadura foi mobilizada por uma série de candidatos e jornais nos anos 80 e 90 como referenciais nesses campos, apagando assim a memória coletiva e traumática de uma superexploração da força de trabalho.
Creio que isso ajudou a construir essa nostalgia, em especial em tempos neoliberais...

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21 Oct
Sobre influencers na história, queria dividir um "causo" aqui:

Era 2013, eu dava aula em duas escolas particulares enquanto estava no doutorado. Entre trabalho, pesquisa e deslocamentos, todo dia era umas 10-12h fácil.
Certo dia eu chego numa turma de segundo ano e um dos alunos, que gostava de mim inclusive, chega com o Guia Politicamente Incorreto, do Narloch, perguntando o que eu achava.
Não entrei de sola, mas falei que menosprezava qualquer publicação que dissesse que eu ensinava errado meus alunos.

O guri seguiu insistindo, até que um colega dele se irritou e falou: "mas cara, tu acha que o sôr tá mentindo pra ti, é?"

Corta essa cena.
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19 Oct
Todo o fui do @hugoalbuquerque traz ótimos pontos para o debate, mas esse em particular eu considero o mais tenso.

Comentei isso semana passada pensando no Trump, mas vale pra Bolívia também: o que fazer quando o fascismo já se instalou no Estado?
A alternativa mais óbvia (processos, exonerações, ou até acordos de anistia) requer um imenso capital político. Mas é necessário justamente para isolar setores que serviram ao golpe e garantir que eles não possam mais agir na ilegalidade.
Tem também toda a questão do lítio, que é a principal cartada boliviana na economia global hoje. É preciso suspender os contratos do governo Anez, o que significa ter que afirmar sua própria ilegalidade.
Read 7 tweets
12 Oct
Todo o respeito a historiadores que estão lá, voltando às fontes do período ptolomaico no Egito para discutir se Cleópatra era negra ou não.

Mas vocês sabem que o debate sobre racialização tem menos a ver com a antiguidade e mais com a contemporaneidade, né?
A racialização das representações históricas é um jogo praticado na era Moderna europeia e que se torna fundamental para a construção de branquitude ocidental desde a ópera Aida, de Verdi.
Cito essa ópera porque talvez ela tenha sido a primeira representação branca do Egito Antigo na cultura de massas europeia (se é que dá para ler a ópera como cultura de massa), mas vá lá.

8 anos depois da apresentação da peça, em pleno Egito em 1871, o Pashá Ismail, ainda disse:
Read 12 tweets
1 Oct
"Puxa, mas como você pode reivindicar a Revolução Chinesa, olha o tanto de gente que morreu".

(alerta de gatilho)

Bom, é complexo. Eu reconheço que os erros cometidos ao longo da Revolução são terríveis, com alto custo humano. Mas reconheço também que... Image
...a situação da China, sem revolução de 1949, era muito pior. O quão pior?

Bem, só para tocar na questão da fome. É consensual para o próprio governo chinês que a política desastrosa do Grande Salto Para Frente matou 20 milhões de pessoas.

washingtonpost.com/posteverything…
Mas as cifras variam conforme o método dos historiadores. Frank Dikköter, por exemplo, estima em 45 milhões - mas é acusado de inflar os números com estatísticas pouco ou nada confiáveis. Yang Jisheng fala em 36 milhões, mas há desconfiança também:
sci-hub.st/https://www.js…
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30 Sep
Eu tenho minhas dúvidas, mas preciso ler o livro. Por que?

Porque acredito que indústrias culturais massivas são indisputáveis. Televisão, cinema, música, quanto mais se afunilam em marcas e conglomerados, parece que menos margem de manobra para o trabalho criativo surge.
No caso dos games, contudo, tem algo que me chama atenção. Os desenvolvedores por vezes se chamam (ou são chamados, não sei) de artistas. E isso é a defesa de um trabalho artesanal, no seu sentido pré-capitalista.
Esse trabalho artesanal é, ou deveria ser, uma bandeira dos socialistas. De que o trabalho possa ter seu tempo de realização e que ele valha justamente pelo tempo do artesão. Retomar algo que está em sociedades ancestrais, que o tempo do trabalho é o tempo do esmero, da busca...
Read 7 tweets
27 Sep
Engraçado que em todo debate que me posicionei contra a volta às aulas, muito "sommelier de pobre" me acusou de elitismo, afinal, os trabalhadores mais pobres não teriam com quem deixar os filhos.

Bem...
Tanto a matéria como as reflexões do Thiago evidenciam que as coisas não são tão simples. E permitem questionar se a defesa do retorno às aulas presenciais é uma posição de classe.
Aliás, seria importante racializar esses dados... Porcentagem de brancos e negros a favor do retorno presencial corresponde à divisão por renda? Lembrando que...

agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/…
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