1/ O psicólogo e economista Daniel Khaneman, em seu livro Rápido e Devagar, descreve como funciona a Cascada da Disponibilidade:
2/ “… é uma cadeia de eventos auto sustentável, que pode se iniciar com matérias na imprensa sobre um evento de pequena importância, até provocar pânico e ações governamentais em alta escala.
3/ Em algumas ocasiões, uma matéria na imprensa sobre algum risco, captura a atenção de um segmento do público, que se torna atento e preocupado.
4/ Essa reação emocional se transforma numa história por si mesma, provocando cobertura adicional da imprensa, que por sua vez produz mais preocupação e envolvimento.
5/ Esse ciclo é algumas vezes acelerado deliberadamente por “empreendedores da disponibilidade”, indivíduos ou organizações que trabalham para assegurar um fluxo contínuo de notícias alarmantes.
6/ O perigo é cada vez mais exagerado, conforme a mídia compete por manchetes apelativas.
7/ Cientistas e outros que tentam acalmar o medo e repulsa crescentes, recebem pouca atenção, a maioria hostil: qualquer um que afirme que o perigo é exagerado é imediatamente suspeito de associação com teorias da conspiração ou interesses escusos.
8/ O assunto torna-se politicamente importante porque está nas mentes de todos, e a resposta do sistema político é guiada pela intensidade do sentimento popular. A cascata da disponibilidade redefine prioridades.
9/ Outros riscos e outras formas pelas quais os recursos públicos poderiam ser aplicados para o bem comum, caem para um segundo plano.”
Daniel Khaneman escreveu isso num livro lançado em 2011, falando de um conceito que surgiu em 1999.
10/ Qualquer semelhança com o que estamos vivendo hoje, não é mera coincidência.
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1/ Estes dias de embates políticos têm sido um aprendizado só. As mídias sociais estão se revelando verdadeiros laboratórios do comportamento humano diante de quem pensa diferente.
2/ Desde que forcei a mão nas questões político-ideológicas, assumindo a defesa dos ideais liberais-conservadores em minhas páginas e em meu Podcast, tenho experimentado situações inusitadas.
3/ Perdi milhares de leitores e ouvintes que antes admiravam minha suposta imparcialidade e se decepcionaram quando descobriram que tenho uma visão de mundo diferente da deles.
1/ Almocei num restaurante que passava nas telas o show Kaia na gandaia de Gilberto Gil. O show é uma homenagem ao reggae de Bob Marley. Gil canta e encanta, dança e ilumina. Uma delícia. Mas...
2/ Tinha gente com cara feia na mesa.
- Odeio o Gil.
Gil era então ministro aliado ao governo do PT, portanto tudo que fizesse devia ser execrado. Não interessa sua história como artista, seu valor como poeta, sua capacidade como músico e intérprete.
3/ Até quem não gosta dele reconhece sua importância na história da Musica Popular Brasileira.
Mas Gil estava contaminado. Por uma "ideologia". E uso a palavra "ideologia" entre aspas, pois não sei se o circo político brasileiro tem algo que se possa chamar de ideologia.
1/ Sou da geração de 1956, uma molecada que nasceu e cresceu meio que num hiato. Quando surgiu o amor livre eu era jovem demais. Quando fiquei maduro, apareceu a AIDS... Sou da geração que era jovem demais para curtir compreender Woodstock.
2/ E 1968, o ano das grandes mobilizações, eu tinha 12 anos de idade e morava numa cidade do interior. Quando vim para São Paulo, em 1975, uma parte importante dos acontecimentos que mobilizaram o país já havia sido deixada para trás.
3/ Mas começava uma nova fase de ebulição e acabei tomando parte em manifestações que provocaram mudanças no país.
Aos 20 anos de idade, recém chegado do interior, eu era como aquele sujeito descrito por Álvaro de Campos: eu era nada, nunca seria nada, não podia querer nada.
1/ Cafezinho 322 – O deleite
Fiz uma Live esta semana e algumas pessoas me disseram: “Luciano, dava pra perceber que você estava se divertindo!”
Você já vivenciou isso, hein? Lidou com alguém que parece estar se divertindo com o que faz?
2/ Até algum tempo atrás eu usava essa expressão “divertindo-se”, até que eu procurei num dicionário e vi que “diversão” quer dizer recreação, distração, entretenimento. O que não era bem a definição do que eu estava sentindo.
3/ Parti em busca da palavra perfeita e achei “deleite”, que quer dizer gozo íntimo e suave, prazer inteiro, pleno. Delicia.
Agora, sim!
1/ Na primeira semana de Julho de 2020, um grupo composto por dezenas de escritores, artistas, jornalistas e profissionais em diversas áreas publicou uma Carta aberta sobre justiça e debate nos Estados Unidos.
2/ Eles perceberam que o clima de confronto na sociedade está fazendo com que ideias não sejam mais discutidas, mas aniquiladas. Num trecho, eles escrevem assim:
“Os editores são demitidos por publicar peças controversas; livros são retirados por alegada falta de autenticidade;…
3/ …jornalistas são impedidos de escrever sobre certos tópicos; os professores são investigados por citar obras de literatura em sala de aula; um pesquisador é demitido por circular um estudo acadêmico revisado por pares; e os chefes das organizações são demitidos pelo que às…