Agora pode-se notar também as falhas metodologicas na execução. Primeiro que fique claro: não houve diferença nenhuma no desfecho primário avaliado de redução de sintomas febre tosse e fadiga
que já é um desfecho subjetivo e auto-reportado. a febre poderia ser um desfecho duro se fosse medida por um profissional de saude mas não foi o caso. como nao houve desfecho favorável em cinco dias os pesquisadores incluíram uma consulta telefonica apos uma semana
nao sabemos se essa consulta foi padronizada como o questionário anterior dos sintomas ou se o cego foi quebrado, o que invalidaria os resultados.
tb foram feitas varias exclusoes pos randomização, pacientes que pioraram, foram hospitalizados ou morreram. isso é o mesmo que dizer que tirando os jogos que perdemos ou empatamos, ganhamos todos
para o acompanhamento posterior por telefone também alteraram a randomização, pois incluiram apenas os pacientes que ainda apresentavam sintomas.
finalmente o unico desfecho positivo, redução de carga viral, é questionável já que nao houve correcao da carga viral basal
alem disso carga viral nos dias 5/8 nao tem relevância clínica ou epidemiologica. nao houve redução de internação ou morte e a janela de transmissao é maior dois dias antes até dois dias após sintomas
de modo que carga viral menor depois disso nao impacta transmissão. em suma, o medicamento não diminui internacao, doenca grave ou morte. nao tem impacto clínicos nem na transmissão
e gastar 5 milhoes dos cofres públicos com um estudo mal desenhado e mal executado, durante uma crise sanitária chega a ser um desrespeito com a população.
mais ainda quando os resultados sao apresentados por instituições oficiais de forma populista. aguardo para ver se teremos acréscimos no kit Covid ou como diz Dra Margareth Dalcomo, no saquinho de ilusões.
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Muita gente perguntou por que ontem no #rodaviva eu questionei o Ministro sobre o uso de homeopatia no SUS em sua gestão como secretário de saúde em Campo Grande. Aqui alguns textos para esclarecer.
O @iqciencia tem feito, desde sua inauguração em 2018, um trabalho exaustivo para esclarecer o uso de medicina alternativa no SUS, inclusive aquelas endossadas pelo CFM, como a homeopatia.
Aqui algumas amostras do nosso trabalho, para quem quiser entender melhor o que a ciencia diz sobre essa prática, tao comum no Brasil mas que nao tem base em evidencias científicas. jornal.usp.br/artigos/brasil…
Uma manchete como essa causa uma confusão danada. Entao antes de mais nada, pra deixar bem claro: mascaras NAO induzem anticorpos! e máscaras NAO sao vacinas! A reportagem é sobre este artigo que saiu no NEJM: nejm.org/doi/full/10.10…
O artigo especula sobre a possibilidade de as máscaras, por diminuirem a carga viral a que somos expostos contribuírem para infecções leves ou assintomáticas, justamente porque nao fazem milagre, apenas DIMINUEM a exposição às partículas virais emitidas de uma pessoa para outra.
Nao há motivos para pânico. Na verdade, o que aconteceu é perfeitamente compatível com uma resposta imune protetora, e compatível com o que buscamos em vacinas. O paciente NAO desenvolveu doença na segunda infecção. Isso quer dizer que provavelmente ficou protegido pela primeira.
Isso é aceitável inclusive em uma vacina, temos falado muito que talvez nao tenhamos vacinas esterilizastes - que impedem a transmissão, mas se impedirem a doença, já está muito bom. o mesmo pode ser dizer de imunidade natural.
Mais um da Pfizer! spoiler, continua minha preferida (e lembrando que essa "preferencia" é só uma brincadeira), mas ameaçada pela J&J com sua dose única...Sacanagem competir com dose única! medrxiv.org/content/10.110…
A Pfizer já vinha apresentando ótimos resultados com a primeira candidata a vacina. Quantidades de anticorpos neutralizantes chegando a 4x mais do que soro de convalescentes, ótima resposta de células TCD4 e TCD8 (essas são aquelas citotóxicas que eliminam células infectadas).
Mas resolveram mudar de candidata, e abandonaram a B1 (tb conhecida por BNT162b1, mas vamos chamá-la de B1), e adotaram a B2 (BNT162b2). Elas sao extremamente semelhantes, mas a B1 traz só a sequencia genética da parte da proteína S que liga no receptor.
Nao fiquei muito entusiasmada. é uma vacina de virus inativado, o que chamamos de vacina de primeira geração. das antigas, por assim dizer. vantagem: sabemos fazer há 60 anos. desvantagem: precisa cultivar o virus e depois inativar, isso requer laboratório de segurança máxima.
Rendimento de dose por litro tb é baixo, então precisa produzir muito. Precisa de bioreator para crescer o virus. Com toda essa infraestrutura, fica caro. Outra desvantagem, não costuma dar boa resposta de células T, o que para esse virus sabemos ser importante.