Passei 2 anos lendo tudo que pude da escola austríaca. Com 3 gdes caixas de textos e livros, escrevi minha dissertação. Minha conclusão: a teoria perdeu validez qdo a sociedade de pequenos produtores em livre concorrência que ela retrata deixou de existir... já no séc XIX.
Isso não significa que não haja contribuições interessantes, como o triângulo de Hayek e a produção indireta de Bohm-Bawerk, a teoria dos preços e da evolução da moeda de Menger, e a teoria da firma de Israel Kirzner, dentre outros legados que o mainstream absorveu à sua maneira.
O curioso pra mim é que de td o que a escola austríaca produziu, os austríacos brasileiros (eu sei, eu sei) escolhem o que há de mais raso e panfletário. O sucesso deles no Brasil pode ser, ironicamente, explicado pelo viés ideológico que eles veem apenas nos detratores.
Há mta coisa interessante além do "Ação Humana" do Mises. Infelizmente, são textos mais complexos, menos emocionais, multidisciplinares, com mais nuanças analíticas do que o binarismo figadal que marcou o início da Guerra Fria.
As interconexões com o institucionalismo que o próprio Hayek fez e a magistral tentativa de Roger Harrison de codificar um manual de macroeconomia "austríaca" são muito ricas e louváveis. Faria bem aos defensores que se atualizarem dentro de sua própria escola.
Meu orientador foi um marxista que admirava a inteligência do Hayek, apesar de discordar dele em tudo. Ele me desafiava qdo achava que eu estava forçando a barra pra defender a teoria. Publiquei 3 artigos acadêmicos sobre aspectos teóricos da escola. Em um debati com a @LPaulani.
Depois de tanto esforço, arrisco-me a dizer que qto mais se conhece a escola austríaca, mais difícil se torna defendê-la do pto de vista teórico e metodológico. Aos acólitos pouco versados nas minúcias analíticas resta apenas a defesa ideológica e tribal que interdita o debate.
O nome correto do autor é Roger Garrison (nefasto autocorretor). O livro é "Time and Money: the macroeconomics of capital structure".

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