E a reação cruzada da sorologia para Sars-CoV-2 e Dengue?
Debatemos bastante no começo mas ainda faltavam dados. Um fio breve sobre o que venho lendo:
- Ainda faltam dados
- Parece existir reação cruzada, principalmente para testes rápidos e IgM
- Temos alguns dados brasileiros
Neste estudo, que avaliou 11 testes disponíveis para COVID (vale a pena ver a performance dos mesmos), testou-se também 20 amostras de dengue do começo de 2019, ou seja, antes da epidemia (ie, não tem como serem COVID)
- 20 casos de dengue foram testados com 4 kits de COVID
Alguns testes tiveram especificidade de 80%, ou seja, casos sabidamente dengue e não covid, deram positivo para covid, especialmente IgM. Se isso se confirma, podemos ter sim falsos positivos nos inquéritos sorológicos e tb
nos locais q usamos testes rápidos de Covid/IgM com alta incidencia de Dengue. Claro q temos q levar em conta a probabilidade pre-teste, historia clinica, contato, etc.
Também se testou 40 casos de COVID com 1 kit de Dengue e 33 com outro kit
Aqui, especificidade foi 100%.
Neste outro estudo da Colombia, além de Dengue, se testou Zika e Chikungunya. Para Dengue e Chikungunya não se observou reação cruzada, mas ela foi 26% para casos de Zika, de 2015/2016, (19 casos, 5 positivaram para COVID)
Este outro encontrou reação cruzada também de 22% para casos que eram dengue antes de 2020, porém também testes de dengue positivo em casos COVID-19. Também tentaram ver similaridade de epítopos entre eles.
Este outro encontrou em pacientes COVID nenhum teste positivo para Dengue, porém um 1 falso positivo de Covid em caso antigos de Dengue (1 de 44, 2%), bem mais baixo que os anteriores
Quanto à reação cruzada, parece existir. Uma análise sistemática será necessária.
Não vou me estender mais, porém isso tem implicações para todo mundo (questões e pensamentos livres abaixo)
1 - Epidemia, como diagnosticá-la melhor em área com endemicidade de Dengue (inquérito sorológicos)
2 - Paciente, na parte clínica, é um caso de dengue ou covid?
3-Se tiver reação cruzada pelo teste "ser ruim", ñ calibrado, Ok, melhoraremos os testes/mudamos valor de corte, PCR, etc. Mas se for por similaridade, será q temos mais risco de reação imunológica, tipo a que já observamos a depender da infeção por outro sorotipo de Dengue?
Questões em aberto que o Brasil, e os países com outras doenças tropicais, devem ir atrás. Imagino que outros grupos no Brasil estejam atentos a isso e se não começaram, vão começar a ver melhor este tema, agora com a COVID diminuindo
Algumas revisões discutem isso.
Quem tiver material para adicionar, por favor, cole aqui.
Uma linhagem do Sars-CoV-2 vem predominando na Europa
-Inclui mutação da Spike
-Não sabemos se é um fenômeno porque ela consegue se transmitir mais facilmente ou fatores epidemiológicos
-Ainda sem dados se causa doença mais/menos grave
-Aparentemente se expandiu da Espanha
Aqui um fio de um dos autores, o grande Iñaki @icoes
Pesquisadores foram buscar o Sars-CoV-2 em amostras da cidade de Belo Horizonte
-Abril e Junho de 2020
-933 amostras de 8 tipos de locais diferentes (hospitais, praças, parques, terminal de ônibus, banco, etc)
- Metal, plástico, madeira, concreto
-5% das amostras foram positivas
E, como esperado, áreas em hospitais/serviços de saúde (ou próximas a eles) foi a principal área entre os positivos, seguido de praças públicas
O tipo de material também influenciou. Os pesquisadores correlacionaram material e fonte.
Descrição de um cluster de 19 casos COVID19 no Brasil
Muita gente já escutou famílias inteiras que se infectaram, às vezes internados, ou de uma festa de onde surgiram muitos casos. Já descrito em outros países e o fenômeno de super-propagadores👇
19 confirmados e 21 prováveis
Esse artigo relata 5 famílias que fizeram o isolamento na região costeira do Brasil e se dividiam em 2 casas.
O caso índice provável foi a/o babysitter, numa exposição de 2 horas na fila do banco. Os 5 funcionários dividiam o mesmo quarto, assim q do caso índice, correlacionando
os tempos da doença (intervalo serial, tempo de incubação... falo mais no fio abaixo), foi por onde provavelmente a transmissão se dissipou, embora certamente outros membros tinham contato entre si e entre as casas. 17 dias desde o primeiro ao último caso.
Quais os fatores de risco para morrer na Suécia do começo da pandemia por lá até Maio?
-Estudo populacional (7.9 milhões de pessoas) na @NatureComms
-Óbitos COVID19 e outras causas
Maior risco em:
⬆️ Imigrantes, baixa renda e menos educação
⬆️ Não estar casado
Conclusão 👇
O estudo usa as bases populacionais da Suécia que são incríveis de uma longa data. Toda integrada, com identificador único, onde se pode saber toda trajetória, renda individual, educação, etc.
Todos os modelos estão ajustados por idade e completos no suplemento. O tempo de seguimento ainda é curto mas reflete o primeiro momento da pandemia.
Saiu no @NEJM o trial de tratamento com HCQ para COVID19. Como já sabíamos do pre-print:
- Nenhuma evidencia de benefício em mortalidade
- Evidencia de maior risco para os pacientes.
Mais de 90% dos pacientes com COVID confirmados, tamanho de amostra grande com poder, maior excesso de óbitos por causa cardíaca.
Sem evidencia de beneficio em subgrupos, aliás, quase todos apontando para risco.
Desfechos secundários: menor chance de sair de alta do hospital em 28 dias e maior chance de necessitar de ventilação mecânica ou morrer.
Já estamos tendo algumas evidências sobre sintomas oculares, alterações na retina e agora algumas imagens de evidência do vírus. É esperado pela endotelite (inflamação do endotélio, célula que recobre casos) causada e pelos receptores ACE2
Primeiro uma revisão (simplificada) da anatomia dos olhos: Íris é a parte colorida, a pupila que abre e fecha, a córnea, que é a lente, a parte branca que é a conjuntiva. Para dentro, temos a retina lá no fundo (tipo um tapete), embaixo dela tem monte de vasinhos (coróide), etc.
Uma parte da retina, chama mácula, é onde estão os fotoreceptores (receptores que se estimulam com luz). É onde podemos observar algumas agudas e crônicas em alguns exames (eg, fundo de olho). Aqui para ilustrar a mácula e também os vasinhos fininhos embaixo (vermelho)