Já estamos tendo algumas evidências sobre sintomas oculares, alterações na retina e agora algumas imagens de evidência do vírus. É esperado pela endotelite (inflamação do endotélio, célula que recobre casos) causada e pelos receptores ACE2
Primeiro uma revisão (simplificada) da anatomia dos olhos: Íris é a parte colorida, a pupila que abre e fecha, a córnea, que é a lente, a parte branca que é a conjuntiva. Para dentro, temos a retina lá no fundo (tipo um tapete), embaixo dela tem monte de vasinhos (coróide), etc.
Uma parte da retina, chama mácula, é onde estão os fotoreceptores (receptores que se estimulam com luz). É onde podemos observar algumas agudas e crônicas em alguns exames (eg, fundo de olho). Aqui para ilustrar a mácula e também os vasinhos fininhos embaixo (vermelho)
Conjuntivite leve (as vezes a única apresentação) já foi reportada desde os primeiros casos na China. Isso não é exclusivo do COVID, já que conjuntivite é acontece em algumas doenças virais respiratórias. Talvez conjuntivite possa estar associado com casos de perda de olfato.
Um grupo fez swab da conjuntiva de pacientes positivos para COVID-19, mas sem sintomas oculares. De 49 pacientes, 4 (8%) tiveram swabs positivos, com um ciclo do PCR (Ct) alto, ou seja, pouca carga viral, sugerindo pouca probabilidade de transmissão.
Outro grupo testou 16 casos confirmados e 32 controles e nenhum swab foi positivo, mesmo alguns com sintomas oculares.
Vale lembrar que a sensibilidade dos testes para amostras oculares é muito mais baixa e esse é um tema ainda em investigação. link.springer.com/article/10.100…
Nos vasos da retina temos receptores ACE2, aquele q o Sars-CoV-2 usa para entrar nas células. E um grupo conseguiu isolar RNA do vírus em amostras de retina de 3 pacientes em 14 autópsias de casos positivos, em valores baixos.
Um outro grupo analisou 54 pacientes com COVID19 e comparou com um grupo controle, analisando as imagens dos casos da retina (ARIA). Estes métodos conseguem visualizar vasos muito pequenos "in vivo".
Alterações retinianas foram mais frequentes em pacientes com COVID-19, assim como os diâmetros venoso e arterial foram mais afetados de acordo com a gravidade do caso, mesmo ajustando para outros fatores.
Um grupo brasileiro que tem grande experiência em pesquisa na oftalmologia publicou uma carta no @TheLancet analisando 12 pacientes. Eles usaram tomografia de coerência óptica (OCT) e vizualizaram alterações como o estudo anterior e com a OCT eles acharam achados em camadas da
retina/mácula. A repercussão clínica destes achados ainda não sabemos.
Essa carta gerou várias outras no Lancet, vale a pena dar uma olhada. Dos 12 pacientes, 7 não tinham comorbidades, pq comorbidades podem dar estas alterações. Questões metodológicas
foram esclarecidas (como vasos e retina são 3D, as vezes algo que parece ser X poderia ser Y, a depende do angulo do corte, etc).
Na resposta os autores dizem que já analisaram mais de 150 casos e novos achados, incluindo outras alterações.
Por fim, saiu um pre-print identificando o vírus na córnea, aquela lente mais externa. Os autores investigaram a córnea de doadores de órgãos. Eles dividiram os casos em 3 grupos: confirmado para COVID, com sintomas mas sem teste, e outro sem sintomas/testa mas contato.
Eles analisaram 33 pacientes e as amostras também variaram, como abaixo. A taxa de positividade para RNA do vírus foi maior nos confirmados (17% na esclera e 11% na córnea).
Eles também encontraram em outras partes, como no humor vítreo ("geléia" que preenche o globo ocular), abaixo análise em 10 casos
E aqui uma fotos com casos controles e positivos da proteína do envelope do Sars-CoV-2 na córnea. Estas córneas ainda não tinham sido tratadas/esterilizadas para o transplante.
Você sabe que alguns transplantes podem levar um patógeno do doador para o receptor? tema para outro fio...
Por fim, acharam Sars-CoV-2 em lágrimas e outras secreções, usando diferentes métodos de coleta (referencia abaixo).
Todos estes estudos tem amostra pequena e potencialmente enviesada e o que sabemos até aqui mostram que estes achados são raros. Já efeitos crônicos não sabemos.
Transmissão parece ser algo factual e não esperado, porém pode acontecer, assim que evite tocar os olhos e sempre lavar as mãos.
Se vc nunca viu uma lâmina de retina, vale a pena. Sempre achei muito bonita e costuma cair na prova. O olho, sua imunologia e fisiologia, na vdd, é bem fascinante. Curiosidade: podemos randomizar tratamentos diferentes para cada olho na mesma pessoa (um controle do outro).
Saiu no @NEJM o trial de tratamento com HCQ para COVID19. Como já sabíamos do pre-print:
- Nenhuma evidencia de benefício em mortalidade
- Evidencia de maior risco para os pacientes.
Mais de 90% dos pacientes com COVID confirmados, tamanho de amostra grande com poder, maior excesso de óbitos por causa cardíaca.
Sem evidencia de beneficio em subgrupos, aliás, quase todos apontando para risco.
Desfechos secundários: menor chance de sair de alta do hospital em 28 dias e maior chance de necessitar de ventilação mecânica ou morrer.
Sugiro a leitura deste relatório da missão da OMS na China no começo da pandemia. Explica tanta coisa e parece que quase tudo que se foi descobrindo já estava lá...
São 40 páginas, realçarei alguns pontos numa tradução livre
O vírus: betacoronavírus, efeito citopático em 96h em cultura de células, bloqueio com soro de convalescentes, em animais causando pneumonia multifocal/hiperplasia intersticial; vírus no pulmão e intestino.
Já sequenciaram naquele momento 104 strains, e sem verificar grande evidencia de mutações.
Um preprint do grupo que tem produzido muita ciência traz dados para o entendimento:
Usando sorologia em doadores de sangue e um modelo ajustando para sensibilidade/especificidade do teste, idade/sexo, decaimento
Prevalência acumulada: 66%
Os autores construíram o histórico de prevalências na cidade de Manaus e São Paulo de Fevereiro até Agosto de 2020.
Estudos com doadores de sangue são uma boa fonte, pois o sangue é coletado, armazenado uma parte para exames/sorologia, então temos toda a logística mais fácil.
No casos dos dois bancos de sangue, o material fica estocado por 6 meses após doação (mais sobre isso abaixo).
O teste foi feito o Abbott SARS-CoV-2 chemiluminescence microparticle assay (CMIA), para IgG contra a proteína do nucleopsídio (N). Assim, melhor que os testes rápidos.
Essa é a nova moda de mistificar a pandemia na Europa (junto com "o que seria uma segunda onda"). E muitos não entenderam um ponto crucial sobre epidemias:
Atenção: nenhum indicador é capaz de explicar ou diagnosticar a pandemia.
Falamos e pedimos muito que reportassem e melhorassem a taxa de positividade. E eu tenho certeza que seguiremos pedindo. Ela mostra um aspecto importantíssimo: se está alta (quase todo RT-qPCR é positivo), significa sem dúvida que estamos testando pouco. Ou seja, estamos testando
só os muito graves (como na primeira onda ou primeiro período) ou os muito "óbvios", sintomáticos. Temos que testar contatos, contatos não só próximos, mas cadeias de transmissão, testar surtos, se puder, alguns testes em massa, e assim vai. Se ela está baixa, significa que
1 - Máscaras são efetivas em diminuir o risco de transmissão populacional
2 - Máscaras devem ser efetivas em diminuir a quantidade de vírus transmitida, diminuindo a carga viral, levando a infeções menos graves.
Torcida em 1918 👇
É bem simples:
uma barreira para evitar que os microguspes, guspinhos e gotículas contaminados com vírus do Sars-Cov-2 saiam da sua boca e nariz e infectem outras pessoas.
Se não barrar completamente, diminui a quantidade. e tudo isso é excelente pra todo mundo.
Máscaras não limitam a entrada de oxigênio nem a saída de gás carbônico. Mesmo em exercício. Também máscaras não tem ship
É simples: uma coisa que proteje sua boca e nariz de propagar esse vírus que deixa todo mundo cansado, doente e que ninguém aguenta mais: #UseMáscara