1. Uma questão da autonomia é que o BC determina a política monetária que quiser dados os objetivos do CMN sem nenhum compromisso em entrelaçar seus instrumentos com a política fiscal.
2. Dessa forma, cravada a política monetária por um super poder não eleito, é o executivo democraticamente eleito pelo povo que tem flutuar a política fiscal para se adaptar aos instrumentos escolhidos pelo BC.
3. Fora isso, a política monetária do BC tem impactos distributivos poderosíssimos ao controlar, ao menos, dois preços muito importantes: juros e câmbio. Não é política neutra, uns perdem, outros ganham.
4. Por fim, a política monetária e a fiscal estão umbilicalmente ligadas, apesar dos manuais ultrapassados forçarem algum tipo de separação. É como uma dupla de remadores que devem estar sincronizados. Se um remador não conhece e dialoga com o outro, o desempenho será pífio.
5. Finalizando mesmo, por trás da ideia de autonomia e mandato fixo, mora a anipolítica e o desprezo à democracia e participação popular. Parte-se do pressuposto que os representantes do povo serão sempre incompetentes. O povo deve ser tutelado, portanto, por técnicos "isentos".
6. Tão isentos quanto o Roberto Campos, cria do Santander, para onde deve voltar quando sair do BC. A porta giratória dos bancos comerciais para o BC ficará ainda mais forte. A democracia mais fraca.
7. O BC é importante para a distribuição de renda, dinâmica de crescimento e suporte à política fiscal. Por exemplo, pode amenizar pressões sobre os títulos públicos do Tesouro, já que é o emissor soberano de moeda.
8. Se a política fiscal for demasiadamente ousada, um BC comprometido poderia atuar absorvendo títulos do tesouro de diferentes maturidades ao longo da curva, evitando flutuações excessivas nas taxas de juros e problemas distributivos.
9. Um BC comprometido com pautas privatistas e fiscalistas, pode se ausentar no momento que o Tesouro precisa, inclusive forçando flutuações abruptas ao longo da curva de juros , pressionando por ajustes fiscais.
10. Enfim, não podemos ter um superpoder não eleito dando praticamente todas as cartas dos juros, câmbio, crédito e, até, no limite, política fiscal. (ou parcialmente não eleito - já que o mandato do presidente do BC será descolado do presidente da rep.)

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8 Nov
1. Fio com as posições do FMI sobre a insensatez que significa a volta do teto de gastos em meio a uma crise sanitária ainda gravíssima. Os pontos são traduções diretas d trechos de relatórios do FMI, FED e outros. É só p/ vcs terem noção da insanidade e maldade do teto de gastos Image
2. O título de um dos textos do FMI que irei usar aqui é: "A crise não acabou, continue gastando"

"A crise econômica induzida pela pandemia deixará cicatrizes profundas...
3. (...) A erosão do capital humano por causa do desemprego prolongado e do fechamento de escolas, a destruição de valor por falências ... estão no topo da lista. Os grupos que já eram pobres e vulneráveis ​​viverão os maiores contratempos.
Read 20 tweets
6 Nov
SOBRE A PRORROGAÇÃO DA DESONERAÇÃO DA FOLHA: PRÓS E CONTRAS.

1. A desoneração terminaria no fim deste ano, mas o Congresso prorrogou a medida até o fim do ano que vem. O presidente Jair Bolsonaro vetou, mas os deputados e senadores se articulam e derrubaram o veto.
2. A desoneração reduz o valor do recolhimento ao INSS feito pelos patrões. Em vez de pagar 20% sobre a folha de pagamento do funcionário, o tributo pode ser calculado aplicando-se um percentual sobre a receita bruta da empresa, variando de 1% a 4,5%, de acordo com o setor.
3. A Desoneração da Folha de pagamentos é um benefício fiscal que foi criado pela MP 540, convertida na Lei nº 12.546, de 2011. Inicialmente, compreendia apenas 3 setores da economia, contudo ao longo do 1° governo Dilma foi sucessivamente ampliada.
Read 25 tweets
3 Nov
NOTA DO FUNDO MARXISTA INTERNACIONAL (FMI)

1. Hoje a economista-chefe do FMI, stalinista e colaboradora do partido marxista internacional, escreveu um texto defendendo q as autoridades fiscais devem apoiar a demanda dando dinheiro p/ o consumo e investimento em LARGA ESCALA.
2. A economista (ops, comunista) descobriu, também, a roda: uma massa avassaladora de impressão de dinheiro não causa inflação. E que mesmo com taxas de juros negativas em 1/5 do mundo a economia não reage. É necessário demanda. Algo que a MMT sempre explicou muito bem. Enfim...
3. Diz a economista-chefe do FMI: "No entanto, tais políticas são limitadas em sua capacidade de estimular a demanda. Os riscos de solvência agora predominam. Empresas vulneráveis, mas viáveis, necessitam de apoio, um problema muito melhor abordado pela política fiscal."
Read 8 tweets
30 Oct
1. Já na época da reforma da previdência, Pedro Nery, juntamente com o Armínio, costumavam divulgar dados falsos e leis inexistentes p/ convencer aos seus leitores de que a reforma da previdência era para ajudar, pasmem, os mais pobres. No fio, recupero um das mentiras da dupla.
2. Em texto criticando Piketty, um dos mais renomados economistas da atualidade, Nery mentiu apostando na ignorância dos leitores do Estadão. Basicamente o mesmo que ele fez recentemente com o Boulos.

Abaixo, destaco apenas um trecho curto, mas repleto de mentiras.
3. “Mas a triste realidade ignorada por Piketty e coautores é que são os brasileiros mais instruídos, das ocupações mais produtivas e das regiões mais industrializadas que se aposentam muito mais cedo do que os demais....
Read 19 tweets
28 Oct
1. Pedro Nery, candidato ao Nobel pela sua inovação metodológica, propõe um novo método para a análise de propostas de políticas públicas. O esquema básico é o seguinte:

(i) imagine ou sonhe com uma proposta de programa econômico.

(ii) diga que fulano pretende implementá-la.
2.

(iii) A partir da proposta imaginária, realize a estimativa de impacto orçamentário e financeiro usando como fonte de dados principal os comentários dos opositores do fulano em redes sociais.
3.

(iv) Por fim, diga que não há espaço no orçamento para implementar a política imaginada, já que os custos calculados pelos opositores do fulano são altíssimos

(v) Conclua que o fulano é pouco técnico.
Read 4 tweets
26 Oct
1. Os colegas da Auditoria Cidadã da Dívida repetem, o tempo todo, que o Brasil é um dos 10 países mais ricos do mundo (PIB). Para eles, muito mais rico que a Noruega ou Dinamarca. Daí se perguntam: para onde vai toda essa riqueza?
2. Portanto o objeto de pesquisa é: como que um país 5 vezes mais rico que a Dinamarca pode ter tanta miséria e fome enquanto no país nórdico, muito mais pobre, há um confortável estado de bem-estar social?
3. A resposta eles encontram no gráfico da pizza. Supostamente, metade das nossas riquezas vai para bancos em um esquema de roubo, usura e juros compostos, conforme o denunciado pela Igreja Católica Medieval, que lutou contra a usura dos judeus.
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