Vou fazer um fio com um ultra-resumo das últimas novidades da pandemia e COVID-19 👀

💟 Testes
✅ Segunda onda Europa
✅ Epidemiologia
✅ Tratamentos
✅ Mutações
A vida está bem corrida e vou listar algumas fontes e artigos. Para muitas coisas, vários fios excelentes já foram feitos. Também desculpa por não conseguir responder aos contatos em tempo hábil.
💟 Testes
A grande novidade dos testes é o teste rápido de antígeno. Ele deu a largada na pandemia meio que enferrujado, a maioria não acreditando muito no seu potencial. Porém, ele não foi deixado de lado e fomos estudar-lo melhor. Aqui um ponto que falo desde o começo é que
parece que não se aceita que em pleno 2020 uma técnica diária de PCR não conseguiria ser escalada a todos os lugares em quantidade adequada. Mas além de reagentes, envolve coleta, treinamento, material, LOGÍSTICA e tudo mais. PCR já melhorou muito em toda europa, mas essa semana
pelo pico da segunda onda, já falta em alguns hospitais e a demora básica para sair resultado já é frequente.

Mas o teste de antígeno, o que ele é? Se antes buscávamos um anticorpo contra algumas proteínas do vírus, que o corpo tem que produzir, tem as demoras, os tempos, o
teste do antígeno é a busca, neste caso, por um pedacinho do vírus. Assim ele está presente quando o vírus está replicando, ativo no corpo (nota: antígeno tem outra definição técnica na imunologia, divisões por alguns fatores, como por exemplo em tipo de resposta que causa, etc).
Os primeiros testes tinham "baixa" sensibilidade, por isso as pessoas acharam que fosse meio assim-assado. Mas se formos ver já nos primeiros, a sensibilidade não era tão diferente do PCR a depender do tempo de sintomas. Pois então, o teste é rápido, sai em 15-30 minutos, é quali
tativo (sim/não), tem altíssima especificidade e a sensibilidade varia com tempo de sintomas. Mas o mais interessante, que alguns defendiam desde o começo, é que a capacidade do teste detectar quem estava infectado (sensibilidade) é proporcional à carga viral. Assim, os que
eram falsos negativos era porque tinham baixa carga viral que talvez não tenham tanta importância em termos de saúde pública. E os estudos de validação mostram exatamente isso. Usando o ciclo (Ct), onde quanto menor o Ct quer dizer que menos ciclos foram necessários para
positivar o PCR, e assim maior a carga de vírus e RNA lá. Por fim, é um teste rápido, que detecta grande parte dos casos, principalmente os com mais vírus e teoricamente maior chance de transmitir, com alta especificidade. Digo teórica pq ainda não foi provado que screening ou
se basear somente em teste de antígeno negativo para liberar escolas, encontros, visitas familiares, estaríamos seguros. Ainda por vir. Também tem estudo que olhou quando o teste de antígeno errou (falso neg) e cultivou o vírus, em geram a maioria não era capaz de infectar celula
Aqui um vídeo do @oriolmitja, um pesquisador que levantou a utilidade do teste de antígeno desde o início e lidera pesquisas nesta área.

Artigo de validação

medrxiv.org/content/10.110…
Vocês também devem ter visto que a Eslováquia fez um screening massivo com testes de antígeno em mais de 3 milhões de pessoas e achou muitos positivos (não consegui confirmar de 25 ou 38 mil positivos). É muita gente transmitindo e com certeza se fizerem quarentena, máscara,
ajudaram na contenção da epidemia por lá.

O Brasil usa teste de antígeno desde o comecinho, ainda quando nem a bula dizia ser validade. tínhamos mais de 800 mil positivos por antígeno a ultima vez que olhei.
Outros artigos preprint (inclui aqueles com cultura de células), alguns já forma publicados

medrxiv.org/content/10.110…
medrxiv.org/content/10.110…
medrxiv.org/content/10.110…
medrxiv.org/content/10.110…
medrxiv.org/content/10.110…
Por fim, um vídeo do @michaelmina_lab , outro pesquisador que defende a utilidade do teste rápido de antígeno desde o começo

✅Segunda onda na europa chegou com tudo. em alguns países dando uma indicação lenta e subindo e todos tentando ignorar-la, apesar dos profissionais de saúde gritarem nas redes sociais e etc. Outros países a subida foi "repentina" e aqui destaco a Italia. A pandemia agora surge
em todas as regiões e inclusive nas mais afetadas. Colegas na região da Lombardia, incluindo Bergamo, Lodi e Milão dizem que parece ser até pior q a primeira.
Com medidas de restrição, algumas áreas já começam a dar sinais de controle (eg Madrid q passou por um 2ndo colapso)
✅ Epidemiologia: Muito do conhecimento gerado continua valendo sobre as dinâmicas da doença, tempos, e tudo o que vínhamos descobrindo. Um risco maior gravidade vem se confirmando em gestantes. Talvez a transmissão por fomites seja pequena. Esqueci algo, se lembrar coloco depois
✅ Tratamentos
Depois do corticóide (agora estamos testandos diferentes doses), nada de novo no fronte.
3 trials recentes mostraram que o tocilizumab não foi efetivo. o que sabemos da transfusão de plasma enriquecido também tem sido sem efeito, inclusive o trial de anticorpo
monoclonal em doentes hospitalizados parou por futilidade. Rendesivir ainda uma incógnita. Suspeita grande de influência da indústria para aprovação no FDA. Outros tratamentos também sem grandes expectativas. Isso tudo é esperado, infeções respiratórias graves virais são assim.
Algo que pode ser revolucionário para poucos são anticorpos monoclonais precoces, tipo o que o Trump recebeu. Trials fase 2 promissores, mas ainda temos que ver efetividade clínica, efeitos colaterais e tudo mais.
Remdesivir

o maior, sem efeito, é o SOLIDARITY da WHO ainda pre-print.

nejm.org/doi/full/10.10…
nejm.org/doi/full/10.10…
Tocilizumab (tem trial brasileiro em revisão)

nejm.org/doi/full/10.10…

Ótimo editorial e uma tabela resumo no @JAMAInternalMed

jamanetwork.com/journals/jamai…
✅ Mutações: Não se assustem. Essa semana tivemos 2 notícias q trouxeram burburinho: uma variante q dominou parte da segunda onda na Europa e a mutação dos minks na Dinamarca. Vou colocar 2 fios. Mas no geral as mutações vão ocorrer, o vírus replica

muito, etc. Até agora nada de realmente importante, tanto clinicamente para pacientes quanto populacional, foi demonstrado. Talvez a variante da Europa se transmita mais fácil, talvez uma mutação tenha uma apresentação clínica diferente, mas dados ainda não replicados. Não é
minhs área de expertise, mas acho q o bordão que o vírus que se transmite muito e causa o que causou como o Sars-CoV-2, ele em geral gera boa resposta imune e, esperamos, costuma ser mais estável por um período. Que pode ocorrer uma mutação e deixá-lo pior em algum aspecto, sim.
Algo que lembrei da Epidemiologia: Rastreio retrospectivo. Isso começou no Japão, como já falado pelo @ThomasVConti lá no começo e se mostra cada vez mais efetivo. Hoje o grupo de controle do Japão tem feito palestras mundo afora ensinando como fazem

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1 Nov
E a reação cruzada da sorologia para Sars-CoV-2 e Dengue?

Debatemos bastante no começo mas ainda faltavam dados. Um fio breve sobre o que venho lendo:

- Ainda faltam dados
- Parece existir reação cruzada, principalmente para testes rápidos e IgM
- Temos alguns dados brasileiros
Neste estudo, que avaliou 11 testes disponíveis para COVID (vale a pena ver a performance dos mesmos), testou-se também 20 amostras de dengue do começo de 2019, ou seja, antes da epidemia (ie, não tem como serem COVID)

medrxiv.org/content/10.110…

Parabéns às autoras e autores.
- 20 casos de dengue foram testados com 4 kits de COVID

Alguns testes tiveram especificidade de 80%, ou seja, casos sabidamente dengue e não covid, deram positivo para covid, especialmente IgM. Se isso se confirma, podemos ter sim falsos positivos nos inquéritos sorológicos e tb
Read 20 tweets
28 Oct
Uma linhagem do Sars-CoV-2 vem predominando na Europa

-Inclui mutação da Spike
-Não sabemos se é um fenômeno porque ela consegue se transmitir mais facilmente ou fatores epidemiológicos
-Ainda sem dados se causa doença mais/menos grave
-Aparentemente se expandiu da Espanha
Aqui um fio de um dos autores, o grande Iñaki @icoes

Embora ela venha predominando, ainda existem muitas linhagens circulando
Read 5 tweets
22 Oct
Pesquisadores foram buscar o Sars-CoV-2 em amostras da cidade de Belo Horizonte

-Abril e Junho de 2020
-933 amostras de 8 tipos de locais diferentes (hospitais, praças, parques, terminal de ônibus, banco, etc)
- Metal, plástico, madeira, concreto
-5% das amostras foram positivas Image
E, como esperado, áreas em hospitais/serviços de saúde (ou próximas a eles) foi a principal área entre os positivos, seguido de praças públicas Image
O tipo de material também influenciou. Os pesquisadores correlacionaram material e fonte. Image
Read 6 tweets
11 Oct
Descrição de um cluster de 19 casos COVID19 no Brasil

Muita gente já escutou famílias inteiras que se infectaram, às vezes internados, ou de uma festa de onde surgiram muitos casos. Já descrito em outros países e o fenômeno de super-propagadores👇

19 confirmados e 21 prováveis
Esse artigo relata 5 famílias que fizeram o isolamento na região costeira do Brasil e se dividiam em 2 casas.
O caso índice provável foi a/o babysitter, numa exposição de 2 horas na fila do banco. Os 5 funcionários dividiam o mesmo quarto, assim q do caso índice, correlacionando
os tempos da doença (intervalo serial, tempo de incubação... falo mais no fio abaixo), foi por onde provavelmente a transmissão se dissipou, embora certamente outros membros tinham contato entre si e entre as casas. 17 dias desde o primeiro ao último caso.
Read 11 tweets
9 Oct
Quais os fatores de risco para morrer na Suécia do começo da pandemia por lá até Maio?

-Estudo populacional (7.9 milhões de pessoas) na @NatureComms
-Óbitos COVID19 e outras causas

Maior risco em:
⬆️ Imigrantes, baixa renda e menos educação
⬆️ Não estar casado

Conclusão 👇 Image
O estudo usa as bases populacionais da Suécia que são incríveis de uma longa data. Toda integrada, com identificador único, onde se pode saber toda trajetória, renda individual, educação, etc. Image
Todos os modelos estão ajustados por idade e completos no suplemento. O tempo de seguimento ainda é curto mas reflete o primeiro momento da pandemia. Image
Read 5 tweets
8 Oct
Saiu no @NEJM o trial de tratamento com HCQ para COVID19. Como já sabíamos do pre-print:

- Nenhuma evidencia de benefício em mortalidade
- Evidencia de maior risco para os pacientes.
Mais de 90% dos pacientes com COVID confirmados, tamanho de amostra grande com poder, maior excesso de óbitos por causa cardíaca.
Sem evidencia de beneficio em subgrupos, aliás, quase todos apontando para risco.
Desfechos secundários: menor chance de sair de alta do hospital em 28 dias e maior chance de necessitar de ventilação mecânica ou morrer.
Read 6 tweets

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