Primeiro, golpe simbólico: o bolsonarismo veio à sombra do trumpismo, imitou suas táticas, importou suas narrativas. Bolsonaro terá que se agarrar a outros referenciais daqui em diante.
Mas a maior vítima é a política externa 👇🏼
Já disse, aqui, que o comportamento irresponsável de Bolsonaro coloca o 🇧🇷 em posição de fragilidade.
Nenhum presidente deveria fazer campanha em eleições alheias. Isso é óbvio e está na CF-88.
Além de torcer pra Trump, comprou, sem ressalvas, a narrativa de fraude eleitoral 👇🏼
E a cereja do bolo é a demora em reconhecer a vitória do democrata, ao passo que praticamente todos os países já o fizeram - inclusive aliados 🇭🇺🇮🇳🇮🇱
A diplomacia é feita de sinalizações. Os democratas sabem que terão um presidente hostil e terrivelmente trumpista por aqui 👇🏼
A soma desses fatores submete nosso país a um isolamento sem precedentes.
Justo o Brasil, cuja força da política externa sempre esteve no pragmatismo e na capacidade de manter boas relações com todo o mundo.
Vejamos, em três partes, como essa situação poderá nos prejudicar 👇🏼
1) No plano multilateral, esvaziam-se as iniciativas ultraconservadoras capitaneadas pelos populistas globais (incl. Bolsonaro).
Aliança pelas famílias, combate à cristofobia, obstrução de debates sobre gênero e saúde reprodutiva, políticas antimigratórias, tudo perde força 👇🏼
Se o governo brasileiro já era voto vencido nos organismos internacionais e vinha se alinhando a ditaduras religiosas para avançar certas pautas, agora a situação será ainda + constrangedora: teremos que assumir, quase sozinhos, o custo de defender políticas iliberais na ONU 👇🏼
2) No plano regional, a situação é grave: os aliados históricos 🇺🇸, como a Colômbia, continuarão próximos.
Para recompor o lugar do Brasil na região, teríamos que contar c/nossa parceria com a 🇦🇷, fortalecendo a integração...
...se Bolsonaro não tivesse brigado com o vizinho 👇🏼
Bolsonaro terá que mudar a retórica inflamada contra a Venezuela. Biden não deve bancar nenhuma solução militar contra Maduro.
E o Brasil não poderá arcar sozinho com o custo de querer um conflito na sua fronteira. Os EUA devem dar novo encaminhamento p/a situação de Guaidó 👇🏼
3) As relações Brasil-EUA devem começar com o pé esquerdo (rs) a partir de 2021.
Não só pela animosidade entre Biden e nosso Trump tropical: reparem que os 4 temas que o democrata definiu como prioritários para seu governo podem afetar diretamente as relações bilaterais 👇🏼
O encaminhamento da crise econômica exigirá de Biden uma nova relação com a China, em que a acomodação deve substituir a confrontação direta. Isso abrirá oportunidades políticas e comerciais para Bolsonaro, que só poderá aproveitá-las com pragmatismo - que não temos há 2 anos 👇🏼
A ênfase de Biden nas mudanças climáticas certamente constrangerá Bolsonaro. A menção pouco elogiosa ao 🇧🇷 no debate presidencial sugere que o democrata tentará associar aquecimento global à devastação ambiental - tirando o peso dos combustíveis fósseis, por questões políticas 👇🏼
A promessa de Biden de encaminhar a pandemia a partir da ciência é um problema para Bolsonaro, que se torna o único presidente de um grande país que é, ao mesmo tempo, negacionista ambiental E SANITÁRIO.
O 🇧🇷 se isola ainda mais nos debates multilaterais sobre saúde global 👇🏼
Justiça racial é também um tema contencioso com o Brasil. Claro que o foco de Biden é doméstico, mas nada impede que os 🇺🇸 tragam direitos humanos e racismo para o centro do debate internacional.
Enquanto isso, autoridades brasileiras seguem insistindo que racismo é vitimismo👇🏼
Como o 🇧🇷 equacionará essas questões? Pelo andar da carruagem, Bolsonaro terá dificuldades em fazer o óbvio: moderar o discurso e ser pragmático frente ao novo quadro internacional. Isso porque certos assessores, ministros e militantes realmente acham que Biden é o anticristo 👇🏼
Como Bolsonaro já abraçou o centrão e conseguiu acalmar a seita barulhenta, pode ser que ele consiga dar esse passo. Mas não acho que isso possa acontecer sem uma mudança de quadros no governo. Araújo e Salles terão que sair. Caberá à Damares seguir travando a guerra cultural 😎
A esse respeito, leiam a excelente @Deisy_Ventura na Folha de hoje:
Há 1 razão fundamental p/um presidente não fazer campanha p/outro, além do óbvio respeito à boa diplomacia: se a torcida der errado, colocam-se as relações bilaterais em risco.
Bolsonaro quis ser cabo eleitoral de Macri 🇦🇷, Bibi 🇮🇱 e Trump 🇺🇸. Ele não costuma dar muita sorte 👇
O + surpreendente é Bolsonaro dobrar a aposta, mesmo quando a estatística joga contra ele.
A implicância c/o governo "socialista" do país vizinho levou ao pior período das relações 🇧🇷🇦🇷 em 4 décadas.
O caso 🇺🇸 é ainda + estranho. Bolsonaro segue em campanha aberta por Trump 👇
Já seria suficientemente ruim se Bolsonaro tivesse se calado semanas atrás, quando disse que torcia por Trump.
Com a menção inédita e pouco elogiosa no debate à política ambiental brasileira, Biden deixou clara sua insatisfação com o Trump tropical.
Às vésperas da eleição norte-americana, possivelmente a mais decisiva da nossa geração, gostaria de (novamente) recomendar algumas arrobas que entendem MUITO do assunto e poderão ajudá-l@s a decifrar a loucura do sistema eleitoral e da política 🇺🇸 👇
Mais uma #UNGA , mais 1 discurso presidencial, mais 1 tonelada de matéria bruta para entendermos as narrativas políticas do governo.
Esse fio é pra comentar algumas (grandes) inconsistências do discurso de Bolsonaro, tão defensivo e quase tão agressivo quanto o do ano passado 🧵
"É uma honra abrir esta Assembleia c/os representantes de nações soberanas, num momento em que o mundo necessita da verdade p/superar seus desafios"
Era previsível que abrisse o discurso c/as 2 palavras + banalizadas desse governo: "soberania" e "verdade". Não significam nada.
"A covid-19 ganhou o centro de todas as atenções ao longo
deste ano e, em 1º lugar, quero lamentar cada morte ocorrida"
Finalmente ele lamentou "cada morte ocorrida" sem culpar governadores, imprensa ou o PT! Mas será que ele está falando das 971.879 no 🌎 ou das 137.445 do 🇧🇷?
Sou fã incondicional da música dos anos 80 - década em que o brega virou tendência, os sintetizadores ocuparam o lugar das guitarras e a bateria era de mentirinha.
Mas faço essa thread aleatória para falar de 1991, um marco absoluto da história do rock, em 10 pontos 📀🎸🎵:
1) Primeiro, o lado dramático: 1991 viu o último grande álbum de 1 gigante do rock clássico, Queen.
As maiores bandas dos anos 70 não sobreviveram à "década perdida".
Com Innuendo, Queen conseguiu 1 disco acima da média para a época.
E Freddie morreria em novembro daquele ano.
2) 1991 também foi o canto do cisne para o rock progressivo. Genesis, que passou por várias mutações depois da saída de Peter Gabriel, lança seu último disco c/Phil Collins.
Com sólida carreira solo entre o pop e o jazz, o baterista-vocalista tinha ficado maior que a banda.
Para quem acha que esse governo está realmente preocupado com o 🇱🇧, uma historinha:
Há exatamente 1 ano, a imprensa repercutiu decisão do presidente @jairbolsonaro de se retirar da Força da ONU no Líbano, a UNIFIL, cujo braço naval é comandado pela Marinha brasileira desde 2011.
A Marinha justificou a decisão por questões operacionais e orçamentárias. Temos que considerar que o Líbano e grande parte do O. Médio (exceto aliados dos EUA, 🇮🇱🇸🇦), deixaram de ser prioridade p/o Brasil. Assim, claro, como qualquer iniciativa da ONU.
Mas há outra versão, a de que a saída teria sido pedida diretamente a Bolsonaro pelo premiê de 🇮🇱, @netanyahu. Para agradar o aliado, o 🇧🇷 reconheceria o Hezbollah como grupo terrorista, mudaria a embaixada p/Jerusalém e abandonaria a UNIFIL até dez/2020.