Ontem, escrevi um par de tweets, irritado, sobre o que me parece ser uma narrativa de endeusamento de um jovem militante do partido do Voldemort do Algueirão. Vou abrir uma pequena thread sobre este assunto, agora com mais calma.
Nas respostas aos tweets, algumas pessoas vieram-me dizer que a manifestação do pessoal da restauração, e a organizada pelo jovem, era manifestações distintas. Andei à procura de informação que me esclarecesse isto, mas não encontrei.
Mesmo assim, dou o benefício da dúvida a quem me disse isso, e sou "forçado" a estabelecer dois cenários para o que aconteceu ontem:
Cenário 1: O que ontem, irado, escrevi (com um erro de português que ainda me está a assombrar - obrigado @iAModp ;)
Este cenário é que, ao contrário do que nos querem fazer crer, é impossível que uma só pessoa possa, em cinco dias, ter tratado de toda a logísitica para organizar tal manifestação ontem no Rossio
Cenário 2: Que o jovem militante do partido do Voldemort do Algueirão tenha tido a capacidade, por si só, de se infiltrar numa manifestação organizada à parte, pelo sector da restauração lisboeta.
Um dos argumentos para endeusar o Ljubo é que o homem passou por uma guerra, que "diz as verdades", que "tem tomates para enfrentar o governo", e que "a ele ninguém lhe come as papas na cabeça"
Seria bastante irónico que um puto de 21 anos militante do Voldermort do Algueirão tivesse feito farinha com o Ljubo, ao realizar o hijack de uma manifestação, com direito a usar a infraestrutura daquela manifestação.
Talvez a realidade seja um misto destes dois cenários, em que o poder de organização de um partido - com forte presença nas redes sociais através de páginas, grupos, e canais - se tenha juntado a um chef-estrela com sede de protagonismo.
Que algumas figuras públicas tenham dado o seu apoio a tudo isto, diz-nos muito do imediatismo dos tempos que correm. Que a organização do sector da restauração Lisboeta, tenha sido comido de cebolada por um partido radical, diz-nos muito sobre o perigo que todos enfrentamos.
Umas últimas palavras sobre as ameaças físicas e verbais feitas a jornalistas na tarde de ontem:
Quem incentivou à violência é figura pública, e está identificado. Compete aos jornalistas agora, sem demoras, apresentarem queixa, sob pena de serem coniventes pela inacção.
Independentemente se gostamos, ou não, do orgão de comunicação social cujos jornalistas sofreram aquelas ameaças físicas e verbais, não existem atenuantes para o que aconteceu: é crime e não é tolerável.
Podemos discutir, e devemos discutir, o papel dos media no crescimento destes fenómenos no nosso país, a maneira como tratam estes assuntos, a maneira como produzem conteúdos que são gasolina num incêndio que já arde com intensidade.
O que não podemos, na minha opinião, é aceitar este tipo de comportamentos porque não gostamos do OCS em questão, porque quando acontecer com um OCS pelo qual temos simpatia, talvez já seja tarde.
Este é um exercício baseado em dados, dados esses disponibilizados pela @DGSaude, até dia 26 de Outubro de 2020.
É uma visão alternativa do que tem sido proposto, do que tem sido feito, e do que tem sido divulgado.
Vale o que vale mas, sendo crítico do que está a ser feito, não poderia deixar de tentar contribuir para uma solução ou, pelo menos, para o início de uma discussão que merece ser feita, na minha opinião.
A 03 de Agosto, a situação não era de milagre no nosso país. Aliás, nunca existiu milagre, como até os próprios defensores do milagre já vieram defender e, na minha opinião, era esta a altura para começarmos a tomar medidas.
Acabei agora de ler o artigo do @danielolivalx hoje no @expresso, com o título "No desespero, decide-se bem com boa informação".
Em comum, com o que é escrito pelo @danielolivalx, tenho a preocupação de se estarem a tomar decisões assentes em dados que não são granulares o suficiente para se tirarem conclusões. Como eu, e muitos outros já referimos, juntar coabitantes e familiares na mesma fatia, é errado
Também carecem de validação os outros principais factores de contágio, que foram mudados no espaço de três dias, sem que ninguém tenha questionado as entidades competentes sobre essa mudança:
Será verdade que a @DGSaude pediu para as pessoas fecharem os vidros dos carros na A28?
Vou deixar aqui umas pistas:
1. A imagem não foi manipulada. Foi transmitida hoje no jornal da tarde da @SIConline, e a pessoa que está na imagem é a Teresa Leão
2. Esta investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, diz enquanto enumera conselhos práticos que "circular de janelas fechadas pode ser uma boa alternativa também"
O que acontece quando não existem dados públicos, é que cada OCS escreve o que quer, baseado no que quiser, e não há hipótese de contraditório.
Isto quer dizer que, neste momento, a @DGSaude é uma enabler de notícias falsas, por pura falta de transparência.
Com vários OCS, locais e regionais, a avançarem com números que ninguém sabe de onde vêm, estão a colocar várias populações em níveis de ansiedade evitáveis.
Esperar "pelo momento certo" soa a estratégia política, não a ciência ou saúde pública.
Esta "estratégia" (estou a ser simpático) de guardar dados, de não os divulgar, de não ser transparente, vai trazer muitos maus resultados. Ninguém vai compreender que a uma 2ª feira sejam 121 concelhos, e a uma 6ª passem a 280. É assim que se perde credibilidade.
Hoje de manhã já confessei à @Idzabela, ao @tomahock, e ao @camandro que até eu próprio estou farto de me ler a escrever sobre os dados que (não) temos sobre a #COVID19PT em Portugal. Mas por mais farto que esteja, e que alguns (muitos?) de vocês estejam, abro uma thread:
O primeiro relatório de situação, com a confirmação de casos em Portugal, foi divulgado no dia 03 de Março de 2020.
A 24 de Março, os relatórios diários passaram a incorporar os os novos casos por concelho, que são divulgados diariamente.