Estamos todos felizes com mais uma vacina mostrando eficácia (provável: espero publicação de dados e fim de seguimento)
Três pensamentos rápidos:
1 - Como pode ser outra vacina ter eficácia >90%?
2 - O que estamos protegendo com a vacina?
3 - Como vamos distribuir? #useMascara
Otavio, mas temos que esperar a publicação final e seguimento para comemorar de verdade? Sim
Você já viu mudanças, ou quando sai o artigo, as coisas não eram assim como falado na press-release? Sim
Devido ao que estamos vivendo no mundo, porém, seria improvável que as empresas
estariam blefando, por várias razões.
Também é bem provável que mesmo ao final do seguimento a eficácia se mantenha, os modelos bayesianos que se construíram simulando o que relataram mostram boa margem (o trial da pfizer é baysiano).
1 - Um caso interessante estas duas terem >90%:
neste caso da Pfizer e da Moderna, elas são muito parecidas e os desfechos primários também são parecidos, assim, o que se anunciou hoje é um ótimo caso para reproducibilidade. o que sempre é ótimo em pesquisa.
2 - Vacinas podem proteger contra:
- Infecção
- Ter sintomas
- Ter doença grave
- Transmissão 👀
Nos trial, basicamente, estamos medindo ter sintoma/ter doença grave. o que é excelente. MAS, se as vacinas não conseguirem bloquear a transmissão, até vacinarmos muita gente (mas muita gente), as recomendações máscara, lavar a mão, isolar se sintomas, seguirão por um bom tempo.
E para proteger e bloquear a transmissão?
precisamos, a princípio, que tenhamos proteção na mucosa respiratória de vias aéreas altas, tipo nariz. E lá são imunoglobulinas do tipo A que mais trabalham. As vacinas anunciadas parecem ñ ter boa resposta em mucosa, o q é esperado
isso tb já se viu em modelos animais. Algumas vacinas com spray nasal estão avançadas, veremos.
Também provavelmente se tentará medir se as vacinas que diminuem doença, também diminuem transmissão, o que é difícil é ter poder no estudo para estudar isso.
E se for o caso de não conter transmissão, os vacinados então: podem ser transmitindo ao se infectar, talvez terão menos carga viral, talvez menos super propagadores🙏.
Talvez teremos mais assintomáticos que transmitem. Claro que prefiro vacina com eficácia em qualquer daqueles
níveis, mas a pandemia pode seguir mesmo com vacina eficaz, que perdure por um período, até termos vacinado grande parte da população, o que vai demorar.
3 - E quem começar a vacinar primeiro?
Aqui é uma questão biológica, epidemiológica, logística, financeira e política. A cadeia de vacinas e programas de vacinação é algo bem complexo e que conhecemos bem. A própria instalação da mesma promove melhoria no sistema de saúde, como
efeito indireto de melhoria via programas de vacinação. Mas assumindo que vc tem vacinas para dar, a escolha depende, em parte, do tipo de eficácia observada.
Se for gravidade da doença, deveríamos priorizar os com mais risco de doença grave (idosos, comorbidade, prof. saúde).
Se for diminuir transmissão, deveríamos priorizar, por exemplo, pessoas jovens que se movimentam mais e assim bloquear a transmissão mais rápido. Caso houvesse surtos, em algumas outras doenças, se faz um "bloqueio vacinal".
Nem tudo é dicotômico, só coloco uma ideia geral.
É nisso que as pessoas que tem poder de decisão deveriam estar pensando ou falando com quem entende do assunto para ajudar. Se chegarem milhões de doses no Brasil amanhã, já temos um plano?
Aqui uma modelagem sobre. Veja que levam em conta também o quanto a vacina é eficaz, e não somente, onde ela é eficaz.
Vou fazer um fio com um ultra-resumo das últimas novidades da pandemia e COVID-19 👀
💟 Testes
✅ Segunda onda Europa
✅ Epidemiologia
✅ Tratamentos
✅ Mutações
A vida está bem corrida e vou listar algumas fontes e artigos. Para muitas coisas, vários fios excelentes já foram feitos. Também desculpa por não conseguir responder aos contatos em tempo hábil.
💟 Testes
A grande novidade dos testes é o teste rápido de antígeno. Ele deu a largada na pandemia meio que enferrujado, a maioria não acreditando muito no seu potencial. Porém, ele não foi deixado de lado e fomos estudar-lo melhor. Aqui um ponto que falo desde o começo é que
E a reação cruzada da sorologia para Sars-CoV-2 e Dengue?
Debatemos bastante no começo mas ainda faltavam dados. Um fio breve sobre o que venho lendo:
- Ainda faltam dados
- Parece existir reação cruzada, principalmente para testes rápidos e IgM
- Temos alguns dados brasileiros
Neste estudo, que avaliou 11 testes disponíveis para COVID (vale a pena ver a performance dos mesmos), testou-se também 20 amostras de dengue do começo de 2019, ou seja, antes da epidemia (ie, não tem como serem COVID)
- 20 casos de dengue foram testados com 4 kits de COVID
Alguns testes tiveram especificidade de 80%, ou seja, casos sabidamente dengue e não covid, deram positivo para covid, especialmente IgM. Se isso se confirma, podemos ter sim falsos positivos nos inquéritos sorológicos e tb
Uma linhagem do Sars-CoV-2 vem predominando na Europa
-Inclui mutação da Spike
-Não sabemos se é um fenômeno porque ela consegue se transmitir mais facilmente ou fatores epidemiológicos
-Ainda sem dados se causa doença mais/menos grave
-Aparentemente se expandiu da Espanha
Aqui um fio de um dos autores, o grande Iñaki @icoes
Pesquisadores foram buscar o Sars-CoV-2 em amostras da cidade de Belo Horizonte
-Abril e Junho de 2020
-933 amostras de 8 tipos de locais diferentes (hospitais, praças, parques, terminal de ônibus, banco, etc)
- Metal, plástico, madeira, concreto
-5% das amostras foram positivas
E, como esperado, áreas em hospitais/serviços de saúde (ou próximas a eles) foi a principal área entre os positivos, seguido de praças públicas
O tipo de material também influenciou. Os pesquisadores correlacionaram material e fonte.
Descrição de um cluster de 19 casos COVID19 no Brasil
Muita gente já escutou famílias inteiras que se infectaram, às vezes internados, ou de uma festa de onde surgiram muitos casos. Já descrito em outros países e o fenômeno de super-propagadores👇
19 confirmados e 21 prováveis
Esse artigo relata 5 famílias que fizeram o isolamento na região costeira do Brasil e se dividiam em 2 casas.
O caso índice provável foi a/o babysitter, numa exposição de 2 horas na fila do banco. Os 5 funcionários dividiam o mesmo quarto, assim q do caso índice, correlacionando
os tempos da doença (intervalo serial, tempo de incubação... falo mais no fio abaixo), foi por onde provavelmente a transmissão se dissipou, embora certamente outros membros tinham contato entre si e entre as casas. 17 dias desde o primeiro ao último caso.
Quais os fatores de risco para morrer na Suécia do começo da pandemia por lá até Maio?
-Estudo populacional (7.9 milhões de pessoas) na @NatureComms
-Óbitos COVID19 e outras causas
Maior risco em:
⬆️ Imigrantes, baixa renda e menos educação
⬆️ Não estar casado
Conclusão 👇
O estudo usa as bases populacionais da Suécia que são incríveis de uma longa data. Toda integrada, com identificador único, onde se pode saber toda trajetória, renda individual, educação, etc.
Todos os modelos estão ajustados por idade e completos no suplemento. O tempo de seguimento ainda é curto mas reflete o primeiro momento da pandemia.