Eu queria poder, no #DiadaConscienciaNegra , falar sobre nós. Sobre cultura, arte, poder e legado, e a eternização da nossa história por nós, que sofremos com uma historiografia embranquecida que fez de tudo pra nos apagar.
Mas somos atravessados por Carrefour e mais uma morte.
20 de Novembro deveria ser uma data para exaltar e relembrar Zumbi. Sua figura representando a luta, a resistência e estratégia de todo um povo que foi violentado e escravizado.
Mas, atravessados por mais um assassinato, Não foge à mente como Zumbi foi brutalmente assassinado.
Queria poder falar do samba, da sua identidade, ligação com o morro e seu poder formador da cultura brasileira.
Mas não temos esse direito no dia 20. Somos obrigados a lembrar que o samba denunciou violências, assassinatos e abandono do estado nos morros. Foi a nossa voz.
Queria pensar em Martin Luther King Jr, Fred Hampton e Malcolm X, e como o povo negro se liga além das fronteiras nacionais. O legado histórico e as estruturas que esses homens abalaram, mas não temos esse direito.
Hoje lembramos que todos eles foram assassinados.
Queria exaltar e agradecer por tudo que fez e representa Marielle Franco. Seu nome, eternizado, simboliza a luta da mulher negra no Brasil, a que conhece o peso da injustiça mais do que todos. E resiste.
Mas hoje, somos obrigados a lembrar que encerraram sua vida.
Queria pensar no Hip-hop, seu poder transformador e sua capacidade de ser em suas letras, ricas fontes históricas.
Mas hoje, dia 20 de Novembro, atravessados por um assassinato no carrefour, lembramos do Hip-Hop como uma arte que denuncia há décadas que estão nos matando.
Quando morre um de nós, lembramos de vários outros.
E lembramos como o sistema protege e perpetua a normalização da nossa morte.
Cadê os assassinos (mais de 80 tiros) de Evaldo? Cadê os responsáveis pela morte da Ágatha Félix? e do João Pedro?
O Estado individualiza os casos, afasta quem puxou o gatilho, mas mantém as engrenagens funcionando. Nós vivemos em um país que se formou sobre sequestro, morte e estupro e escravidão. Os resquícios disso recaem em pessoas como Beto, assassinado brutalmente por nada.
Não tem feliz dia da consciência negra. A tag #VidasNegrasImportam tá sendo novamente levantada no dia que deveria ser para nós, povo preto, exaltar o povo preto.
Não há paz, eu não aguento mais ver isso acontecer. Não aguento viver todos os dias temendo por mim e pelos meus.
Se cuidem. Sobrevivam. Nós estamos sozinhos nessa merda de lugar.
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No país que não há racismo e estão tentando o importar pra cá, completam-se hoje 110 anos da Revolta da Chibata.
Marinheiros negros tomam o controle dos mais poderosos navios da marinha e apontam os canhões para a capital do Brasil (Rio) após um marinheiro sofrer 250 chibatadas.
A marinha brasileira, relegada ao abandono após a Guerra do Paraguai, se vê em meio a um Brasil explodindo em revoltas nos primeiros anos da república, desfalcando cada vez mais as forças armadas. Dessa forma, negros e pobres são cada vez mais recrutados para a marinha.
Repleta de marujos negros, a marinha parecia não ter se tocado que a escravidão foi findada 22 anos antes, e importou para si não só tratamento, como condições de trabalho e também castigo semelhantes ao modelo escravista.
É parte do projeto desmobilizatório o contato frequente com a morte para a naturalização da mesma.
Eu cresci em uma comunidade onde parte significativa dos garotos que jogaram bola comigo, morreram em esquinas próximas à minha casa. Lá ficavam, e todos nós víamos.
A primeira vez é traumatizante, a segunda também, a terceira nem tanto, até acostumar. Não com a morte, mas com a tristeza, a frequência.
Eu vi primo, tio, amigo, colega, vizinho, todos morrendo nesse projeto que na prática não faz nada além de tirar vidas. Inclusive inocentes...
Esse povo que sofre com a morte, é o povo que não tem tempo pra pensar sobre ela. Precisa sobreviver, e sobrevive no limite. Jornadas imensas de trabalho, salários mínimos, às vezes menos que o mínimo.
É preciso comer. Há bocas para alimentar. Como processar os traumas?
O @pretozeze falou no Roda Viva algo que penso há tempos e me chamou atenção: a falta de análise que gera a fala preconceituosa sobre o voto do povo carioca.
A atuação nas urnas do carioca do subúrbio, da favela, muitas vezes não se trata nem de voto, mas de pequenas conquistas.
O @pretozeze falou coerentemente sobre a atuação e influência de grupos armados.
A presença de tráfico e milícia é sintoma da ausência do estado. E a ausência é total. Presença física, serviços, estrutura.
A mudança de representação no Estado para muitas pessoas nada significa.
Para quem não tem saneamento básico decente e só tem serviços básicos precários (quando não negados), pouco importa o prefeito. Às vezes, importa um pouco, o vereador.
O cara da comunidade que vai botar um poste, fechar um esgoto, inaugurar um campinho de futebol com churrasco...
O Agente Laranja, usado pelos EUA, foi a arma de mais um dos vários crimes cometidos no Vietnã, o ambiental, até hoje causando impactos na natureza e na vida das pessoas.
Crimes contra a humanidade, contra a natureza e Guerra do Vietnã nessa thread com algumas imagens fortes:🧵
O Vietnã, dividido entre norte (Hanói) e sul (Saigon), tem a interferência dos EUA em seu processo de independência após os "Viet Minh", liderados por Ho Chi Minh, vencerem a França e os expulsarem do país.
Os EUA interferem patrocinando, treinando e enviando soldados para fortalecer Saigon.
O objetivo é anticomunista: derrotar Hanói, Ho Chi Minh e os Vietcongs (anteriormente Viet Minh)
Goste ou não, o capitalismo na América Latina sempre esteve debaixo do arbítrio do imperialismo, e não se fala em democracia quando o liberalismo ensina a jogar pessoas pretas dentro da prisão para serem mãos de obra de empresas que lucram com o encarceramento.
Quando países da América Latina demonstram qualquer sinal de "ameaça" aos interesses do imperialismo, o que ocorre? Intervenção!
Brasil (1964), Chile (1973), Uruguai (1974) e Argentina (1976) são exemplos.
Achar que vive em um Estado capitalista independente é ingenuidade.
Sim, os EUA de Lyndon B. Johnson têm papel preponderante no golpe de 64.
Um ou dois discursos de Jango favoráveis a uma reforma agrária vira ~ameaça comunista~ e dá em golpe que culmina em duas décadas de autoritarismo, tortura e assassinatos.
Liberalismo não é assassino, sei...
Por que antagonizar Martin Luther King e Malcolm X é perpetuar uma prática racista?
A suposta influência de ambos em X-Men, posteriormente atribuída à relação entre T'Challa e Killmonger em Pantera Negra faz sentido?
Minha ideia sobre isso aqui 👇🏿👇🏿
O maior inimigo do racismo é a organização do povo negro. Tanto no Brasil, como nos EUA, a história mostra o poder de mudança e combate do povo negro quando conscientizados e mobilizados.
O modus operandi racista visa antagonizar e dividir, para que enfraqueça assim a nossa luta
Durante séculos de luta contra a escravização no Brasil, nomes como Ganga Zumba e Zumbi dos Palmares tornam-se símbolos de orgulho, resistência e esperança para o povo negro.