No país que não há racismo e estão tentando o importar pra cá, completam-se hoje 110 anos da Revolta da Chibata.
Marinheiros negros tomam o controle dos mais poderosos navios da marinha e apontam os canhões para a capital do Brasil (Rio) após um marinheiro sofrer 250 chibatadas.
A marinha brasileira, relegada ao abandono após a Guerra do Paraguai, se vê em meio a um Brasil explodindo em revoltas nos primeiros anos da república, desfalcando cada vez mais as forças armadas. Dessa forma, negros e pobres são cada vez mais recrutados para a marinha.
Repleta de marujos negros, a marinha parecia não ter se tocado que a escravidão foi findada 22 anos antes, e importou para si não só tratamento, como condições de trabalho e também castigo semelhantes ao modelo escravista.
Por isso, quando Baiano recebe 250 chibatadas à vista de todos os marujos, é o estopim para a Revolta da Chibata, liderada por João Cândido, o "Almirante Negro".
Falo mais sobre ele aqui
Com os encouraçados tendo os canhões apontados para o Rio de Janeiro em ameaça ao governo pelo fim do tratamento racista, a elite da cidade foge às pressas em direção ao subúrbio, para longe do conflito.
O subúrbio faz o caminho contrário, se juntando à luta dos homens negros.
Quatro dias de tensão e os marinheiros conseguem o fim da chibata e a anistia pelo governo. A revolta tem seu fim. Pouco tempo depois, a traição vem pelas mãos do governo. Vários serão mortos e presos. João Cândido sobrevive, mas os traumas o perseguirão até o dia de sua morte.
No país que não existe racismo, uma das suas maiores histórias de revolução não é contada tampouco lembrada.
João Cândido, um dos grandes personagens da história do Brasil, passou o fim da sua vida em São João de Meriti após ser sabotado diversas vezes de conseguir empregos.
Foi esquecido, abandonado e marginalizado pela história.
Sua anistia póstuma ocorre apenas em 2008, proposta por @MarinaSilva e sancionada pelo então presidente @LulaOficial, reparando uma das maiores injustiças que o Brasil já fez a um dos seus heróis.
No país que não existe racismo, Aldir Blanc e João Bosco, na música "Mestre sala dos mares", são censurados pela ditadura pela sua letra, cheia de impulsos políticos. Teve que substituir "Almirante Negro" por "navegante negro".
open.spotify.com/track/5SvGJbg7…
Segundo o próprio Aldir Blanc, um dos censores o disse: "O que tá pegando mais não é o lado político, e sim a questão da exaltação da raça, porque essa música faz uma tremenda apologia ao negro"

Esse é o país que não conhece o racismo.
No país que "não existe racismo", o dia 22 de novembro não vai ser esquecido aqui.
Salve o ALMIRANTE Negro. Salve os marujos da Revolta da Chibata.

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More from @ReTintaPreta

20 Nov
É parte do projeto desmobilizatório o contato frequente com a morte para a naturalização da mesma.
Eu cresci em uma comunidade onde parte significativa dos garotos que jogaram bola comigo, morreram em esquinas próximas à minha casa. Lá ficavam, e todos nós víamos.
A primeira vez é traumatizante, a segunda também, a terceira nem tanto, até acostumar. Não com a morte, mas com a tristeza, a frequência.
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Esse povo que sofre com a morte, é o povo que não tem tempo pra pensar sobre ela. Precisa sobreviver, e sobrevive no limite. Jornadas imensas de trabalho, salários mínimos, às vezes menos que o mínimo.
É preciso comer. Há bocas para alimentar. Como processar os traumas?
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20 Nov
Eu queria poder, no #DiadaConscienciaNegra , falar sobre nós. Sobre cultura, arte, poder e legado, e a eternização da nossa história por nós, que sofremos com uma historiografia embranquecida que fez de tudo pra nos apagar.

Mas somos atravessados por Carrefour e mais uma morte.
20 de Novembro deveria ser uma data para exaltar e relembrar Zumbi. Sua figura representando a luta, a resistência e estratégia de todo um povo que foi violentado e escravizado.
Mas, atravessados por mais um assassinato, Não foge à mente como Zumbi foi brutalmente assassinado.
Queria poder falar do samba, da sua identidade, ligação com o morro e seu poder formador da cultura brasileira.
Mas não temos esse direito no dia 20. Somos obrigados a lembrar que o samba denunciou violências, assassinatos e abandono do estado nos morros. Foi a nossa voz.
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17 Nov
O @pretozeze falou no Roda Viva algo que penso há tempos e me chamou atenção: a falta de análise que gera a fala preconceituosa sobre o voto do povo carioca.

A atuação nas urnas do carioca do subúrbio, da favela, muitas vezes não se trata nem de voto, mas de pequenas conquistas.
O @pretozeze falou coerentemente sobre a atuação e influência de grupos armados.
A presença de tráfico e milícia é sintoma da ausência do estado. E a ausência é total. Presença física, serviços, estrutura.

A mudança de representação no Estado para muitas pessoas nada significa.
Para quem não tem saneamento básico decente e só tem serviços básicos precários (quando não negados), pouco importa o prefeito. Às vezes, importa um pouco, o vereador.
O cara da comunidade que vai botar um poste, fechar um esgoto, inaugurar um campinho de futebol com churrasco...
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17 Sep
O Agente Laranja, usado pelos EUA, foi a arma de mais um dos vários crimes cometidos no Vietnã, o ambiental, até hoje causando impactos na natureza e na vida das pessoas.

Crimes contra a humanidade, contra a natureza e Guerra do Vietnã nessa thread com algumas imagens fortes:🧵
O Vietnã, dividido entre norte (Hanói) e sul (Saigon), tem a interferência dos EUA em seu processo de independência após os "Viet Minh", liderados por Ho Chi Minh, vencerem a França e os expulsarem do país.
Os EUA interferem patrocinando, treinando e enviando soldados para fortalecer Saigon.
O objetivo é anticomunista: derrotar Hanói, Ho Chi Minh e os Vietcongs (anteriormente Viet Minh)
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8 Sep
Goste ou não, o capitalismo na América Latina sempre esteve debaixo do arbítrio do imperialismo, e não se fala em democracia quando o liberalismo ensina a jogar pessoas pretas dentro da prisão para serem mãos de obra de empresas que lucram com o encarceramento.
Quando países da América Latina demonstram qualquer sinal de "ameaça" aos interesses do imperialismo, o que ocorre? Intervenção!
Brasil (1964), Chile (1973), Uruguai (1974) e Argentina (1976) são exemplos.
Achar que vive em um Estado capitalista independente é ingenuidade.
Sim, os EUA de Lyndon B. Johnson têm papel preponderante no golpe de 64.
Um ou dois discursos de Jango favoráveis a uma reforma agrária vira ~ameaça comunista~ e dá em golpe que culmina em duas décadas de autoritarismo, tortura e assassinatos.
Liberalismo não é assassino, sei...
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23 Jul
Por que antagonizar Martin Luther King e Malcolm X é perpetuar uma prática racista?

A suposta influência de ambos em X-Men, posteriormente atribuída à relação entre T'Challa e Killmonger em Pantera Negra faz sentido?

Minha ideia sobre isso aqui 👇🏿👇🏿
O maior inimigo do racismo é a organização do povo negro. Tanto no Brasil, como nos EUA, a história mostra o poder de mudança e combate do povo negro quando conscientizados e mobilizados.

O modus operandi racista visa antagonizar e dividir, para que enfraqueça assim a nossa luta
Durante séculos de luta contra a escravização no Brasil, nomes como Ganga Zumba e Zumbi dos Palmares tornam-se símbolos de orgulho, resistência e esperança para o povo negro.
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