Agora sem letras de músicas dos anos 80, vamos lá falar do famoso gráfico, para ver se isto se esclarece de uma vez por todas, porque entre o spin da defesa e o spin do ataque, há uma realidade que importa compreender. Abro thread:
No dia 7 de novembro 2020 (já a passar para 8 de novembro), @antoniocostapm apresentava este gráfico para justificar uma série de medidas que entrariam em vigor no dia 9 de novembro até dia 23 do mesmo mês.
Rapidamente se notou que a soma das parcelas do gráfico não resultavam em 100%, como seria obrigatório, mas sim em 95%, estando em rodapé no gráfico uma nota a dizer que os 5% que faltavam eram desconhecidos.
O @govpt passados três dias corrigiu o gráfico. Para muitos a correcção passou apenas por colocar no gráfico os 5%. Para os mais atentos, percebeu-se que também tinham sido mudadas percentagens no que diz respeito às parcelas "Lares" e "Social"
Ninguém fez questão de perguntar ao @govpt ou à @DGSaude porque razão tinham sido mudadas aquelas percentagens, talvez porque tivesse tudo focado nos 5%, ou porque era irrelevante. Não é, na minha opinião.
No dia 19 de novembro de 2020, na chamada "Reunião do @INFARMED_IP", o @andre_peralta - segundo vários OCS (não existe, que eu conheça, uma gravação disponível online da parte aberta da reunião) -informou os presentes que a @DGSaude não consegue saber de onde vêm 81,4% dos casos
Pessoas como o @danielolivalx há uns dias, ou hoje o @jpiresf , tentaram minimizar o número com exemplos de outros países, onde as taxas são semelhantes. Mas as semelhanças param aqui.
Não conseguir saber a origem do contágio é, pelos vistos, algo comum, e que temos que aceitar. O que não é comum é um @govpt usar números, para justificar medidas políticas, sem ser transparente relativamente aos mesmos.
Os números divulgados por @andre_peralta, no dia 19 de novembro, referiam-se ao período do início de outubro a 15 de novembro.
Pode ser possível que a 7 de novembro não se soubesse a origem de apenas 5% dos casos e, passadas duas semanas, e devido a um qualquer descalabro interno, esse número aumentasse uns estonteantes 75,4%? É possível, mas não credível.
Já quando o famoso gráfico foi apresentado, não me chocou não sabermos de onde vinham 5% dos casos, mas chateou-me que nos tomassem por ignorantes.
Não se podem justificar medidas políticas com base nos números que nos convém apresentar, esperando ter sorte e que ninguém venha a divulgar os dados reais. E aqui entra a questão de sempre: precisamos de dados abertos, para escrutínio de quem se quiser dar ao trabalho.
Acresce que ao fazer isto o @govpt apenas está a dar ainda mais armas aos negacionistas que vêm aqui a grande prova de uma conspiração que está a acontecer.
O @govpt tem de abandonar esta mensagem de perfeição e de total controlo sobre uma situação que ninguém, em lado nenhum, tem controlada. Como em qualquer situação de crise e emergência, todos os momentos são de aprendizagem, nunca de certezas absolutas.
Talvez transparência, e a admissão de fragilidade e desconhecimento, não faça parte do léxico político. Mas neste momento é obrigatório que se deixe a política de lado para colocar a ciência, e os factos, no centro das decisões que nos afectam a todos. /fim

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15 Nov
Ontem, escrevi um par de tweets, irritado, sobre o que me parece ser uma narrativa de endeusamento de um jovem militante do partido do Voldemort do Algueirão. Vou abrir uma pequena thread sobre este assunto, agora com mais calma.
Nas respostas aos tweets, algumas pessoas vieram-me dizer que a manifestação do pessoal da restauração, e a organizada pelo jovem, era manifestações distintas. Andei à procura de informação que me esclarecesse isto, mas não encontrei.
Mesmo assim, dou o benefício da dúvida a quem me disse isso, e sou "forçado" a estabelecer dois cenários para o que aconteceu ontem:
Cenário 1: O que ontem, irado, escrevi (com um erro de português que ainda me está a assombrar - obrigado @iAModp ;)
Read 14 tweets
14 Nov
UM PLANO ALTERNATIVO PARA O COMBATE À PANDEMIA

Este é um exercício baseado em dados, dados esses disponibilizados pela @DGSaude, até dia 26 de Outubro de 2020.

É uma visão alternativa do que tem sido proposto, do que tem sido feito, e do que tem sido divulgado.
Vale o que vale mas, sendo crítico do que está a ser feito, não poderia deixar de tentar contribuir para uma solução ou, pelo menos, para o início de uma discussão que merece ser feita, na minha opinião.
A 03 de Agosto, a situação não era de milagre no nosso país. Aliás, nunca existiu milagre, como até os próprios defensores do milagre já vieram defender e, na minha opinião, era esta a altura para começarmos a tomar medidas.
Read 40 tweets
11 Nov
Acabei agora de ler o artigo do @danielolivalx hoje no @expresso, com o título "No desespero, decide-se bem com boa informação".
Em comum, com o que é escrito pelo @danielolivalx, tenho a preocupação de se estarem a tomar decisões assentes em dados que não são granulares o suficiente para se tirarem conclusões. Como eu, e muitos outros já referimos, juntar coabitantes e familiares na mesma fatia, é errado
Também carecem de validação os outros principais factores de contágio, que foram mudados no espaço de três dias, sem que ninguém tenha questionado as entidades competentes sobre essa mudança:
Read 12 tweets
10 Nov
Será verdade que a @DGSaude pediu para as pessoas fecharem os vidros dos carros na A28?

Vou deixar aqui umas pistas:
1. A imagem não foi manipulada. Foi transmitida hoje no jornal da tarde da @SIConline, e a pessoa que está na imagem é a Teresa Leão
2. Esta investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, diz enquanto enumera conselhos práticos que "circular de janelas fechadas pode ser uma boa alternativa também"
Read 8 tweets
10 Nov
O que acontece quando não existem dados públicos, é que cada OCS escreve o que quer, baseado no que quiser, e não há hipótese de contraditório.
Isto quer dizer que, neste momento, a @DGSaude é uma enabler de notícias falsas, por pura falta de transparência.
Com vários OCS, locais e regionais, a avançarem com números que ninguém sabe de onde vêm, estão a colocar várias populações em níveis de ansiedade evitáveis.
Esperar "pelo momento certo" soa a estratégia política, não a ciência ou saúde pública.
Esta "estratégia" (estou a ser simpático) de guardar dados, de não os divulgar, de não ser transparente, vai trazer muitos maus resultados. Ninguém vai compreender que a uma 2ª feira sejam 121 concelhos, e a uma 6ª passem a 280. É assim que se perde credibilidade.
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9 Nov
Hoje de manhã já confessei à @Idzabela, ao @tomahock, e ao @camandro que até eu próprio estou farto de me ler a escrever sobre os dados que (não) temos sobre a #COVID19PT em Portugal. Mas por mais farto que esteja, e que alguns (muitos?) de vocês estejam, abro uma thread:
O primeiro relatório de situação, com a confirmação de casos em Portugal, foi divulgado no dia 03 de Março de 2020.
A 24 de Março, os relatórios diários passaram a incorporar os os novos casos por concelho, que são divulgados diariamente.
Read 26 tweets

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