Na década de 70, a heroína estava tomando conta das comunidades pobres de NY, habitadas majoritariamente por negros. Era um problema grave que os políticos e a mídia tratavam como uma questão criminal, não social ou econômica, preferindo prender e matar do que tratar e salvar.
Depois que grupos de ativistas negros e porto-riquenhos OCUPARAM UM HOSPITAL no Brooklyn (conhecido por tratar mal a comunidade) e exigiram, entre outras coisas, a implantação de uma clínica de tratamento para dependência química na região, a prefeitura finalmente cedeu.
Só que a "solução" dos políticos foi oferecer metadona para os dependentes químicos, substituindo, em essência, um vício por outro - o novo sendo controlado pelo Estado.
E foi aí que profissionais da saúde ligados à comunidade começaram a ler sobre acupuntura e resolver testar este tipo de tratamento, oferecendo-o gratuitamente aos dependentes químicos. Os resultados positivos logo começaram a aparecer.
Então, com o apoio de um grupo militante influente que já trabalhava na região oferecendo refeições grátis pra crianças e outros serviços pra população, a clínica de acupuntura se desenvolveu e passou a atender um número grande de pessoas.

O tal grupo? Eram os Panteras Negras.
Sim, os PANTERAS NEGRAS abriram uma clínica de acupuntura para tratar dependentes químicos em Nova York. Muitos destes, agora livres das drogas, se educavam politicamente e passavam a ajudar a comunidade e se tornavam militantes.

Adivinhem o que aconteceu a seguir.
As elites econômicas e políticas passaram a temer os resultados obtidos pela clínica; antes, eles mantinham os dependentes químicos sob seu controle através da metadona, mas agora estes não só se curavam do vício como se manifestavam politicamente.
E aí, depois de anos de atuação bem-sucedida, a clínica foi fechada arbitrariamente pelo prefeito Ed Koch. O número de dependentes químicos na comunidade voltou a crescer, claro.
Para piorar, os líderes da iniciativa passaram a ser perseguidos pelo FBI, com a diretriz CONFIDENCIAL determinada por J. Edgar Hoover para que grupos da "nova esquerda" (incluindo os Panteras e os Young Lords, seus equivalentes porto-riquenhos) fossem "desmantelados".
O líder por trás da clínica de acupuntura, Mutulu Shakur, foi preso alguns anos depois pelo assalto a um carro-forte da Brinks durante o qual três pessoas morreram. Detalhe: Shakur foi acusado de, como líder do movimento do qual os assaltantes participavam, SABER sobre o assalto.
As autoridades basicamente usaram um ato criado para lidar com a Máfia (RICO), que permitia que líderes de organização criminosa fossem responsabilizados por crimes dos quais não haviam participado, para prender Shakur.

Ele segue preso 34 anos depois.
Assisti hoje a um doc bem interessante dirigido por Mia Donovan que lida com esta história e com várias outras relacionadas à clínica de acupuntura co-fundada pelos Panteras Negras: Dope Is Death. Recomendo.
Ver como o establishment prefere ver as comunidades pobres (e formadas por minorias históricas) devastadas pelas drogas do que recuperadas e politicamente conscientes é algo que segue relevante. Infelizmente.

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23 Nov
Comentei há alguns dias sobre o documentário Til' Kingdom Come, que fala sobre a atuação conjunta dos evangélicos norte-americanos e de Israel para influenciar Trump a ajudar no que basicamente seria o extermínio dos palestinos e da tomada de suas terras pelos assentamentos.
Pois hoje vi um outro doc igualmente relevante chamado Kings of Capitol Hill, que aborda a principal organização pró-Israel (e pró-assentamentos) dos EUA: a AIPAC.

O curioso é que a AIPAC surgiu com um viés esquerdista, progressista, ligado aos movimentos civis da década de 60.
No entanto, a partir do governo Reagan, a AIPAC começou a mudar rapidamente de perfil, tornando-se cada vez mais direitista até finalmente demitir todos os executivos progressistas e substitui-los por republicanos.
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20 Nov
No país no qual "não há racismo" (segundo o vice-presidente da república e o diretor de jornalismo da Globo), os assassinatos de negros cresceram 11,5% nos últimos dez anos. Já os de não negros... caíram 12,9%.

Em 2018, 75,7% das vítimas de homicídio no Brasil foram negras.
"Ah, mas nem todos esses assassinatos tiveram motivações racistas", dirão alguns enquanto colocam o vídeo do Morgan Freeman em suas timelines.

Ignorando (ou fingindo) que o racismo não é simplesmente um ato, mas um sistema.
A partir do momento em que 75% dos assassinados pela polícia são negros e 61% das mulheres vítimas de feminicídio são negras, o retrato do que ocorre no país fica óbvio; a subjetividade do observador pode até questionar o que é racismo, mas as estatísticas não mentem.
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13 Nov
Vi o doc Til´ Kingdom Comes, sobre a relação entre os evangélicos dos EUA e os judeus pró-assentamento na Cisjordânia. É sempre assustador constatar o que acontece quando a política passa a ser realizada através de um filtro religioso.
Nos EUA (e no Brasil), o movimento evangélico se mostra mais sionista do que Theodor Herzl, coletando doações de seus seguidores para enviar para assentamentos judaicos na Palestina.

A pergunta é: por quê?

A resposta é complexa e envolve vários interesses, mas... +
Um dos aspectos mais malucos desta ligação é o fato de que, em essência, os mesmos evangélicos que dizem amar Israel são antissemitas por natureza. Por quê? Porque acreditam que, no Fim dos Tempos, só os judeus que aceitarem Jesus se salvarão. O resto... já sabem. (Pois é.)
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12 Nov
"O Dissidente", documentário de Bryan Fogel sobre o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi dentro do consulado de seu país na Turquia, é um filme difícil de assistir. Não por ser ruim, pois não é (ao contrário), mas pela barbaridade do crime cometido.
Com imagens da investigação da polícia turca, transcrição das gravações feitas no momento do crime, entrevistas com a noiva de Khashoggi, colegas jornalistas e de um outro bravo dissidente que trabalhou com Jamal, o doc não deixa pedra sobre pedra.
Aliás, não foi à toa que o congresso dos EUA aprovou, diante das evidências do crime, uma decisão BIPARTIDÁRIA (ou seja: até os republicanos concordaram) para impedir que armas fossem vendidas ao governo saudita.

Trump, claro, vetou a resolução e vendeu assim mesmo.
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12 Nov
Há algumas semanas, comentei CoroNation, documentário de Ai Weiwei rodado por diversos cinegrafistas anônimos em Wuhan durante o lockdown na região, e elogiei bastante. Pois hoje vi um ainda mais sólido: 76 Dias, dirigido por Weixi Chen, Hao Wu e um realizador anônimo.
Enquanto CoroNation se preocupava muito (como seria de se esperar de Ai Weiwei) com as falhas sistêmicas do governo chinês, 76 Dias basicamente se tranca em um hospital durante o lockdown, retratando as várias etapas enfrentadas pela equipe naquele período.
Do pânico inicial, quando enfermeiros e médicos enfrentam uma quase invasão de enfermos desesperados por abrigo e tratamento, até a alta dos últimos pacientes quase três meses depois, 76 Dias é um doc que jamais esquece a dimensão humana da pandemia.
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12 Nov
Vi agora "Belushi", documentário sobre um dos atores/comediantes mais brilhantes que o Saturday Night Live revelou em todas as suas décadas no ar. O filme é construído a partir de áudios com pessoas que o conheceram (esposa, amigos, parceiros profissionais), animação e arquivo.
As imagens de arquivo, diga-se de passagem, são o ponto forte do documentário, trazendo filmes caseiros, bastidores de produção e entrevistas. Mas - e adoro quando uma biografia consegue isso - tudo a serviço de uma investigação de personagem, de tentar entender quem ele era.
A ideia do "palhaço trágico", claro, é um clichê tentador de se aceitar ("Mas, doutor, eu sou Pagliacci."), mas Belushi, advoga o filme, era um indivíduo cujos autoquestionamentos tinham mais a ver com aquela coceira que todos temos para descobrir quem somos do que com depressão.
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