O Jones Manoel – a quem não consigo marcar porque me bloqueou, mesmo que depois do que ele alega – está perguntando qual a diferença de poder entre Merkel, que completou 15 anos no poder, e o de Hugo Chávez. A primeira, democraticamente; Chávez, com traços autoritários. Vamos lá:
Merkel pode ser tirada do poder a qualquer hora, dado o regime parlamentarista alemão. A Lei Fundamental de 1949 estabelece que o Parlamento pode aprovar a moção de desconfiança. A única condicionante, que não existe em outros países, é que deve haver uma alternativa de governo.
Num regime parlamentarista, a relação entre Executivo e Legislativo é bem diferente. O chefe de Governo não está sozinho, mas em coalizão. Merkel respeita as regras do jogo e seu partido já governou com sociais-democratas, noutro mandato com os liberais, sempre em novos Governos.
Nesse modelo, o poder não fica concentrado unicamente em Merkel, mas sim disperso entre parlamentares eleitos que compõem a base do Governo. No presidencialismo, contudo, não é assim que as coisas funcionam. O mais importante: em ambos os casos, existem regras a serem cumpridas.
Hugo Chávez não governou conforme a legislação. Em 2004, ele decidiu adicionar 12 assentos ao Supremo Tribunal, que originalmente contava com 20 ministros, passando a controlar a Corte e eliminando o controle do seu poder pelo Judiciário, atentando contra a separação de poderes.
O venezuelano também atacou a liberdade de expressão e imprensa. Editou leis para ampliar multas contra ofensas a funcionários de governo, proibiu a transmissão de mensagens que gerassem “ansiedade no público” e permitiu a suspensão arbitrária de jornais, canais de TV e outros.
Não satisfeito, criou 5 novos canais de televisão estatais (antes havia apenas 1) e continuou silenciando críticos. Em 2007, a licença da RCTV (canal mais antigo e assistido de lá) não foi renovada, tendo suas antenas de transmissão apreendidas. Em 2010, foi tirada da TV a cabo.
Um jornal semanal, chamado 6to Poder, publicou uma sátira, em 2011, mostrando pessoas como a presidente do Supremo Tribunal e a PGR dançando num cabaré chamado “A Revolução”, dirigido pelo “Sr. Chávez”. No mesmo dia, a diretora e o presidente do jornal foram presos.
Na Alemanha, o governo de Angela Merkel convive em um ambiente no qual se garante ampla liberdade de expressão, de modo que jornais e opositores desfrutam plenamente de suas liberdades para criticarem o governo e apresentarem denúncias relevantes à sociedade. Como uma democracia.
Além disso, o Judiciário não é controlado por um partido ou outro, mas sim independente e autônomo, garantindo o equilíbrio entre os Poderes da República Alemã. O Poder Federal também é limitado pelos estados, que possuem auto grau de autonomia. Isso sem falar do Parlamento.
Tudo isso aqui parece óbvio, mas é porque realmente é tudo óbvio. No entanto, enquanto o Jones Manoel continuar sendo ouvido por uma parcela da esquerda, é importante continuar rebatendo esse tipo de argumento esdrúxulo. Sei que ele não se importa com democracia, mas e o resto?
1º Tuíte: Imagens do Twitter Jones, que após colocar uma notícia sobre Merkel estar prestes a completar 15 anos no poder, pergunta, a quem falou de parlamentarismo, como mostrar que Merkel tem menos poder do que teve, por exemplo, Hugo Chávez.
2º Tuíte: Imagem do artigo 67 da Lei Fundamental de 1949 da Alemanha, que prevê o voto de desconfiança.
5º Tuíte: Reprodução da Folha de São Paulo de 2003 com a manchete: “Chávez aumenta número de juízes na Corte Suprema venezuelana”.
7º tuíte: Imagem de notícia de 2007 da AFP que diz: “Hugo Chávez acaba com TV mais antiga da Venezuela”
8º tuíte: A primeira mostra a sátira (machista, por sinal) descrita, com as “mulheres de Chávez” no cabaré. A segunda é uma notícia da Folha, em 2011, informando as prisões.
9º Tuíte: Para ilustrar a liberdade de expressão na Alemanha, a foto mostra jornais e revistas do país. Uma das capas critica Merkel, a colocando com um capacete associado ao autoritário Bismarck.
10° Tuíte: Imagens do Congresso e do Tribunal Constitucional da Alemanha
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O @_makavelijones escreveu um artigo, em tese contra o “revisionismo histórico”, sobre o Pacto Molotov-Ribbentrop para o blog da Boitempo. No entanto, o texto contém, justamente, revisionismo histórico. Convido vocês a refletirem comigo no fio 🧶👇🏼 blogdaboitempo.com.br/2019/10/25/con…
O primeiro ponto que merece destaque é a visão de que a eclosão da guerra se dá em razão do sistema capitalista, à época colonial e imperialista. A URSS, por sua vez, representaria a luta anticolonial e antirracista. Pois bem: esse papel soviético é no mínimo discutível...
Essa visão romantizada da União Soviética não condiz com a verdade. Stalin reprisou um modelo colonial no Leste Europeu, inclusive proibindo países de fabricar produtos acabados em alguns casos; usou o nacionalismo russo para perseguir outros povos; e ignorava a questão racista.
Como o @salimmattarBR está se dedicando a mostrar o suposto legado maldito de uma “social-democracia” que abrange de Collor e Temer a Dilma e Lula, que tal falar sobre o que a ditadura militar – idolatrada pelo seu ex-chefe – nos deixou? Vamos lá:
1. Em primeiro lugar, a Comissão Nacional da Verdade, em seu relatório final, reconheceu 434 mortes e desaparecimentos políticos. Não é só isso. Um documento da CIA de 1974, por exemplo, mostra que se reconhecia 103 mortes só em 1973. Geisel orientou que a política continuasse.
2. A orientação foi dada após o fim dos Anos de Chumbo. É um demonstrativo de que o número real de execuções é maior, assim como a questão das mortes não contabilizadas de indígenas, ignoradas frequentemente. A democracia, com a garantia de direitos fundamentais, preserva a vida.
A Constituição de 1988 foi escrita coletivamente num grande momento democrático. É das mais avançadas do mundo em direitos e garantias fundamentais. A democracia promoveu alfabetização, acesso ao ensino, redução da pobreza e de desigualdades. E sua liberdade de expressão, Mattar.
Quem deseja culpar a Constituição pelos gastos excessivos esquece que ela contempla o equilíbrio fiscal (exigindo limites para a dívida pública e até para despesas de pessoal) e eleva a “regra de ouro” a patamar constitucional e, portanto, insuperável.
Dentro do constitucionalismo de terceira geração, em que se reconhecem direitos sociais como direitos fundamentais, a Constituição não só faz isso como cria garantias de efetivação desses direitos. Embora, realmente, fale de servidores públicos e até do Colégio Pedro II.
Assim como qualquer assunto num país assombrado pela polarização, querem reduzir o debate sobre volta às aulas em “sim” ou “não”. Ou, melhor, no maniqueísmo entre malvados e bonzinhos. Nada é tão simples assim. Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia
É possível estabelecer mil e um arranjos e rearranjos para uma retomada mais segura, como manter professores em grupo de risco em casa, turmas reduzidas, rodízio de alunos, mudanças físicas em escolas e tudo mais. Mas isso depende de um protocolo bem desenhado. É isso que cobram.
Eu parto de dois pressupostos:
1. Educação é primordial e aulas devem voltar em algum momento; 2. Esperar uma vacina, sem previsão e que pode inclusive nem vir a acontecer, é inviável.
A partir disso, podemos recolher evidências, ouvir especialistas e entender o que é melhor.
Na minha visão, boa parte da esquerda está errando feio em negar totalmente a possibilidade de volta às aulas. Os impactos educacionais de escolas fechadas são gravíssimos e, com a retomada econômica, vai ter criança na rua. Condicionar à vacina é se submeter a um futuro incerto.
Até onde a gente sabe, a vacina pode nem sequer vir a existir. É claro que a competição para o desenvolvimento de uma vacina segura está rolando solta, mas neste momento é impossível condicionar qualquer coisa à vacinação. A gente não sabe quando – e se – todos estarão vacinados.
A resposta mais adequada é a que outros estão propondo no Congresso, ao preencherem o vácuo deixado pelo MEC elaborando projetos de lei com protocolos de segurança para a volta das atividades. Era para brigar por recursos para adaptar as escolas. Esse tipo de luta que precisamos.
Hoje, a ALERJ deve votar um projeto para reintegrar militares excluídos por desvio de conduta. A medida beneficiaria cerca de 2 mil PMs, sendo pelo menos 20% deles por envolvimento com a milícia. A própria PMERJ é contra. Então fiquem bem ligados em quem votar pela anistia, hein?
A medida é dos deputados Alana Passos (PSL), Alexandre Knoploch (PSL), Anderson Moraes (PSL), André Ceciliano (PT), Bruno Dauaire (PSC), Coronel Salema (PSD), Dr. Serginho (REP), Filippe Poubel (PSL), Gustavo Schmidt (PSL), Marcelo Do Seu Dino (PSL)... Continua embaixo:
Márcio Gualberto (PSL), Marcos Muller (SDD), Renato Zaca (SDD), Rodrigo Amorim (PSL), Rosenverg Reis (MDB), Subtenente Bernardo (PROS), Filipe Soares (DEM), Vandro Família (SDD) e Carlos Macedo (REP). Pronto, ufa.