Recentemente, a AstraZeneca/Univ. de Oxford noticiaram, pela imprensa, os dados das eficácias (isso mesmo, plural) de sua vacina em diferentes regimes de dose. Ficamos otimistas e confusos, na espera de + detalhes.

Sobre vacinas, notícias de imprensa e a espera de dados - 🧶
Primeiro, retomando o que aconteceu:

No dia 23/11, a desenvolvedora em parceria com a Univ. de Oxford divulgou que finalizou a fase 3 e, em notícia para a imprensa (press-release), expôs os dados de suas eficácias, em alguns regimes de doses diferentes:

Tivemos excelentes fios comentando essa notícia, vou deixa-los à disposição:

Por @izabellapena1
Na notícia, a meia dose + dose completa (1 mês após) teve 90% de eficácia. Com 2 doses completas = 62%. Na análise combinada dos dois regimes acima = eficácia média foi 70%. Foram analisados 131 casos de COVID-19, 30 entre os vacinados e 101 entre quem não recebeu o imunizante
Muita gente se questionou sobre esse fato curioso: dois regimes de doses apresentando eficácias diferentes, a maior delas com a meia dose! Por que será isso?

Com os poucos dados que tínhamos disponíveis, usamos o conhecimento biológico para tentar pensar em hipóteses
Provavelmente poderíamos estar vendo uma resposta do corpo ao vetor adenoviral em quem recebeu uma primeira dose maior dele. Novamente a @TaschnerNatalia traz brilhantemente essa possibilidade:

Então, ainda tinhamos esses dados da meia-dose que poderíamos pensar: parece ótimo, menos dose e mais efeito! yay!

Mas faltava entender o perfil dos participantes e mais dados sobre isso, sem dúvida. Hoje, foi noticiado no @nytimes algumas informações

nytimes.com/2020/11/25/bus…
Essa notícia traz duas informações problemáticas

1) A meia-dose foi um erro
2) Ela foi administrada apenas em jovens

A falta de transparência quanto aos dados das vacinas e ao processo fere a ciência. As pessoas passam a suspeitar de como fazemos essas investigações
E é por isso que hoje vocês vão ver tanto a comunidade científica se mobilizando, argumentando, porque esse tipo de situação não deve acontecer, especialmente num momento sensível e crucial que precisamos da confiança nos métodos e ferramentas, como a vacinação.
Quando o executivo da AstraZeneca foi questionado sobre o erro, ele comentou que o erro na dosagem foi cometido por uma empresa contratada e que, uma vez descoberto, os reguladores foram imediatamente notificados e assinaram o plano de seguir testando a vacina em diferentes doses
Além disso, o executivo foi questionado sobre por que a AstraZeneca compartilhou algumas informações com analistas de Wall Street e alguns outros funcionários e especialistas, mas não com o público.
A resposta dele me chamou a atenção: “Acho que a melhor maneira de refletir os resultados é em uma revista científica revisada por pares, não em um jornal."

Não poderia concordar mais. Sugiro a inclusão de um preprint então o processo da revisão por pares se dá, por que não?
Sobre quem recebeu a dosagem menor: a AstraZeneca divulgou em seu anúncio inicial que menos de 2.800 participantes receberam o regime de dosagem menor, em comparação com quase 8.900 participantes que receberam duas doses completas.
Isso chamou muito a atenção, esse número baixo de participantes na dose mais eficaz. Qual o perfil deles? Por que tanta variação na eficácia?
Na terça-feira, Moncef Slaoui, chefe da Operação Warp Speed, a iniciativa dos EUA para acelerar as vacinas contra o coronavírus, em uma ligação com repórteres, sugeriu que os participantes que receberam a dose inicial de meia dose tinham 55 anos ou menos.
Isso gera um viés imenso na análise, pois sabemos que as respostas do sistema imunológico são diferentes ao longo da vida e a idade é um fator importante para essa resposta. Ou seja, o grupo da meia dose, além de ser pequeno em tamanho, era composto por adultos-jovens
A informação foi confirmada pelo executivo em comando, na Quarta-Feira, dizendo que os participantes que receberam o regime com a meia dose numa questão de semanas antes de o erro ser descoberto.
Apesar de o executivo considerar um "erro útil" além de ter corrigido ele e continuado com o estudo, sem alterações, e concordando com o regulador em incluir esses pacientes na análise do estudo também, a falta de transparência é um erro crasso, novamente.
Essa informação de que a meia dose foi testada apenas em adultos-jovens poderia ser suficiente para minar a aprovação pelo regulador, não autorizando a vacina para uso emergencial.
Em contrapartida, uma boa notícia: o executivo da AstraZeneca anunciou que planeja um teste global para comparar os dois regimes de dosagem. O número de participantes que vai inscrever ainda não foi determinado, mas será na casa dos milhares.
Dessa forma, pessoal, não poderia terminar esse fio melhor do que com as próprias palavras da @TaschnerNatalia

Nossos métodos funcionam e validam segurança, eficácia. O que vocês estão vendo, e muitos podem encarar como uma má notícia, é graças a robustez do nosso método em detectar qualquer anormalidade nesse processo, associado a uma comunidade científica atenta e participativa
Como diz a @TaschnerNatalia (ela é perfeita, entendam): não foi tudo por terra, tampouco invalida os bons dados até aqui obtidos. Devemos ter mais transparência e responsabilidade, sobretudo, na comunicação de dados científicos

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More from @mellziland

27 Nov
Como esperado, precisamos de mais dados da vacina da AstraZeneca para poder entender e validar de fato as eficácias observadas.

Os problemas do ensaio começaram com o regime de dose de meia dose-dose inteira que não foi projetado pelo ensaio clinico original.
Ainda, houve divergencias na execução do protocolo: No Reino Unido, por exemplo, os voluntários que não receberam o imunizante foram injetados com a vacina meningocócica; no Brasil, os do grupo de comparação receberam injeção de solução salina como placebo.
Explico nesse fio toda a linha temporal de acontecimentos com a AstraZeneca, considerando o que foi noticiado, com fios incríveis de divulgadoras maravilhosas:
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27 Nov
Pela primeira vez, o estado do Rio Grande do Sul é completamente vermelho na pandemia da COVID-19

Isso não aconteceu nem no início da pandemia. A segunda onda é real e mais forte e precisamos agir de forma real e mais forte para esse enfrentamento.

estado.rs.gov.br/pela-primeira-…
Alguns fios em ordem cronológica sobre avisos e acontecimentos, focando na região sul/Porto Alegre, por @schrarstzhaupt
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25 Nov
Me pediram para comentar a reportagem sobre o antisséptico bucal contra a COVID-19

Então lá vai!

Acompanhe o fiozinho
Qual a idéia: que produtos que tu tem em casa podem te ajudar a enfrentar o vírus. O artigo faz um uso ruim de vários termos. Cita "cura da Covid-19 com esses itens rotineiros.", já comecei a ficar ressabiada daí
O que foi identificado pela pesquisa em questão é que é possível inibir um tipo de coronavírus com produtos comuns. Um tipo de coronavírus: HCoV-229e que parece ser diferente do SARS-CoV-2
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24 Nov
Mais dados da vacina Sputnik-V!

Acompanha abaixo :))
Os resultados apresentados hoje são uma análise interina de 18.794 participantes, 7 dias após terem recebido sua dose de reforço. (Apenas um em cada quatro recebeu o placebo.)
“Embora os números de casos [COVID-19] permaneçam pequenos, isso é altamente eficaz”, disse Azra Ghani, epidemiologista de doenças infecciosas do Imperial College London, ao Science Media Centre. S
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24 Nov
Divulgada, nesta quarta, mais notícias sobre a Sputnik-V: vacina podera ser até 2x mais barata, quando comparada com as outras, podendo ser armazenada em até 8ºC, segundo o diretor do Fundo Russo de Investimentos Diretos

Acompanhe abaixo!
Segundo a reportagem, "Nenhum efeito colateral novo foi registrado nos dados preliminares da fase 3, que conta com a participação de mais de 40 mil voluntários na Rússia e outros países."
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23 Nov
Vamos para algumas atualizações de hoje das vacinas: Oxford e Coronavac!

Eficácias, pedidos de autorização emergencial... segue o fio pra gente conversar um pouquinho sobre!
Primeiro, a notícia da vacina de Oxford/AstraZeneca! Noticiando sua eficácia em 2 regimes de doses, sem dúvida todo mundo ficou muito empolgado, e não é pra menos: temos muitos acordos, inclusive de transf. de tecnologia pro Brasil quando ela for aprovada!
Além de provavelmente ter um preço mais barato do que as de RNA, e uma distribuição possivelmente menos complexa em virtude da temperatura, essa vacina é uma forte promessa aqui pro Brasil.
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