Thread by @lftofoli

Mas afinal de contas, o que é que o Governo Bolsonaro está querendo fazer com a rede pública de Atenção à Saúde Mental do Brasil?

Vou explicar nesse cordel porque o que estão tentando fazer não parece ser nada republicano ou democrático. Segue aí pra entender.

Tudo começou com o vazamento de informações sobre uma reunião virtual do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (@CONASSOficial) que aconteceu do dia 3 de dezembro último.

Na pauta da reunião, uma proposta de mudança drástica nas políticas de saúde mental no país.

Em uma apresentação se explicava que, baseado em um documento capitaneado pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e um grupo de trabalho instituído pelo Ministério da Saúde, se pretenderia 'rever a atual política de saúde mental e a RAPS [Rede de Atenção Psicossocial]'.

Aparentemente, entre as propostas trazidas pelo grupo de trabalho estavam a revogação de portarias (as 'leis' estabelecidas por ministérios) que organizavam o financiamento e a organização de uma série de serviços de saúde mental (como pode ser visto no slide acima).

O Documento da ABP (e outras entidades médicas) é denominado 'Diretrizes para um Modelo de Atenção Integral em Saúde Mental no Brasil'.

Trata-se de uma versão atualizada de um documento que a entidade tenta emplacar no país desde que deu uma guinada conservadora há alguns anos.

Já em 4 de dezembro o Conselho Nacional de Saúde fez questão de deixar claro que discorda dos termos que estão neste documento da ABP et al. e declarou que "repudia propostas [...] de revisão da RAPS e de mudanças no modelo assistencial em saúde mental".
conselho.saude.gov.br/ultimas-notici…

O país foi - e ainda é, ainda que em menor escala - palco de diversos abusos realizados nos hospitais psiquiátricos, também chamados de manicômios.

Aqui se pode ver um exemplo nas imagens que o fotógrafo Luiz Alfredo Ferreira fez no Hospital Colônia de Barbacena, em 1961

Embora ainda de maneira imperfeita, a chamada Reforma Psiquiátrica Brasileira foi estabelecida como um programa ininterrupto de Estado que passou pelos governos Collor, Franco, FHC, Lula, Dilma e Temer.

Este projeto foi relatado como exitoso no periódico médico Lancet em 2007.

Qualquer alteração na complexa rede de saúde mental do país precisa ser feita com cuidado e discussão pública, com participação dos profissionais e dos gestores de saúde, dos pacientes e de seus familiares.

Aparentemente, não é assim que as coisas estão em andamento no Brasil.

Uma prova disso foi a notícia bombástica na coluna do @Guilherme_Amado: sem o necessário diálogo com as devidas instâncias da sociedade civil o governo Bolsonaro prepara um 'revogaço' de dezenas de portarias de saúde mental estabelecidas de 1991 a 2014!
epoca.globo.com/guilherme-amad…

Não muito tempo depois a ABP denominou como 'fake news' as tentativas de vincular a entidade à extinção das portarias de Saúde Mental, assim como o fechamento de serviços de saúde mental, concluindo o texto falando de 'medidas jurídicas cabíveis' para quem afirma o contrário.

No mesmo dia, novamente a coluna de @GuilhermeAmado esclarece que o Ministério da Saúde estaria SIM querendo revogar portarias da saúde mental, em plano organizado por Maria Dilma Teodoro, coordenadora nacional de saúde mental e pessoa de confiança da ABP.
epoca.globo.com/guilherme-amad…

Onde que essa história vai terminar? Não sabemos.

Porém tudo o que foi apurado parece indicar que atual gestão federal quer fazer uma verdadeira 'contrarreforma' sem dialogar adequadamente com a sociedade, 'passando boiada' enquanto estão todos preocupados com a vacina.

Este é um governo que é incapaz de estabelecer uma política decente de imunização durante o curso da maior emergência de saúde pública do século. Testes perdem a validade, a ideologia supera a ciência. Por que devemos confiar que são capazes de serem melhores na saúde mental?

Como colaborar? Há petições circulando na internet onde você pode registrar sua indignação, mas não podemos parar nisso. Este é um governo que tem medo da pressão popular. É portanto necessário, se você tem preocupação com o que está acontecendo, COMPARTILHAR E CONSCIENTIZAR.

A matéria da @CollucciClaudia na @Folha merece um adendo-cordel à parte.

https://twitter.com/lftofoli/status/1336270615611924481