Em primeiro lugar, a narrativa clássica do bolsonarismo de que a notícia de que queriam mudar as portariasde saúde mental e extinguir serviços eram 'fake news' já cai por terra.
O próprio Ministério da Saúde admite que tinha a intenção de revogar portaria.
Está na proposta:
1. Extinguir o Programa de Volta para Casa, que facilita o retorno de moradores crônicos de hospitais psiquiátricos para a comunidade;
2. Acabar com os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) para tratamento de problemas relacionados ao uso de álcool e drogas;
3. Transferir os Serviços Residenciais Terapêuticos para o Ministério da Cidadania, o mesmo que canaliza centenas de milhares de reais para comunidades terapêuticas sem fiscalização adequada;
4. 'Discutir o financiamento' do Consultório na Rua, seja lá o que isso queira dizer.
O que chama atenção e não está explícito na proposta, além do desrespeito explícito à população de rua, aos usuários de drogas e à desinstitucionalização, transparece na fala do presidente eterno da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva: privatizar o SUS.
Diz o presidente da ABP: “O que você faz no sistema privado? Você pega, liga, marca consulta e vai lá. Por que o sistema público não pode imitar o sistema privado?”
É importante manter em mente também que a ABP é apoiadora de primeira hora do governo Bolsonaro.
Apesar de divulgar nota repudiando afirmações de que a ABP apoiaria a 'extinção' das portarias ministeriais de saúde mental, seu presidente afirma que há um excesso delas: “São cento e poucas portarias, um negócio absurdo, improdutivo. Tem que dar um caminho para as prefeituras.”
Vale lembrar que a ABP nem sempre foi como hoje em dia: um órgão de posição ideológica única - embora sempre pronta a acusar os outros de serem "ideológicos" - que se alia a um governo genocida. Como disse Leon Garcia no texto, ela não representa todos os psiquiatras do Brasil.
Sendo assim, a questão está clara e posta: existe sim uma proposta de mudança radical da saúde mental brasileira, e ela envolve interesses particulares e corporativos que precisam ser discutidos e explicitados pelo controle social.
E não dá para fazer isso na calada da noite.
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Mas afinal de contas, o que é que o Governo Bolsonaro está querendo fazer com a rede pública de Atenção à Saúde Mental do Brasil?
Vou explicar nesse cordel porque o que estão tentando fazer não parece ser nada republicano ou democrático. Segue aí pra entender.
Tudo começou com o vazamento de informações sobre uma reunião virtual do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (@CONASSOficial) que aconteceu do dia 3 de dezembro último.
Na pauta da reunião, uma proposta de mudança drástica nas políticas de saúde mental no país.
Em uma apresentação se explicava que, baseado em um documento capitaneado pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e um grupo de trabalho instituído pelo Ministério da Saúde, se pretenderia 'rever a atual política de saúde mental e a RAPS [Rede de Atenção Psicossocial]'.
Hoje a Comissão sobre Narcóticos da ONU, decidiu reclassificar a maconha no documento internacional que norteia a política internacional de drogas, a Convenção Única sobre Entorpecentes, ou Convenção de Viena. O Brasil de Jair Bolsonaro votou contra.
Leia o cordel aí e entenda.
Até hoje, a maconha era classificada na lista IV. Isso significa que ela estava acompanhada da heroína, uma substância sem propriedades terapêuticas e alto risco de uso.
Diante das evidências dos riscos associados e de seu potencial terapêutico, essa classificação era absurda.
Só para se ter uma ideia, a morfina, uma substância também com grande potencial de vício, mas com evidentes propriedades médicas, está classificada em outra lista, a lista I.
O documento tem repercussão para todos os países membros e dificulta o uso terapêutico e científico.
Eu gostaria de dirigir algumas palavras sobre Diego Armando Maradona e seu problema com drogas.
A linha fina deste cordel de tuítes é: “Julgar Maradona por sua dependência química e medi-lo somente pelo estigma”.
Quem me conhece sabe que sou muito pouco afeito ao futebol. Não tenho time, o que me deixa um pouco à parte do universo - majoritariamente masculino e ainda bem homofóbico - de se zoar e ser zoado pelas afiliações futebolísticas.
Mas aí está, a morte de Maradona me faz escrever sobre ele. Nasci em 1972 e não vi Pelé jogar ao vivo em seu auge. Mas Maradona sim, eu vi, pela TV. Vi o dia da forra pelas Malvinas. Vi o gol de mão mais famoso da história. E como sudaca e latinoamericano, vibrei.
TERAPIA COM PSICODÉLICOS: O QUE RESPONDO QUANDO ME PEDEM INDICAÇÕES
Eu recebo muitas solicitações –tanto de quem busca ajuda para tratar transtornos mentais quanto de colegas médicos– sobre como fazer tratamento com psilocibina, ayahuasca ou MDMA. Aqui vai um cordel sobre isso.
Antes de começar:
• Os psicodélicos são poderosos. Seu uso não é inócuo. Nem todos podem usá-los.
• Este cordel não tem a intenção de incentivar qualquer pessoa a fazer 'automedicação' com psicodélicos.
• Informe-se. Não dá para esclarecer completamente um tema via Twitter.
Tem sido divulgado na imprensa que, junto com as eleições nos EUA de 2020, os cidadãos do estado do Oregon aprovaram por meio de um plebiscito uma medida que permite a administração assistida de 'cogumelos mágicos' para o tratamento de transtornos mentais. viradapsicodelica.blogfolha.uol.com.br/2020/11/04/ore…
O estado do Oregon, onde a maconha já era legalizada, dá um passo adiante e descriminaliza todas as drogas. Agora, como em Portugal, usuários não poderão ser mais presos por posse de drogas neste estado americano.
Cada pedrada desse artigo da @TheAtlantic é válida se você trocar a palavra 'Trump' por 'Bolsonaro'.Apenas parece que a anestesia social crônica que vivemos permite que aqui ele passe ainda mais incólume do que aquele que ele copia por lá. Segue o cordel: theatlantic.com/ideas/archive/…
O contexto do artigo da Atlantic é o adoecimento por COVID-19 de Trump.
Embora a contaminação de Bolsonaro tenha passado (aparentemente) incólume, tudo o que é dito aqui poderia ter sido escrito quando o presidente do Brasil declarou seu (suposto) resultado positivo ha 1 mês.
"Você não pode esperar que a Casa Branca [/o Palácio do Planalto] produza qualquer plano ordenado para a execução dos deveres públicos de Trump [/Bolsonaro], mesmo na medida muito limitada em que ele executou seus deveres públicos pra começo de história.