O artigo do Pastore de hoje traz a discussão sobre a tendência de queda na taxa de juro no mundo, citando Blanchard, Summers e Furman. Aproveitemos o gancho para falar um pouco disso aqui embaixo.
A discussão já vem de algum tempo. O capítulo + recente foi a conferência realizada há um mês, em 01/dez, que contou com apresentação de um novo texto de Furman e Summers. Comentaram Bernanke, Blanchard e Rogoff. Link abaixo:
O texto parte do fenômeno observado (queda da taxa nas últimas décadas). Ainda que apresentem hipóteses para explicar o fenômeno, o foco é colocado nas consequências/implicações dessa tendência para a política monetária e fiscal.
Seriam 3 implicações:
1) c/ política monetária limitada, política fiscal se torna + importante p/ manejar o ciclo
2) Novas medidas seriam importantes p/ analisar a sustentabilidade fiscal (dívida/PIB ñ seria adequado)
3) muito investimento público se tornaria auto-financiável
Essas implicações não são novas (especialmente a 1 e a 3); por exemplo, já apareciam em texto do Blanchard do início de 2019 (aquele em que comparava r com g).
O ponto 2 não é muito sedutor, o próprio Furman não gosta de uma das medidas propostas no texto, mas ok
Uma coisa que passou um pouco batida é que eles propõem algo como um new guideline para a política fiscal, que é a manutenção do pagamento real de juros em 2% do PIB
A grande questão, no fundo, é saber qual o futuro da taxa de juro real no mundo. Embora acreditem que a tendência em curso continue, admitem que as previsões macro são feitas no meio de muita incerteza. Isso demandaria certa cautela na hora de formular política sob esse framework
E os emergentes?
Trazer a discussão p/ países emergentes é + complicado do que parece. Por um lado, claro que movimentos estruturais fortes no mundo desenvolvido impactam muito a economia global. Por outro, as condições de financiamento não são as mesmas, etc etc.
Pastore fez suas considerações, ALR já tinha feito as dele no Valor e eu ainda preciso de um tempo para estudar melhor essas questões.
Em todo caso, um ganho indiscutível é a > disponibilidade de capital barato no mundo: oportunidade, por exemplo, p/ bons projetos de concessão
Finalizo indicando uma thread que havia feito no ano passado, discutindo essas questões no âmbito da crise do Covid
Ah, acho que também vale colocar essa tabela. Tão impressionante que, quando vi a primeira vez, achei que estava errada. Mas está certa mesmo: em 2000, as projeções indicavam uma dívida pública americana perto de zero em 2010! O resto vocês vejam sozinhos
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As eleições municipais estão chegando, mas a vida dos futuros prefeitos e vereadores não vai ser fácil. A situação fiscal dos municípios não é muito animadora e é importante que os candidatos conheçam bem as contas de seu município.
A maioria dos municípios brasileiros estava c/ contas em má situação já em 2019. Esse é o CAPAG ("nota de risco"), do STN, disponível p/ 3,8 mil dos 5,6 mil municípios existentes.
Na última edição, 60% tinham notas C e D, 22% tinham nota B e somente 18% tinham nota A.
Para municípios que tiveram nota do CAPAG no ano anterior (2,2 mil), já tinha havido uma piora entre 2018 e 2019, indicado pela queda do número de municípios com nota A e B
Este mês o assunto fiscal esquentará, em virtude do envio do orçamento de 2021 ao Congresso. O principal desafio é o limite dado pelo teto de gasto.
O teto é de 1.485 bi, aumento de apenas 31 bi em relação ao teto de 2020. Já seria bem apertado em tempos normais (ver margem fiscal da IFI), mas o desafio é ainda maior, pois alas do governo vem indicando vontade de aumentar o gasto com assistência (renda básica) e investimento.
A tentativa de drible já ficou escancarada, como no caso do Fundeb (quando queriam utilizar parcela dos recursos, que ñ estão sujeitos ao teto, p/ pagar assistência). Usar calamidade em 2021 ou capitalizar novamente a Emgepron são outros exemplos. Consultas foram feitas ao TCU.
Livro que já nasce como referência p/ debater o futuro das contas públicas no país. Fundamental!
Pra mim, satisfação enorme ter participado, principalmente porque o livro anterior do @FelipeSalto, c/Mansueto, foi dos que + me ajudou a aprender sobre finanças públicas no Brasil
Me refiro a este livro aqui, com textos de diversos especialistas e que também deve fazer parte das leituras obrigatórias de quem quer se aprofundar em temas fiscais no Brasil
Aproveito para indicar mais três livros essenciais na área, começando por este, do Fabio Giambiagi e Ana Cláudia Além, que é um clássico entre os estudantes de graduação do país
1. Quais os impactos da crise na macroeconomia (inflação e no juro real) no mundo?
Essa é uma pergunta interessante que traz implicações grandes para o país, uma vez que sairemos com uma dívida/PIB bem maior e seguiremos com amplas necessidades de investimento.
2. Para tentar pensar nessas questões, voltemos um pouco.
A tendência do juro real no mundo é de queda desde os anos 80. Essa tendência se intensificou pós crise de 2008. A inflação seguiu mais controlada do que nunca nos países avançados.
3. Por conta desse contexto, Larry Summers reintroduziu a discussão sobre estagnação secular (ES) em 2013. Os debates foram intensos na época, condensados nesse excelente livro
Blanchard diz que para termos um cenário com alta inflação, 3 coisas precisariam acontecer simultaneamente: (i) alta muito forte da dívida (mais do que o projetado hoje, em torno de 20-30 p.p.), (ii) súbito aumento da taxa neutra e (iii) cenário de dominância fiscal.
Ao multiplicar as probabilidades atribuídas a cada uma, no entanto, ele chega a apenas 3% de probabilidade conjunta. Predominariam as forças deflacionárias: commodities p/ baixo, folga no mercado de trabalho, poupança precaucional e incertezas afetando investimento.
1. A dívida bruta encerrou 2019 em 75,8% do PIB e deve ir p/ algo entre 85% e 90% do PIB no final de 2020. Uma aceleração grande, mas inevitável, dada a crise do vírus. O principal determinante para isso, além do próprio recuo do PIB, é um déficit primário bastante elevado
2. O valor do déficit, provavelmente acima de 550 bi (talvez até maior) se explica basicamente pela queda da arrecadação e, principalmente, pelas medidas que estão sendo adotadas para combater os efeitos da crise. Por isso, é importante que sejam muito bem desenhadas e efetivas
3. Após 2020, teremos dois problemas. Uma dívida bem + alta (em níveis inéditos) e um primário bem pior do que o projetado antes da crise, explicado por despesas + ou - iguais e uma receita que parte de um nível bem mais baixo.