Quem merece reconhecimento público pelo sucesso do Pix?

Eu já escrevi minha opinião: corpo de servidores do BC, vários diretores nas últimas 2 gestões, além dos presidentes Ilan e Campos Neto. Nada de Guedes.

Mas nunca expliquei meus motivos para escrever isso. Resumo num fio:
Por que ressaltar o corpo de servidores do Banco Central?

Porque é uma das instituições com mais técnicos qualificados dentre os vários braços do Estado brasileiro.

Isso dá consistência à atuação do BC mesmo com as mudanças de presidente e diretoria. E merece ser reconhecido.
O BC brasileiro tem um bom histórico quando o assunto é meios de pagamentos. Já me disseram que começou nos tempos de inflação, quando agilidade era crucial.

Mesmo anos antes do Pix, é notável trabalho do BC na popularização das maquininhas de cartão. Há uma certa tradição aí.
Chegando especificamente no Pix, é importante destacar o trabalho da diretoria liderada por Ilan Goldfajn durante o governo Temer. Isso se deu de duas formas:

1) A gestão Ilan definiu novas prioridades pro BC que, ao fim, viraram o Pix

2) E efetivamente começou a planejar o Pix
Sobre o ponto 1, Ilan logo que entrou deu grande prioridade à chamada Agenda BC+, que depois mudou o nome para Agenda BC#.

Esse texto da @infomoney sobre os 4 pilares da agenda é de dezembro/2016. É interessante notar como o Pix já estava ali em ideia.

infomoney.com.br/mercados/os-4-…
Exemplo retirado do texto:

"Segundo o presidente do BC, inovações tecnológicas estão acontecendo muito rapidamente no sistema financeiro e o BC está acompanhando atentamente. Ele citou, entre elas, inovações na forma de pagamento."

O tema já era prioridade 4 anos antes do Pix.
Quem acompanhou a gestão Ilan sabe que a Agenda BC+ foi muito priorizada. Não só no Pix.

O incentivo a bancos digitais e fintechs, cujas consequências são visíveis, também vem dali.

O Banco Central colocou diretores e servidores pensando no tema como agenda estrutural.
Em dezembro de 2018, ainda na gestão Ilan, o então diretor de política monetária Reinaldo Le Grazie publicou um comunicado sobre os "requisitos fundamentais para o
ecossistema de pagamentos instantâneos brasileiro".

São 3 páginas que podem ser lidas aqui:
bcb.gov.br/content/estabi…
O comunicado anuncia que o BC trabalhava no "desenvolvimento de um ecossistema de pagamentos instantâneos que seja eficiente, competitivo, seguro, inclusivo e que acomode todos os casos de usos".

Em resumo, basicamente era o BC anunciando que o Pix viria.
Interessante notar que o BC se comprometia, desde aquela época, com uma "estrutura flexível e aberta de participação, a fim de garantir o acesso e o surgimento de participantes que ofertem serviços inovadores e diferenciados que atendam às necessidades dos usuários finais".
Em agosto de 2019, já na gestão Campos Neto, o BC divulgou outro comunicado, assinado pelos diretores João Manoel Pinho de Mello e Bruno Serra Fernandes, detalha ainda mais o que se pretende com o que viria a ser o Pix.

bcb.gov.br/estabilidadefi…
Eu mencionei 3 diretores do BC acima e provavelmente outros foram fundamentais no projeto. Vale destacar quão qualificadas são as pessoas envolvidas.

Ex: João Manoel é um dos principais microeconomistas do país, professor titular do Insper, e já pesquisava concorrência bancária.
A gestão Campos Neto manteve a agenda de modernização como prioridade e lançou o Pix.

O modelo final do Pix foi anunciado em abril de 2020.

Em novembro, 4 anos depois daquela entrevista de Ilan que abre o fio, o sistema foi lançado.

infomoney.com.br/economia/bc-la…
Muita gente merece crédito pelo sucesso do Pix, mas importante lembrar que o projeto é do Banco Central, e não do Ministério da Economia. Foi por isso que escrevi esse tuíte abaixo há um tempo.

A neo-CPMF de Guedes é contrária aos princípios do Pix.

Você deve esperar novas mudanças no Sistema Financeiro Nacional, frutos da mesma agenda que gerou o Pix.

O Open Banking promete empoderar o usuário e acirrar a concorrência. Outro projeto prevê a possibilidade de manter moeda estrangeira em contas daqui. O tema veio pra ficar.
Uma dica final pros jornalistas que leram: acho que dá uma pauta boa.

Eu contei essa história do ponto de vista de um analista que acompanha os comunicados públicos do BC e viu a agenda ser construída.

Faltam depoimentos internos, apuração profissional, etc. Isso é com vocês.

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4 Jan
O liberalismo é de esquerda ou direita?

Essa resposta é bastante simples. A maioria dos estudiosos do liberalismo dizem o mesmo: historicamente, a tradição liberal tem gente na direita e na esquerda.

Como o assunto tem sido muito discutido, explico o que digo num fio:
Basta ler bem pouco sobre história do liberalismo para constatar que os liberais tem facilidade para atuar na esquerda e direita.

Não estou falando de um momento histórico isolado, mas de uma história recheada. Há exemplos no Reino Unido, Brasil e EUA, nos séculos 19, 20 e 21.
O Partido Liberal britânico, cuja importância na formação do liberalismo dispensa apresentações, foi fundado em 1859 por três grupos que discutiam política no Reform Club, um clube de debates em Londres.

Esses três grupos eram conhecidos como Whigs, Radicals e Peelites.
Read 18 tweets
2 Jan
Sem exagero: desde que fui no Flow, recebi umas 100 mensagens de jovens (geralmente do Nordeste) que pensam em cursar a graduação em economia numa faculdade do eixo RJ-SP.

Dada a época e a quantidade de gente interessada, segue um fio sobre o tema, baseado na minha experiência.
Se mudar (ainda mais para SP) sendo muito jovem, sem ter amigos ou família na cidade de destino, é bem difícil. Pouquíssimos interessados pensam a sério sobre isso.

Conheci muita gente que se deu mal. Vi CDFs virando péssimos alunos, entrando em depressão, etc. É sério. Reflita.
Até pra facilitar a adaptação, conheça as faculdades que te interessam. Se informe cedo e muito.

Não importa qual a melhor entre Insper, FGV-SP, FGV-RJ, USP e PUC-Rio.

Dentre essas opções, o que importa para escolher uma é saber qual a melhor *para você*.
Read 14 tweets
30 Dec 20
Por que eu estou otimista com a nova diretoria do Vasco?

Muitos torcedores de outros times se perguntam isso. Afinal, eu costumo ser bem cético com políticos e o Vasco tem os piores cartolas do país, uma política interna que faz a ALERJ parecer limpa.

Explico neste fio.
Antes de mais nada, é importante ressaltar que:

Eu não recebo 1 real do Vasco ou de qualquer pessoa ligada ao clube. Não tenho cargo. Nem chefe vascaíno eu tenho. Não vou auferir nenhuma vantagem pessoal com isso.

Dada a imagem da política vascaína, esse é um adendo importante.
Como argumento inicial, basta comparar o currículo dos presidentes no séc 21. Eurico, Dinamite e Campello não tinham experiência como grandes gestores no setor privado.

Jorge Salgado é uma referência do mercado financeiro nacional, vide matéria do Valor.

valor.globo.com/empresas/notic…
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13 Nov 20
Volta e meia, ouço por aí um papo de que "o Sudeste sustenta o Nordeste" etc. Aconteceu hoje.

Sobre a origem da desigualdade regional no Brasil, recomendo o @thaleszp.

Um fator importante no séc 19 foi uma política fiscal que quebrou o Nordeste para sustentar o RJ. Segue o fio:
Na virada do século 18 para o 19, a desigualdade regional brasileira não existia como conhecemos.

O Nordeste era o maior fornecedor do algodão que chegava em Liverpool. Uma tal de Revolução Industrial acontecia por ali. Mas o setor quebrou nesta época, quando a demanda explodia.
De todos os grandes exportadores de algodão, nenhum país teve uma performance pior que a do Nordeste brasileiro naquela época.

Pouco a pouco, regiões como o Sul dos EUA ocuparam esse espaço. O Brasil conseguiu a proeza de perder o bonde da história. Como isso aconteceu?
Read 16 tweets
23 Jun 20
O argumento de Silvio Almeida é ótimo na seguinte leitura: políticas que promovem desigualdade promovem racismo. Cabe discutir se toda austeridade fomenta desigualdade. O Real foi precedido por um pacote de austeridade. O Bolsa Familia ocorreu durante um ajuste fiscal. 1/5
No fim das contas, prefiro aproveitar o que considero melhor e mais correto no argumento dele - o antirracismo precisa ser incorporado na agenda econômica de quem pretende superar o probema. De um especialista em racismo, não espero ressalvas e nuances sobre política fiscal. 2/5
No fim, “austeridade é racista” ali significa “políticas anti-negro são racistas”. Se austeridade é anti-negro ou não, depende do significado que cada um dá à palavra. E eu duvido que Silvio e os economistas revoltados trabalhem com a mesma conceituação. 3/5
Read 7 tweets
31 Mar 20
A @CNNBrasil tem defendido o suposto "Grande Debate", afirmando que é um modelo aclamado no exterior. Não é verdade.

Nos EUA, a própria CNN cancelou o programa por reconhecer que prejudicava o debate público.

A história é curiosa e ensina muito sobre a imprensa. Conto + no fio:
O "Crossfire" (Fogo Cruzado, o Grande Debate deles) foi um dos programas de maior sucesso da CNN por 22 anos.

O episódio mais famoso foi ao ar em 15 de outubro de 2004. É um dos momentos mais marcantes da TV dos EUA. Foi o início do fim para o Crossfire, cancelado em dezembro.
O responsável por cancelar o Crossfire foi Jon Stewart, esse do gif abaixo. Ele apresentava o Daily Show e foi pioneiro ao misturar comédia com noticiário político. O programa fazia tanto sucesso que era transmitido no Brasil. O modelo do Daily Show foi copiado em todo o mundo.
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