Como estão os pacientes COVID após 6 meses da alta?
Maior estudo até agora @TheLancet: 1733 pacientes em Wuhan
➡️ 63% com cansaço ou fraqueza muscular
➡️ 26% com problemas de sono
➡️ 22% com perda de cabelo
➡️ 23% com sintomas de ansiedade/depressão
➡️ Mais sintomas em mulheres
A mediana de idade dos doentes foi 57 anos, a maioria sem comorbidade, 75% precisou de oxigenio suplementar (somente 7% ventilação invasiva/não invasiva, circulação extracorporea). Vale lembrar que como são doentes todos de alta hospitalar, o perfil de gravidade diminui.
Ficaram 14 dias (mediana) no hospital, 4% passou pela UTI, seguimento em 6 meses.
A lista de sintomas principais foi extensa, e comum. Mais frequente quanto maior a gravidade.
Avaliaram o escore de MRC modificado (avaliação de dispnéia/falta de ar), e o de qualidade de vida EQ-5D-5L com 5 dimensões. Aqui a maioria estava bem, embora sintomas de ansiedade, depressão e dor era frequente. 88% do predito no teste da caminhada de 6 min, e
e 35% com diminuição da função renal (clearance < 90). aqui estratificado por lesão renal aguda durante a internação.
Algo que chama a atenção é a avaliação global de saúde, com uma escala visual (0 seria a pior estado de saúde imaginável e 100 o melhor), ficou em 80. Aqui é um grande debate da auto-percepção de saúde, como medir, etc. euroqol.org
As x indices globais e subjetivos assim se correlacionam mais com eventos de saúde, gravidade prévia, do que índices mais complexos. Depende muito da cultura da sociedade onde foi aplicado, nível educacional, etc.
No geral, sem ajuste, mulheres tiveram mais sintomas (81% x 73%), aumento devido a alguns em especial... fadiga/fraqueza muscular, falta de ar, mobilidade.
Após ajuste para outras características, incluindo gravidade, etc, mulheres tiveram maior chances (odds ratio) de ter sintomas de ansiedade/depressão e fadiga.
Não é simples interpretar este achado e o estudo não foi desenhado para essa resposta. O modelo para melhor avaliar isso deve ser causal e levar em conta outros fatores e deve ser replicado. Um ponto importante que comento 👇: aqui os doentes sobreviveram e receberam alta, então
é uma análise condicionada à alta. Se lembrarmos q homens morrem mais de COVID, assim pode ser q nossa amostra tem mulheres q sobreviveram, porém tiveram mais sequela, isto é, os homens q sobreviveram tinham um perfil mais "protetor". Ao condicionar na alta, podemos criar viés.
Pulmões: fizeram testes de avaliar a capacidade pulmonar em algumas dimensões, entre outros numa amostra q chegou a 390 pacientes. Em termos de função pulmonar, uns 10% apresentaram algo e variou bastante com a gravidade, como esperado. Diminuição da DLCO foi relativamente alta.
Nas tomografias de alta resolução, opacidades em vidro fosco foram encontradas entre 40-45% dos casos. No geral, 50% dos casos tinha algo, numa coorte de poucos fumantes (92% nunca fumou). Lembrando que na China tem bastante poluição do ar.
As lesões e sequelas tendem a melhorar. Aprendemos isso em pneumonia internada, doentes graves de UTI, trauma, etc. No H1N1, muitos doentes melhoram bastante com o tempo, outros não. Ainda vamos aprender melhor e ter mais dados de seguimento dos doentes COVID-19. Não sabemos se
as sequelas serão maiores ou não de acordo com gravidade, se comparadas a outras infecções, por exemplo. Vale lembrar que o volume de infecções é altíssimo, e alguns aspectos mostram o COVID com maior número de lesões em vários órgãos, etc. Também como doentes com COVID morrem
mais no hospital, temos que criar matematicamente o que seria se eles não morressem (conterfactual), para comparar com outras doenças. O que vemos após alta são doentes que sobreviveram, e parte disso pode ser por várias razões que ainda não conhecemos.
Estudos de seguimento a longo prazo dependem de quando vc começa o seguimento (vou colocar um comentário abaixo que publicamos discutindo algo para doentes em UTI). Neste estudo são 6 meses após alta. Então são doentes que já passaram a fase de maior risco: internação hospitalar.
Outro ponto importante são doentes que perdemos o seguimento (se mudaram, não querem participar, tem sequelas que não permitem avaliação), ou morreram. EM geral tentamos ajustar para isso (análise de riscos competitivos, imputação, etc... olhem @improvelto). Isso pq? Porque
muitas vezes os doentes que morreram, por exemplo, provavelmente teriam a pior qualidade de vida antes de morrer. Ou quem você perdeu, pode ser os que estão melhor (se forem jovens) ou porque estão pior (mais vulneráveis, etc). Neste estudo eles perderam uma quantidade razoável,
mas a maioria era por causa de várias condições (quadro acima), levando a qualidade de vida para ambas direções: melhor/pior. De todo modo, é uma coorte bem grande e com muito dado analisado.
Nosso comentário sobre um aspecto do pós UTI abaixo
Outros aspectos de seguimento pós doença são: readmissões, retorno ao trabalho, mortalidade, custos adicionados e/ou perdidos pela doença. Eu vou voltar neste tema.
Também devo voltar para falar de seguimento pós-UTI.
Outro estudo grande de sintomas foi relatado pela @luizacaires3.
Vale lembrar que este estudo é importante, porém foi coletado via questionário de internet, o que pode representar uma população diferente da geral e ser mais subjetivo.
Hospitalizados em Manaus desde 25/12. Muitos doentes com suspeita devem esperar testes.
Quando avaliamos hospitalizados em UTI, ventilados e leitos de enfermaria, importante entender que existe um gargalo ("bottleneck"). As vezes pode parecer que parou de aumentar número de internados ou UTI, mas é pq não tem mais leitos. Precisamos ver a demanda.
Essa semana saiu este caso raríssimo de um paciente, 61 anos, com diagnóstico de Linfoma de Hodgkin associado ao vírus Epstein-Barr.
Diagnóstico do câncer (esquerda) // COVID-19 // após 4 meses remissão importante (direita)
Esse exame é um PET com marcador FDG. As massas em preto são onde há atividade da doença (era um LH estadio III). Os autores remarcam que o paciente não recebeu nenhum quimioterápico, nem corticoide.
O mecanismo aventado, já visto em outras infecções, é que o Sars-CoV-2 ativou a
resposta imune contra o câncer, por vias de reação cruzada de antígenos reconhecido por células-T e também via imunidade inata.
As cópias do vírus Epstein-Barr também caíram bastante.
➡️Mãe internada na UTI que se protegeu mas ficou com vergonha de não abrir a porta de casa um tio que insiste na ideia que a doença não existe (internado também)
➡️Pai e Mãe internados e o filho de 3 anos ficou com amigos pq moram longe de parentes
➡️Marido de professional da saúde que morreu e a esposa teve que voltar pro fronte mesmo em luto
➡️Um Natal que resultou em 10 familiares internados: dividem 2 quartos e 3 na UTI
➡️Instrutor de curso de atualização presencial na empresa que sabia ser positivo e foi dar o curso
👀 Pessoas que propagam mais mentiras por minuto do que respiram e não tem a menor vergonha
👀 Intelectuais com mais de terceiras intenções falando abobrinhas, que por sua vez resultam em mais sequelas e mortes
👀 Políticos que seguem cagando para economia e para pandemia