O estrago marketeiro que Dória produziu sobre a vacina do Butantã lembra muito a escorregada dele, ainda prefeito, no caso da Farinata – a ração humana.
Explico neste fio.
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Empolgado com as ações de marketing em sequência, o então prefeito não se deu conta de que propor alimentar pobres com ração pegaria mal. Não deu bola para admoestações de seus auxiliares e foi em frente, achando que iria abafar com mais uma medida de impacto. Saiu chamuscado.
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Agora, percebeu corretamente a importância da vacinação para superar a pandemia, mas se enrolou nas próprias pernas, exagerando na tentativa de faturar em cima. Envolveu cientistas do Butantã em sua campanha de autopromoção, forçando a barra na divulgação de prazos e dados.
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Assim, em vez de se diferenciar de BolsoNero como o governante sensato, apareceu na foto como oportunista exagerado. Não dá pra dizer que a foto é infiel à realidade. De quebra, produziu expectativas exageradas, que comprometeram a recepção dos dados reais sobre a eficácia.
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Os especialistas têm agora esforço redobrado: não só convencer as pessoas da importância da vacinação, contra a campanha obscurantista de BolsoNero, mas convencê-las de que a Coronovac, com eficácia pouco maior que 50%, é uma boa vacina.
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O próprio Dória, ao anunciar apenas os números melhores (78% e 100%) na semana anterior, produziu desconfiança quando se revelou o dado de 50,4%.
Resumo da ópera bufa: faturou menos do que poderia em cima da vacina e ainda contribuiu para desacreditá-la injustamente.
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Esse era jogo pra jogar parado, dando à ciência o tempo e a forma adequados para divulgar os resultados. Ao tornar essa divulgação refém de sua ânsia marqueteira, comprometeu o próprio marketing.
Como diz o adágio, “esperteza, quando muita, vira bicho e come o dono”.

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More from @claudio_couto

19 Jun 20
A discussão sobre a banalidade do mal no governo BolsoNero, que teve lugar nos últimos dias, parece ter tido um problema de foco.
A banalidade do mal não concerne só a ser membro de um governo que perpetra barbaridades, mas de ser cúmplice - especificamente - das barbaridades.
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Desse modo, os servidores públicos de um modo geral, que seguem fazendo seu trabalho diligentemente, não podem ser considerados parte dos que banalizam o mal. Mesmo porque, o Estado precisa continuar funcionando para nos prover serviços básicos, independentemente do governante.
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A coisa se complexifica na medida em que sobe na hierarquia governamental e sai da dimensão puramente burocrática para adentrar à política - mas não só.
Por dimensão burocrática entenda-se não apenas ser um servidor comum, mas dar seguimento a atividades corriqueiras e normais.
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17 Jun 20
Ao apelar novamente para “o povo”, como se esse fosse um ente unitário e, assim, unitariamente houvesse lhe apoiado na eleição – e ainda continuasse apoiando –, BolsoNero comete diversas falácias populistas e, portanto, autoritárias.
Vamos a elas.
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1) Não há povo unitário. Em democracias, necessariamente, o povo é composto de uma imensa pluralidade de indivíduos, grupos sociais, visões de mundo, valores, ideologias, preferências, interesses etc..
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2) A suposta vontade do povo não se expressa de forma definitiva na eleição. Essa vontade – que não é unitária, tendo em vista a já mencionada pluralidade – também não é permanente; muda o tempo todo. O que se decidiu num momento não vigora necessariamente depois.
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Read 7 tweets
13 Jun 20
A péssima entrevista do péssimo General Ramos chamou muito a atenção pela ameaça semivelada de golpe. Mas há outros pontos interessantes.
Vamos a eles.
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Normalizou o presidencialismo de coalizão, cuja detratação foi fundamental para eleger BolsoNero. Ele tem razão no que diz sobre a normalidade de dividir o poder com quem tem voto no Congresso e entrega. Porém, dizer que era anormal foi crucial para hoje ele estar nesse cargo.
+
Claro que disse que há diferença, afinal com eles o Centrão leva, mas não rouba. Colocaram “gente nossa” para controlar o cofre. Ou seja, a solução não vem da negação da política, mas dos “homens de bem” nos lugares certos. E os homens de bem são eles. ¡La garantia soy yo!
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12 Jun 20
Há quem interprete a nova barbaridade proclamada por Bolsonaro como cortina de fumaça. Nomeou genro de Silvio Santos, criando novo Ministerio, agradando simultaneamente PSD e mídia chapa-branca. Daí, insuflar bolsominions a invadir hospitais seria diversionismo.
Será?
+
A teoria da cortina de fumaça vem desde o início do governo, mas não me convence. Primeiro, porque proclamar absurdos sempre foi o modus operandi bolsonaresco, desde que entrou na política. Não havia o que cobrir com cortinas de fumaça. O ultraje é o que o Bolsonarismo entrega.
+
Foi assim que se construiu o “mito”. Para a patuscada, sedenta por um discurso ultrajante, isso é um maná. Mobilizar incessantemente a turba é a finalidade principal desse governo-movimento. As políticas públicas propriamente ditas, importam pouco.
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7 Jun 20
Haverá momento, em futuro não distante, em que a participação e apoio ao desgoverno BolsoNero serão uma nódoa indelével. Os cúmplices desse projeto criminoso, em cargos ou na sociedade civil, serão vistos como párias. Alguns farão o mea-culpa e talvez tenham alguma redenção.
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Outros, covardes, tentarão se esconder, ou negar o que fizeram e o que coonestaram. A fila dos ignominiosos será puxada pelos militares brasileiros, que permanecem associados a esse projeto nefasto, maculando a farda. Mas não estarão sozinhos em breve, como já não estão agora.
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Terão a companhia da bolsoburguesia canalha, que apoia qualquer coisa, desde que ache que será bom para seus negócios. Ou, pior ainda, a bolsoburguesia facinora, que apoia até mesmo sabendo que atrapalha os negócios. Mas ela também não estará sozinha, como já não está agora.
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23 Apr 20
Não custa lembrar: o “Centrão” não é de centro.
Trata-se de um nome-fantasia, um eufemismo para denominar o que pode ser mais propriamente chamado de direita fisiológica adesista.
Embora seja formado por partidos e políticos de direita, essa não é sua única característica.
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São fisiológicos porque seu principal intuito é obter ganhos relacionados a verbas e cargos públicos em contrapartida a apoio legislativo.
São adesistas porque seu fisiolgismo os leva a aderir a quaisquer governos, mesmo de campos ideológicos opostos, pragmaticamente.
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Portanto, relativizam e moderam suas posições ideológicas em prol dos ganhos fisiológicos, mediante adesão.
Por isso se aliaram a governos tão distintos ideologicamente como Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma, Temer e, a se confirmarem os atuais acertos, Bolsonaro.
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