Com Collor foi a mesma coisa. Tanto que os jornais passaram a publicar placares com a evolução da votação à medida em que o pedido era analisado no Congresso.
Os institutos estão tendo dificuldade para ouvir a opinião pública. Se vão as ruas, flagram mais negacionistas do isolamento social. Se pesquisam por telefone, ouvem mais membros da elite e militantes dispostos a defender seus candidatos.
Na dúvida, basta lembrar da dificuldade que tiveram para se aproximar dos resultados das eleição municipais brasileiras de 2020, e a da eleição americana de novembro passado.
O Atlas Político, que foi quem teve o melhor desempenho na eleição de 2020, já apontou em artigo o viés de institutos de concorrentes. E foi um raro trabalho a ver a popularidade de Bolsonaro aproximar-se dos 20% antes do auxílio-emergencial...
...O mesmo auxílio-emergencial que deixou de ser pago em dezembro.
No mais, isso aqui é um recorte da Folha de julho de 1992. Já estava praticamente "tudo certo" para o impeachment. Apenas 53% dos brasileiros defendiam o afastamento de Collor. Collor foi afastado dois meses depois.
Só tem nova eleição em caso de cassação. No caso do impeachment, Hamilton Mourão assume a Presidência da República após o recebimento do pedido no Senado. Exatamente como rolou com Itamar e Temer:
A base política vai reagir à opinião pública. A opinião pública vai reagir ao noticiário. O noticiário vai pegar fogo no dia que @RodrigoMaia aceitar algum pedido de impeachment de Bolsonaro. Foi assim quando Eduardo Cunha aceitou o de Dilma.
O centrão também era a base de Dilma. Tanto que Eduardo Cunha pediu votos para Dilma em 2010. O sempre migrará para o lado que irá vencer. Foi assim que migrou de Alckmin para Bolsonaro na eleição de 2018.
O golpe de Bolsonaro precisa do apoio das Forças Armadas. Mas um general do Exército é o principal beneficiado por um afastamento de Bolsonaro por impeachment.
Que de fato é alguém com muitos defeitos. Mas precisaria governar sem apoio da esquerda, e sem apoio da direita (pois esta continuaria apoiando Bolsonaro na oposição). Então, teria pouca margem para aprovar insanidades.
E, apesar de não ser um bom exemplo, o Brasil já foi presidido por um general em período democrático. Ao término dos 5 anos de mandato, Gaspar Dutra entregou o cargo a Getúlio Vargas.
Mais dois anos de governo Bolsonaro seriam muito pior para a credibilidade do país do que um terceiro processo de impeachment em menos de 30 anos (os EUA estão no terceiro em menos de 25 anos, o segundo em dois anos).
Em julho de 1992, PT, PMDB e PSDB ja tinham se decidido pelo impeachment de Collor. Dois meses depois, o presidente seria afastado do cargo. Olha o tamanho dos protestos...
Segundo a PM, apenas 400 pessoas atenderam ao chamado da CUT, CGT e três partidos de oposição.
Faltando menos de 50 dias para Collor ser afastado, o PT só conseguia levar 10 mil pessoas às ruas. E, mesmo assim, somando o público de 4 cidades.
Para efeito de comparação, em 15 de maio de 2019, antes de Lula proibir a oposição de fazer protestos contra Bolsonaro (sim, se informem, não canso de citar isso no meu próprio perfil), a oposição a Bolsonaro lotou ruas de 222 cidades do país. g1.globo.com/educacao/notic…
FHC disse isso de Lula. Lula foi reeleito, fez a sucessora e a sucessora ainda se reelegeu. Se depender do momento perfeito, Renan Bolsonaro fará o sucessor em 2050.
Sabotou os esforços do país para conter uma pandemia, quebrou seguidamente com o decoro do cargo, montou uma agência de espionagem clandestina dentro do Palácio do Planalto para perseguir adversários, promove a destruição do meio ambiente, aparelha as...
...forças policiais para perseguir adversários, montou dentro do Palácio do Planalto um gabinete para espalhar desinformação colocando a vida da população em risco, forçou a alta do dólar para arrancar bilhões de reais do Banco Central, é escancaradamente racista, homofóbico...
...e xenofóbico, e já chegou até mesmo a confessar a participação nos esquemas que desviavam verba do gabinete do filho em investigação que vem tentando sabotar com direito a ameaças ao Ministério Público.
Para começo de conversa.
Próximo.
Falta, na verdade, os eleitores da oposição se tocarem que a oposição vem preferindo manter Bolsonaro no poder pois possui interesse em inutilizar ferramentas de combate à corrupção. E cobrar desses opositores que façam oposição de verdade a Bolsonaro.
Olha lá. O impeachment de Dilma começou com 180 votos. Com menos de 342, ela não seria afastada. A votação é construída na Câmara. Assim como é construída a votação de qualquer projeto que tramita por lá:
Não vai ter reformas. Bolsonaro é contra. Já sabota desde 2019 qualquer esforço de Guedes. Tentou sabotar até a mesmo a reforma da Previdência, que só passou por esforços do Congresso.
A elite econômica também confiava em Collor. E torcia para a CPI do caso PC dar em nada. O pato da FIESP também demorou a aparecer nos protestos pelo impeachment de Dilma, pois estava todo mundo muito empolgado com o BNDES.
Getúlio se suicidou. Clinton não fez o sucessor, nem conquistou maioria na Câmara ou no Senado. FHC passou a faixa a Lula e passou uma década sendo ignorado pelo próprio partido. Temer não conseguiu nem se candidatar à reeleição...
Eduardo Cunha aceitou o pedido de impeachment de Dilma em 2 de dezembro de 2015. A Câmara Federal votou o pedido em 17 de abril de 2016. Sabe quando a oposição conquistou os votos necessários para a aprovação do pedido? Faltando 4 dias para a votação: gauchazh.clicrbs.com.br/geral/amp/2016…
Então, se quiserem continuar a empurrar o impeachment de Bolsonaro para o dia de São Nunca, que inventem outra desculpa. Não é falta de voto. Pois os votos são conquistados com o pedido já em análise na Câmara. Foi assim também com Collor.
Também sigo aguardando o exemplo de presidente que sobreviveu a um pedido de impeachment e saiu dele mais forte. Getúlio se matou. FHC não fez o sucessor. Trump perdeu a reeleição. E Temer, que derrotou dois pedidos de investigação, não conseguiu nem se candidatar à reeleição.
Finalmente conferi The Last Czars. Apesar da estranha mistura de documentário com drama (o que dá um ar de “filme para a TV” à coisa), a série flui bem.
A história a gente já conhece. É a mesma que professores nos contavam no segundo grau em no máximo 15 minutos. Um dos meus, inclusive, não conseguia disfarçar o sorriso ao chegar a este ponto do livro.
Mas é tanta barbaridade, estupidez e desgraça de todos os lados que eu terminei os seis episódios me perguntando como alguém consegue mergulhar ainda mais fundo nesses acontecimentos e sair do mergulho disposto a celebrar aquilo num bloco de carnaval.
Em 2011 testemunhamos no vão do MASP um protesto neonazista a favor de Bolsonaro. Da dúzia de pessoas que compareceu, mais da metade findou presa. noticias.uol.com.br/politica/ultim…
Em 2020, extremistas atacaram o STF com fogos de artifício em mais um ato cheio de referências supremacistas. Nove dos pouco mais de 20 "manifestantes" foram presos: metropoles.com/brasil/policia…
Há seis dias, vimos mais uma gangue de supremacistas atacar o Congresso americano. Mais de 90 pessoas foram presas num intervalo de três dias. g1.globo.com/mundo/noticia/…
Eu me sinto dizendo o óbvio, mas infelizmente, quando o óbvio é incômodo, a memória dos fãs não o registra.
Então é preciso repetir:
Lula só aceitou ser ministro de Dilma para evitar ser preso. Mas aquilo só serviu para ampliar ainda mais a rejeição de Dilma.
Lula só se candidatou à Presidência em 2018 porque achou que não prenderiam o líder da corrida presidencial. Mas o prenderam mesmo assim.
Lula insistiu em ser candidato mesmo preso na esperança de que os eleitores o libertassem pelas urnas. Mas a estratégia do grande estrategista deu tão errado que o Brasil findou presidido por Jair Bolsonaro.
Desde que, pela primeira vez, ouvi o Tommy, imaginei que seria divertido entrar 2021 cantando 1921. Ainda sem um bom domínio do inglês, eu não percebia que a letra abordava justamente o trauma que deixaria cego, surdo e mudo o garoto do título.
Décadas se passaram, já consigo ler e ouvir em inglês com razoável tranquilidade, mas ironicamente me sinto preso a um país cada dia mais cego, surdo e mudo.
Eu não vejo o Brasil como um caso único. Um ótimo professor já me ensinou que a história é lógica, com cada grande acontecimento reagindo a acontecimentos anteriores, sendo raros os casos em que poucos indivíduos atuam como motores de tais mudanças.