Tatuagens da Senhora de Cao, a primeira mulher governante da América pré-colombiana.
A pele do antebraço, mãos, tornozelos e dedos dos pés mostram, com total clareza, desenhos de cobras, aranhas, e caranguejos, animais que o simbolismo mochica relacionava com o divino.
A senhora de Cao ou Dama de Cao é o nome dado a uma mulher da cultura Moche descoberta em 2006 pelo arqueólogo Régulo Franco no sítio arqueológico El Brujo, cerca de 45 km ao norte de Trujillo, no Departamento de La Libertad.
Antes da descoberta, pensava-se que apenas homens ocupavam cargos importantes no antigo Peru.
Acredita-se que a senhora tinha status de governante na sociedade teocrática do vale do rio Chicama e era considerada um personagem quase divino.
Os símbolos das tatuagens indicam que a Senhora de Cao era considerada uma mulher com poderes sobrenaturais e elevada ao grau divino de semideusa.
Ela provavelmente trabalhou como xamã, e uma de suas habilidades era ler mensagens no céu de acordo com o movimento das estrelas.
As imagens tatuadas na pele da Senhora de Cao se repetem nas paredes do templo, a coincidência do repertório iconográfico sobre a pele da Senhora com os murais das pirâmides levantam uma analogia:
Seu corpo e o templo seriam a residência do sagrado.
Enquanto a serpente era o símbolo das águas que desciam das montanhas andinas, tatuada em sua pele, ela significava o poder de governá-los.
A aranha, ao contrário, simbolizava seu dom mágico e divino para operar aquele prodígio e outros.
Segundo Ignacio Alva, a aranha foi considerada um ancestral civilizador e teria sido um das divindades mais importantes e permanentes ao longo de 1.500 anos nas religiões Cupisnique e Mochica.
As aranhas, continua Alva, são criadoras e geradoras, pois do fio que secretam criam um cosmograma.
O centro da teia é o princípio dinâmico de origem, a estrutura concêntrica e o traçado helicoidal dos fios simbolizam a trama em espiral do universo e sua evolução contínua.
A aranha tatuada na Senhora de Cao seria o emblema de seu poder mágico: A capacidade de gerar a substância primordial da criação do cosmos, tecer com ela a trama do universo e administrar sua evolução contínua, como os ritmos da natureza e o cumprimento do ciclo das estações.
Nos laboratórios de Microscopia Eletrônica de Varredura do Museu de Ciências Naturais de Madrid, foi iniciada uma investigação em que se analisou a composição dos pigmentos usados para fazer aquelas tatuagens.
Resultado: No caso do corante vermelho de uma das amostras, verificou-se que era cinabre, ou seja, sulfeto de mercúrio. Na área tatuada foi encontrado óxido ferroso, com vestígios de ferro elementar e outros elementos químicos, esse pigmento dá à pele uma coloração preto-azulada.
Em textos sobre botânica pré-hispânica, sugere-se que esse corante pode ser encontrado no suco dos frutos imaturos da Jenipapeira.
Acredita-se que essas tatuagens Mochica foram feitas com diferentes tipos de agulhas, como ossos de peixe, penas de papagaio, apêndices espinhosos de conchas, etc.
A técnica consistia em perfurações na pele e, em seguida, introdução da cor.
Outro fato interessante é que também há suspeitas de que as mulheres eram as artistas que se dedicavam a essas tarefas.
Todo o simbolismo pintado na senhora de Cao garantiu que mesmo após sua passagem o divino continuasse vivendo em sua pele por todos esses anos, e de quebra, garantiu uma melhor interpretação de sua pessoa e papel na sociedade Moche pelos arqueólogos de hoje.
Fontes: Arqueología del Peru, El Brujo/Peru, Peru Conócelo.
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Infelizmente, parece que o #Enem2020 não vai ser adiado, o que é lastimável, mas, tendo isso em mente, que tal umas enquetes com questões de vestibulares passados sobre civilizações pré-colombianas?
Vamos 👇
1- Três dessas civilizações têm a região que ocuparam identificada no mapa.
Assinale a alternativa que associa corretamente o número ao povo que ali se estabeleceu.
Desabafo: Não aguento mais ouvir/ver que indígenas pré-colombianos do atual território brasileiro eram “primitivos”, “preguiçosos”, “pouco desenvolvidos”, quase que apenas “caçadores-coletores” e também comparações com outras civilizações de Abya Yala (Américas)
Faz tempo que to querendo fazer uma thread sobre arqueologia brasileira pra desmentir esses mitos que estão (muito) longe de serem verdades, eu só peço um pouquinho mais de paciência porque to na busca por um pc/laptop pra poder expandir pesquisas e trazer um material melhor
Além desse tem outros temas e projetos que também to planejando faz um tempo mas que apenas com o celular fica difícil de botar eles em prática, mas é isso, se tudo der certo jaja os conteúdos por aqui devem dar uma melhorada 🙏❤️
A arte de organizar, colocar ou construir monumentos e edifícios em locais específicos e a de divinação com elementos terrestres.
Segue o fio 🧶👇
Para muitas culturas, as práticas geomânticas envolviam o contato direto com as energias da Terra, alinhamentos astronômicos, geometria, espiritualidade, montanhas, poços e fontes sagrados, etc, como formas de compreender, viver e manipular o ambiente.
No entanto, a geomancia e a arqueologia apresentam alguns debates e pontos de vista diferentes sobre o intuito da localização de monumentos.
Mas aqui, como sabem, além de focarmos na arqueologia, também é um espaço pra tradições espirituais.
Você pode achar que os anticoncepcionais são produtos recentes da ciência ocidental moderna, mas curandeiros e parteiras indígenas nas Américas usaram o conhecimento botânico para fornecer abortivos às mulheres muito antes do contato com os europeus.
“Embora as evidências históricas restantes nem sempre revelem a natureza das substâncias usadas pelas curandeiras, sabemos que alguns dos primeiros remédios vegetais tinham propriedades ‘psicodélicas’ e anticoncepcionais ou causadoras de aborto.
O conhecimento cuidadosamente preservado e escondido das mulheres sobre essas plantas tem sido contestado na lei e na medicina, tornando ainda mais importante olharmos para trás e ver como as mulheres participaram da proteção de informações sobre remédios botânicos no passado.”
📍: Óbidos, região do Baixo Amazonas, rio Tapajós, estado do Pará, Brasil. 🇧🇷
🏛: Museu Nacional do Rio de Janeiro, Brasil. 🇧🇷
Os muiraquitãs, comuns em forma de rãs, mas também de aves, peixes e outros animais, eram fabricados quase sempre em pedras verdes, como jade, nefrita e amazonita.
Utilizados como pendentes, aparecem também adornando toucados femininos de estatuetas em cerâmica de Santarém.
Envoltos em tradições, os muiraquitãs são considerados poderosos amuletos contra malefícios.
Ao que tudo indica, Santarém foi o seu centro de produção, embora haja uma dispersão considerável de peças desse tipo por causa das extensas redes de trocas e de difusão ideológica.