O animismo é um aspecto religioso que na antropologia infelizmente sempre foi alvo de teorias evolucionistas e colonialistas, categorizado como um entendimento de pessoas “primitivas”.
Mas isso está longe de ser verdade!
Segue o fio 👇
A definição moderna de animismo é a ideia de que pessoas, animais, características geográficas, fenômenos naturais e objetos inanimados podem possuir uma essência espiritual, significativa ou simbólica que conectam religiosamente uma sociedade.
O animismo é um aspecto religioso e construção antropológica usada para identificar fios comuns de espiritualidade entre diferentes sistemas de crenças, o animismo pode ser percebido, principalmente, em muitas culturas indígenas e aborígenes.
A ideia e o termo veio com Edward Tylor no livro “Cultura primitiva” na qual busca traçar a forma mais antiga de religião dentro de um quadro evolutivo que se desenvolve em estágios e que acabará por levar a humanidade a “rejeitar a religião em favor da racionalidade científica.”
A perspectiva colonialista de Tylor o levou a encaixar o animismo como algo que sociedades “primitivas” manifestam pois não conseguem “distinguir humanos do resto” e também sugere que o animismo surge a partir de sonhos ou observações “errôneas e não científicas” de fenômenos.
Obviamente, as ideias e concepções de Tylor são muito debatidas no meio antropológico, assim como sua sugestão de que houve uma forma “primitiva” e universal de religião que deu base a todas as outras, tirando toda a complexidade e variantes religiosas em diferentes sociedades.
A verdade é que é difícil definir o animismo, antropólogos, etnólogos, etnógrafos, estudos religiosos e especialistas também se debatem com os termos ao refletir sobre a multiplicidade de sociedades animistas, tanto no mundo contemporâneo quanto historicamente.
Por isso, vamos tentar focar de forma generalizada, passando por alguns exemplos, de como o animismo se desenvolve e se manifesta em sociedades humanas:
A relação homem-ambiente é de extrema importância pro animismo, é um sistema de valores enraizado, baseado no respeito e reverência pela terra e o que nela habita, um relacionamento e entendimento do ambiente como algo mais do que humano mas uma teia viva repleta de senciência.
Eventos terrenos não estão separados de suas causas espirituais, os espíritos influenciam e podem decidir o rumo de pessoas, povos e lugares, por essa razão, os humanos prestam muito respeito a esses espíritos por meio de rituais e oferendas.
Rituais, danças, oferendas e outras atividades são métodos importantes em muitas culturas animistas pois ajudam a estabelecer a ordem e balanço cósmico e ambiental, é importante não entendê-los como “superstições”, mas parte fundamental de entendimentos e observações culturais.
Para os animistas, a comunidade consiste não apenas em pessoas vivas, mas também em falecidos, os nascituros e, muitas vezes, um totem, geralmente um animal ou planta que deriva da mesma fonte de vida dos humanos na comunidade e compartilha um relacionamento com eles.
O animismo tem seus locais de importância, grupos moldam seu ambiente materialmente, mentalmente e emocionalmente, dão sentido a ele e são moldados por ele, também revelam partes das cosmologias locais, contos e eventos passados na paisagem e a relação entre lugar e histórias.
Em sociedades austronésias, os caminhos são cruciais para a criação de território e senso de lugar. Já no sudeste e sul da Ásia geralmente não mostram tal importância dos movimentos e viagens, mas sim uma sensação de imobilidade e permanência, ancorada na Terra.
Em sociedades animistas, os lugares podem ter memória. Certos cemitérios de xamãs mongóis Daur são cobertos por marcos de pedra conhecidos como ovoo onde rituais budistas atraem estrangeiros enquanto recorrem às memórias dos espíritos xamânicos e divindades budistas presentes.
Os Apache consideram que certos locais contêm memórias e a sabedoria.
Uma vez que a sabedoria está nesses lugares eles memorizam histórias, tradições e ritos com conhecimentos sobre os tais lugares que podem ajudá-los a resolver conflitos na comunidade ou tecer conselhos.
Os estudos sobre o animismo costumam apontar a importância de animais carregados de potencialidades animistas.
Os espírito-animais referem-se aos espíritos ou “almas” atribuídos aos animais que podem ser considerados a sede da consciência e motivação de um animal.
No animismo, os animais mostram sensibilidade, consciência e motivação para agir por meio de seus relacionamentos com os humanos.
Maneiras de se relacionar com a senciência animal são reveladas pelas maneiras como caçadores e xamãs, em particular, tratam os espírito-animais.
Os Evens da Sibéria, por exemplo, consideram que os espíritos dos animais que eles caçam no clima ártico são os mestres-pais de todos os humanos.
Como pais, os espíritos animais podem ter pena de seus filhos, que incluem o povo Eveny, oferecendo-se como alimento para comer.
Um animal caçado não faz esse sacrifício levianamente, mas "se entregará apenas quando a relação entre o caçador e a presa for hierárquica" ou seja, quando o ser humano precisar comer de sua carne para sobreviver.
Para este fim, os caçadores procuram estabelecer "contato social" com as presas de forma que os façam parecer vulneráveis, não é uma tarefa fácil, uma vez que os caçadores adquirem um "corpo fechado" com a idade que protege contra os ataques dos espíritos dos animais selvagens.
Os caçadores, portanto, usam uma criança como "isca" para atrair um animal que terá esse sentimento de “pena”.
A primeira caçada da criança é organizada em torno dessa tática, na qual o animal é atraído para perto pela criança para que o caçador adulto possa matá-lo.
Em seguida, o caçador incumbe a criança de carregar a presa para casa nas costas de uma rena guardiã, o que afasta a vingança do espírito do animal da criança, mas ele pode se vingar do caçador adulto por tê-lo enganado e se entregado.
Assim, o caçador implora ao espírito do animal após a morte que, “você veio a mim por sua própria vontade, por favor, tenha piedade de nós e não nos prejudique”.
Entre os Waorani da Amazônia assassinatos por vingança podem ser executados em xamãs que usam espíritos de animais para realizar ‘feitiçaria’.
Os Waorani temem essas mortes, que podem desencadear um perigoso ciclo de mortes que continuam mesmo depois do falecimento do xamã.
Uma vez que o corpo do xamã "é habitado por seu espírito-jaguar adotado (meñi)" à noite, quando pode atacar e matar qualquer pessoa nomeada, os Waorani aconselham uns aos outros a não falar com xamãs durante este período perigoso.
O perigo é agravado pelo fato de que os xamãs Waorani se relacionam com espíritos-jaguar como crianças adotivas que retribuem o cuidado a seus mestres.
Assim eles podem descobrir que o "espírito jaguar órfão do xamã continua a viver e matar pessoas de tristeza e raiva”
O entendimento animal-animista também pode ser de certa maneira simbólica, um exemplo dessa compreensão do comportamento animal ocorreu em um pow-wow realizado pelos Mi'kmaq na qual uma águia sobrevoou o encontro, circulando o grupo de participantes.
Os participantes reunidos chamaram a kitpu ('águia'), dando as boas-vindas ao pássaro e expressando prazer com sua beleza, e mais tarde explicaram a visão de que as ações da águia refletiam sua aprovação do evento e o retorno do Mi'kmaq às práticas espirituais tradicionais.
Sociedades animistas também veem a flora e a vida das plantas e dos fungos como interagindo com os humanos de acordo com uma relação mútua e de respeito, desde a coleta à alimentação, assim como para usos medicinais e religiosos.
A interação humana com o espírito das plantas é muito comum entre povos indígenas e parte integral, também, do xamanismo, já em tempos recentes, na Amazônia, o termo ‘Vegetalismo’ vem sendo aplicado para a prática de cura através de plantas de seus descendentes ou “mestiços”.
Em contraste com o xamanismo indígena na Amazônia, que se baseia em um ambiente florestal e cujo foco é manter ou restaurar o equilíbrio social e natural, o vegetalismo se baseia em um ambiente mais urbano e se concentra em curas individuais.
Os vegetalistas mantêm relações com os espíritos das plantas medicinais, frequentemente aparecendo na forma humana, e espíritos protetores, aparecendo como animais ou humanos, assim como como outros seres espirituais, mas mantendo um entendimento animista dessas plantas de poder.
Em comunidades Maori é costume oferecer karakia (encantamentos) para a batata-doce enquanto a desenterram, mostrando a existência de uma relação de parentesco entre os Maori e a batata-doce, sendo ambos entendidos como tendo chegado juntos a Aotearoa (🇳🇿) nas mesmas canoas.
O animismo projetado em objetos e artefatos sagrados também é muito comum pois estabelece o espírito daquilo que foi feito a mão no intuito de ser usado como parte das cosmologias, tradições, símbolos, e identificação de uma cultura.
Máscaras, por exemplo, são uma parte importante do animismo em muitas culturas africanas.
Feitas de folhas, palha, madeira e tecido, elas simbolizam o culto aos ancestrais e aos espíritos e desempenham um papel importante durante as comemorações dos ritos e ciclos da vida.
De acordo com muitas tradições, durante a cerimônia, a música frenética e a dança transformam o hipnotizado usuário da máscara em um espírito que se comunica com os ancestrais. Um sábio às vezes acompanha o portador durante o ritual, ajudando a interpretar a mensagem ancestral.
Assim como outros elementos animistas que variam de cultura para cultura como pedras, montanhas, vulcões, rios, mares, e etc, que ajudam a estabelecer integridade com o ambiente e manter suas tradições e identidades cosmológicas, assim como tradições, história e acontecimentos.
O aspecto do animismo também pode ser encontrado em grandes religiões como o Hinduísmo, Budismo e Xintoísmo, todas com suas variantes mas mantendo o entendimento inicial do conceito animista.
No ocidente, por diversos fatores como colonialismo, globalismo, etc, muitos entendimentos mudaram fundamentalmente por meio da doutrinação do materialismo estrito que tira as pessoas do senso do sagrado.
O resultado é que nosso senso coletivo do sagrado foi cortado e substituído por um impulso insaciável de progresso científico e prosperidade material sem qualquer senso de limites ou responsabilidade.
Isso contribuiu para a ascensão de teorias a cerca do animismo como um “entendimento infantil” da vida e dos fenômenos. É preciso romper essa ideia.
O animismo assim como outras cosmovisões são não só complexas, como podem nos ensinar muita coisa sobre relações humano-ambiente.
A pedra dos 12 ângulos é uma amostra do conhecimento arquitetônico Inca, e ao mesmo tempo, uma das atrações mais populares que existem na cidade de Cusco. Seu prestígio se deve à idade de sua estrutura, em ótimo acabamento e perfeccionismo, característicos da civilização Inca.
Cada bloco foi moldado para se encaixar perfeitamente com todos os blocos ao redor, exigindo uma quantidade meticulosa de cuidado e atenção aos detalhes.
De fato, as juntas da parede são moldadas com tanta precisão que nem mesmo um único pedaço de papel cabe entre os blocos.
A pedra atinge pesa seis toneladas e está localizada na rua Hatun Rumiyoc e pertence a uma construção que antigamente era o palácio do Inca Sinchi Roca.
Diz-se que s pedra representa a divisão de 24 famílias: 12 famílias em Hurin Cusco e 12 em Hanan Cusco.
María Sabina Magdalena García (1894–1985), a “mulher espírito”, foi uma curandeira, xamã e sábia do povo indígena Mazateca, em Huautla de Jiménez, Oaxaca, México.
Sua cura era exercida através das ‘veladas’, cerimônias religiosas que envolviam o uso de cogumelos.
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Sabina cresceu em uma família de xamãs na Sierra Mazateca e desempenhou um papel fundamental na introdução da cerimônia dos Teonanácatl em veladas ao mundo, sendo a primeira curandeira mexicana a permitir a participação de ocidentais neste tipo de ritual.
Infelizmente, parece que o #Enem2020 não vai ser adiado, o que é lastimável, mas, tendo isso em mente, que tal umas enquetes com questões de vestibulares passados sobre civilizações pré-colombianas?
Vamos 👇
1- Três dessas civilizações têm a região que ocuparam identificada no mapa.
Assinale a alternativa que associa corretamente o número ao povo que ali se estabeleceu.
Tatuagens da Senhora de Cao, a primeira mulher governante da América pré-colombiana.
A pele do antebraço, mãos, tornozelos e dedos dos pés mostram, com total clareza, desenhos de cobras, aranhas, e caranguejos, animais que o simbolismo mochica relacionava com o divino.
A senhora de Cao ou Dama de Cao é o nome dado a uma mulher da cultura Moche descoberta em 2006 pelo arqueólogo Régulo Franco no sítio arqueológico El Brujo, cerca de 45 km ao norte de Trujillo, no Departamento de La Libertad.
Antes da descoberta, pensava-se que apenas homens ocupavam cargos importantes no antigo Peru.
Acredita-se que a senhora tinha status de governante na sociedade teocrática do vale do rio Chicama e era considerada um personagem quase divino.
Desabafo: Não aguento mais ouvir/ver que indígenas pré-colombianos do atual território brasileiro eram “primitivos”, “preguiçosos”, “pouco desenvolvidos”, quase que apenas “caçadores-coletores” e também comparações com outras civilizações de Abya Yala (Américas)
Faz tempo que to querendo fazer uma thread sobre arqueologia brasileira pra desmentir esses mitos que estão (muito) longe de serem verdades, eu só peço um pouquinho mais de paciência porque to na busca por um pc/laptop pra poder expandir pesquisas e trazer um material melhor
Além desse tem outros temas e projetos que também to planejando faz um tempo mas que apenas com o celular fica difícil de botar eles em prática, mas é isso, se tudo der certo jaja os conteúdos por aqui devem dar uma melhorada 🙏❤️