Estudos científicos são o melhor modo de nos aproximarmos de verdades na área da saúde e a melhor forma de fazer essas verdades serem reconhecidas.
E foi empregando o raciocínio científico que uma jovem enfermeira revolucionou o sistema de saúde vitoriano.
Vamos de historinha!
Na primavera de 1820 nascia Florence Nightingale, em uma privilegiada família britânica. Ao contrário do que se esperava de uma dama inglesa da época, Florence dedicou-se à enfermagem
Chocando ainda mais a sociedade (e os pais), foi trabalhar nos hospitais da Guerra da Crimeia
Em 1854, administrando como voluntária um hospital da Turquia, desconfiou que a sujeira, falta de saneamento e a comida estragada eram mais responsáveis pela morte de soldados do que os ferimentos de guerra.
Parece loucura, mas na época, ninguém pensava muito nisso...
Flor (para os íntimos) resolveu fazer uma baita faxina no hospital e passar a abastecê-lo com comida decente. "Lá vem a mulher falar de limpeza, nada a ver isso aí", disseram ofendidos os homens que entregaram o hospital imundo nas mãos da enfermeira. Florence nem ligou...
Em poucos meses, a mortalidade dos soldados caiu de 43% para 2%. Precisou entupir paciente de remédio sem comprovação de eficácia? Não.
Mas claro que o pessoal duvidou. Eu também duvidaria. E se fosse coincidência? Falaram que justo nesse período, o clima era mais ameno...
Só que a Florzinha, além de boa enfermeira, sabia muito de matemática, porque seu pai, William, não foi ignorante e achou importante sua filha ter uma boa formação inclusive em exatas. E aí ela usou argumentos estatísticos para desafiar seus opositores.
Como falaram que o sucesso da Florence era devido à época do ano e não à limpeza do hospital, comparou a mortalidade dos soltados no período de hospital limpo, com a mortalidade de soldados do mesmo período no ano anterior. Resultado: 2% versus 42% no ano anterior.
Falavam que era besteira formar enfermeiras porque pacientes cuidados por enfermeiras morriam mais que os cuidados por pessoas não treinadas. Florence mostrou que só casos mais graves eram encaminhados para enfermeiras. Ao sortear os casos, os cuidados da enfermagem eram melhores
Também demonstrou estatisticamente que até fora da guerra, soldados tinham o dobro de mortalidade que civis, devido às péssimas condições de alojamento.
"É o mesmo que pegar todos os anos 1.100 homens e fuzilá-los" - afirmou sobre o quão desnecessárias seriam essas mortes.
Moral da história: não é fácil convencer quem está no poder e aqueles que se apegam à tradição dogmática que aprenderam com sua própria experiência profissional. O marketing comercial e político polui ainda mais esse cenário.
O mundo precisa urgentemente de mais Florences.
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"Eu tive COVID-19 e me recuperei graças ao tratamento com Kit-Covid".
Sinto informar que que a frase está incorreta. O certo seria: "Eu tive COVID-19 e me recuperei, APESAR do tratamento com Kit-Covid"
A boa notícia é que você é um duplo vencedor. Venceu a Covid e a iatrogenia.
Iatrogenia: alterações patológicas derivadas de intervenções médicas. No caso do uso de medicamentos, são os efeitos adversos e consequências negativas não intencionais.
Se tem uma coisa que aquele ensaio clínico da Colchicina nos mostrou (volta lá no meu feed ver o vídeo) é que no grupo placebo (que não tomou medicamento nenhum), apenas 6% dos pacientes foram hospitalizados e 0,04% foram a óbito sem utilizar medicamento (ou kit-covid nenhum).
R: É aquela que está sendo aplicada no seu bracinho.
Ficar comparando eficácia é tão infantil quanto comparar o tamanho de órgão genital. Pode parecer divertido, pode às vezes impressionar mas, no final, o que importa é saber usar.
Explicando melhor, obviamente a eficácia é importante. Mas como sempre tenho dito aqui, uma vez atingidos os requisitos mínimos para registro, o tamanho do efeito das vacinas serve muito mais para orientar o plano de imunização do que para ficar comparando.
As vacinas não são tratamentos individuais. Não estamos tratando cada pessoa que é vacinada. Vacina é um empreendimento coletivo. Nessa perspectiva, o paciente deixa de ser eu ou você. O paciente passa a ser uma população chamada Brasil. E esse "paciente" precisa ser vacinado.
Vamos falar desse artigo que blogueirinhos, médicos "fodões" e defensores ferrenhos da "terapia precoce" andam "enchendo a boca" pra citar como demonstração de eficácia...
Tradução "Base fisiopatológica e (Ir)racional para o tratamento precoce de Sars-Cov-2. O "(Ir)" é meu rs.
Esse é um artigo de "Revisão Narrativa".
André, o que é isso?
Artigos de Revisão são uma forma de pesquisa que tenta revisar um determinado tema e sintetizar o resultado de diversos estudos, com o objetivo de fundamentar melhor um determinado objetivo. Existem 2 tipos básicos:
1) Revisão Sistemática (RS): Tipo de revisão planejada para responder uma pergunta específica e que utiliza métodos explícitos e sistemáticos para identificar, selecionar e avaliar criticamente os estudos, e para coletar e analisar os dados destes estudos incluídos na revisão.
Como vocês gostaram da última historinha que contei, vou contar mais uma.
Sabe como surgiu o primeiro ensaio clínico controlado?
Parece papo chato, mas vem comigo que vou te contar como um ensaio clínico foi capaz de mudar o destino de uma nação. Curioso?
Então segue o fio!
Em 1744, George Anson retornou à Inglaterra após uma longa navegação de 4 anos. Foi um retorno triunfante após uma batalhas navais contra a Espanha. Apenas 4 de seus tripulantes morreram nesses embates. Porém cerca de 1.000 deles morreram por uma doença conhecida como escorbuto.
O médico William Clowes, que serviu a frota da rainha Elizabeth a descreveu:
"As gengivas apodreciam até as próprias raízes dos dentes, seu hálito tornava-se pestilento. Pernas frágeis e fracas, cheias de dores e feridas, com manchas roxas e avermelhadas".
Uma doença assustadora.
Vamos finalmente entender por que precisamos de ensaios clínicos randomizados para dizer se um tratamento funciona?
Spoiler: Não é médico famoso, político ou "tradição milenar" que garante essa eficácia.
Vem comigo que vou te contar uma historinha legal nesse fio.
Você certamente já ouviu falar de um "tratamento" bizarro de antigamente chamado Sangria. Ele consiste basicamente em cortar a pele, romper vasos sanguíneos para curar qualquer tipo de doença.
"Nossa André, que absurdo, quem é o idiota que acha que isso funciona?
Já chego lá...
A sangria começou lá na Grécia Antiga. Achavam que doenças eram causadas por desequilíbrio entre 4 fluidos: sangue, bile amaralea, bile negra e fleuma.
Como o sangue era associado à boa disposição, quando alguém ficava doente, pensavam que era porque o sangue tinha estagnado.