Cada um pensa conforme o conteúdo que consome.

Sendo microeconomista e doutorando, Gilberto certamente virou noite estudando teoria dos jogos e se diz fanático por BBB.

Gilberto está usando a teoria dos jogos no #BBB21? Tudo indica que sim.

Duvida? Então segue o fio:
O que alguém versado no bê-a-bá da teoria dos jogos faria caso participasse do BBB?

1) Teria consciência sobre a importância de ter uma estratégia pensada conforme o seu objetivo

2) Teria consciência sobre a importância de usar informações externas para atualizar sua estratégia
Sendo fã de BBB, Gilberto sabe que a primeira semana é difícil. O público não te conhece, qualquer deslize pode ser fatal.

Ele precisava, portanto, de uma estratégia para não ir ao paredão. E entrou com atitude expansiva para conquistar parte do público e evitar brigas na casa.
Gilberto teve dias para pensar dentro de um quarto de hotel. Já entrou pulando, rindo, conversando com todos e avisando que chamaria todo mundo de "bicha".

Não acho que foi forçado - um fã de BBB sabe que não pode ser inautêntico lá. Curiosamente, casava com a estratégia ideal.
Ao mesmo tempo, Gilberto foi amigo de todos, o que atendia a dois fins:

1) evitar brigas e paredão
2) esperar antes de se posicionar

Sendo expansivo, dançando e rindo, ele também:
1) facilita a aproximação com desconhecidos
2) conquista parte do público, caso fosse ao paredão
Estratégia perfeita? Pois melhora.

Novamente: um estudioso da Teoria dos Jogos adotaria uma estratégia clara e atualizaria ela aproveitando todas as informações disponíveis.

O 1o posicionamento de Gil no jogo foi de segunda para terça, após Jogo da Discórdia sobre canceladores.
Sendo bom estrategista, Gil esperou o primeiro paredão se formar e o jogo se desenhar antes de agir.

Naquela noite, Gil ouviu Karol falando mal de Lucas, lembrou do Jogo da Discórdia sobre canceladores e saiu do quarto, sendo o primeiro com coragem para contrariar a cantora.
Outra lição que um fã de BBB sabe é: quando a casa se divide, o público escolhe um lado.

E a eliminação da terça teve um recado claro. Se Lucas fosse um vilão, Kerline seria querida ao invés de ser eliminada.

Já Sarah e Rodolfo brigaram com Lumena e continuaram na casa.
Nova informação, nova atualização na estratégia: reforçadas as hipóteses de que o público odeia Karol, o certo era dobrar a aposta no confronto e foi isso que ocorreu.

Quando a situação se agravou? Após o Big Fone, assim que Biano imunizou Juliette, Gil entendeu tudo.
Como fã de BBB, ele sabe que esse tipo de joguinho seria intolerável para o público, principalmente pelo estado emocional de Juliette.

Quando viu que a combinação começou a perseguir ele, triplicou a aposta na estratégia anterior, sabendo que o público não toleraria.
É sintomático que, hoje, Sarah tenha titubeado, enquanto Gilberto diz que está convicto no modo como vê o jogo. Ele não está a toa, de férias.

Talvez estejamos lidando com alguém que zerou o Big Brother Brasil, o John Nash de Pernambuco. Joga y tchaki.

Seguiremos acompanhando.
Só um adendo para quem acha que é óbvio:

- Se fosse, todos teriam uma estratégia clara e interpretariam minuciosamente as novas informações.

- Quando a função-objetivo mudou de sobreviver ao início para vencer o programa, a estratégia dele deu um cavalo de pau. Tem método.
Quando eu escrevo isso, em parte é por brincadeira, mas considerem que ele é de micro e doutorando. Já passou horas lendo e resolvendo jogos finitos com assimetria de informação, calculando as jogadas ótimas em cada estágio.

Talvez soe novo e estranho pra você, mas não pra ele.
E pensem em mais do que resolver exercícios. Ele certamente estudou o papel da informação em um jogo, como o número de estágios influencia a estratégia ótima etc. Estudou num grau de generalização e abstração suficiente para aplicar a jogos diversos, como o BBB.

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4 Jan
O liberalismo é de esquerda ou direita?

Essa resposta é bastante simples. A maioria dos estudiosos do liberalismo dizem o mesmo: historicamente, a tradição liberal tem gente na direita e na esquerda.

Como o assunto tem sido muito discutido, explico o que digo num fio:
Basta ler bem pouco sobre história do liberalismo para constatar que os liberais tem facilidade para atuar na esquerda e direita.

Não estou falando de um momento histórico isolado, mas de uma história recheada. Há exemplos no Reino Unido, Brasil e EUA, nos séculos 19, 20 e 21.
O Partido Liberal britânico, cuja importância na formação do liberalismo dispensa apresentações, foi fundado em 1859 por três grupos que discutiam política no Reform Club, um clube de debates em Londres.

Esses três grupos eram conhecidos como Whigs, Radicals e Peelites.
Read 18 tweets
3 Jan
Quem merece reconhecimento público pelo sucesso do Pix?

Eu já escrevi minha opinião: corpo de servidores do BC, vários diretores nas últimas 2 gestões, além dos presidentes Ilan e Campos Neto. Nada de Guedes.

Mas nunca expliquei meus motivos para escrever isso. Resumo num fio:
Por que ressaltar o corpo de servidores do Banco Central?

Porque é uma das instituições com mais técnicos qualificados dentre os vários braços do Estado brasileiro.

Isso dá consistência à atuação do BC mesmo com as mudanças de presidente e diretoria. E merece ser reconhecido.
O BC brasileiro tem um bom histórico quando o assunto é meios de pagamentos. Já me disseram que começou nos tempos de inflação, quando agilidade era crucial.

Mesmo anos antes do Pix, é notável trabalho do BC na popularização das maquininhas de cartão. Há uma certa tradição aí.
Read 16 tweets
2 Jan
Sem exagero: desde que fui no Flow, recebi umas 100 mensagens de jovens (geralmente do Nordeste) que pensam em cursar a graduação em economia numa faculdade do eixo RJ-SP.

Dada a época e a quantidade de gente interessada, segue um fio sobre o tema, baseado na minha experiência.
Se mudar (ainda mais para SP) sendo muito jovem, sem ter amigos ou família na cidade de destino, é bem difícil. Pouquíssimos interessados pensam a sério sobre isso.

Conheci muita gente que se deu mal. Vi CDFs virando péssimos alunos, entrando em depressão, etc. É sério. Reflita.
Até pra facilitar a adaptação, conheça as faculdades que te interessam. Se informe cedo e muito.

Não importa qual a melhor entre Insper, FGV-SP, FGV-RJ, USP e PUC-Rio.

Dentre essas opções, o que importa para escolher uma é saber qual a melhor *para você*.
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30 Dec 20
Por que eu estou otimista com a nova diretoria do Vasco?

Muitos torcedores de outros times se perguntam isso. Afinal, eu costumo ser bem cético com políticos e o Vasco tem os piores cartolas do país, uma política interna que faz a ALERJ parecer limpa.

Explico neste fio.
Antes de mais nada, é importante ressaltar que:

Eu não recebo 1 real do Vasco ou de qualquer pessoa ligada ao clube. Não tenho cargo. Nem chefe vascaíno eu tenho. Não vou auferir nenhuma vantagem pessoal com isso.

Dada a imagem da política vascaína, esse é um adendo importante.
Como argumento inicial, basta comparar o currículo dos presidentes no séc 21. Eurico, Dinamite e Campello não tinham experiência como grandes gestores no setor privado.

Jorge Salgado é uma referência do mercado financeiro nacional, vide matéria do Valor.

valor.globo.com/empresas/notic…
Read 25 tweets
13 Nov 20
Volta e meia, ouço por aí um papo de que "o Sudeste sustenta o Nordeste" etc. Aconteceu hoje.

Sobre a origem da desigualdade regional no Brasil, recomendo o @thaleszp.

Um fator importante no séc 19 foi uma política fiscal que quebrou o Nordeste para sustentar o RJ. Segue o fio:
Na virada do século 18 para o 19, a desigualdade regional brasileira não existia como conhecemos.

O Nordeste era o maior fornecedor do algodão que chegava em Liverpool. Uma tal de Revolução Industrial acontecia por ali. Mas o setor quebrou nesta época, quando a demanda explodia.
De todos os grandes exportadores de algodão, nenhum país teve uma performance pior que a do Nordeste brasileiro naquela época.

Pouco a pouco, regiões como o Sul dos EUA ocuparam esse espaço. O Brasil conseguiu a proeza de perder o bonde da história. Como isso aconteceu?
Read 16 tweets
23 Jun 20
O argumento de Silvio Almeida é ótimo na seguinte leitura: políticas que promovem desigualdade promovem racismo. Cabe discutir se toda austeridade fomenta desigualdade. O Real foi precedido por um pacote de austeridade. O Bolsa Familia ocorreu durante um ajuste fiscal. 1/5
No fim das contas, prefiro aproveitar o que considero melhor e mais correto no argumento dele - o antirracismo precisa ser incorporado na agenda econômica de quem pretende superar o probema. De um especialista em racismo, não espero ressalvas e nuances sobre política fiscal. 2/5
No fim, “austeridade é racista” ali significa “políticas anti-negro são racistas”. Se austeridade é anti-negro ou não, depende do significado que cada um dá à palavra. E eu duvido que Silvio e os economistas revoltados trabalhem com a mesma conceituação. 3/5
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