Oi, pessoal. Acredito que seja um momento propício para falarmos sobre reversão de tendência, taxa de crescimento e como isso influencia na situação que estamos vivendo, principalmente com flexibilizações, retorno às aulas e demais aumentos de mobilidade. Sigam o fio! //1 🧶
Eu sempre gosto de relembrar o que aconteceu para contextualizar o que estamos falando, e uma das primeiras coisas que temos de lembrar é que o crescimento exponencial (o "estouro") não acontece da noite para o dia. //2
Na Europa, a segunda onda de casos começou no começo de julho, mas aquela curva assustadora só apareceu no final de outubro...adivinha quando agiram? No começo de novembro, levando inclusive à criação de uma nova variante (a B.1.1.7) via espalhamento. //3
Outro contexto muito importante é o que chamo de melhor e pior característica do ser humano, a de se acostumar com qualquer coisa. Estamos com 1.200 notificações de óbito por DIA e o país está girando como se nada fosse. //5
Quando alertei para o "tsunami" que ia nos pegar antes da chegada do "resgate" (a vacina), era exatamente sobre isso que eu estava falando. Estamos rumando para entrar no aumento sazonal de SRAG com uma linha de base absurda de casos e óbitos:
O que temos de fazer é baixar, ao máximo, a taxa de transmissão, levá-la a níveis de queda forte, e ao mesmo tempo acelerar a aplicação de vacinas ao máximo possível. Se a Europa nos mostrou que uma exponencial acontece mesmo com os casos lá embaixo, imagina aqui? //7
Se analisarmos os casos hoje, por região, no Brasil, vemos um início de queda, que é sim, muito positiva, mostrando que podemos virar o jogo, vejam só: //8
O que esses gráficos nos mostram? Todas as regiões estão com uma pequena queda na taxa de crescimento de novos casos, mas TODAS estão com a taxa ainda POSITIVA, acima de zero. Essa taxa tem que virar negativa para configurar uma queda REAL. //9
Um exemplo de uma queda real é o Reino Unido, vejam só. A taxa de crescimento de novos casos por dia negativou, o que mostra uma queda sustentada. Mas, mesmo assim, Ela está perigosamente querendo voltar, vejam o destaque que fiz no recorte: //10
Aí entramos no meu medo atual: eu sou uma pessoa muito cautelosa, então eu aguardo ao menos 30 dias para dizer que realmente temos uma reversão de tendência, mesmo pegando ela no começo. Mas, dessa vez, acho válido reportar pois temos ameaças bem significativas: //11
- Vacinação bastante lenta;
- Variantes mais transmissíveis;
- Número de casos diários extremamente altos rumando para o final do verão;
- Cansaço da população levando ao cada vez maior desrespeito de medidas não farmacológicas (distanciamento físico, máscaras, ar livre). //12
Vamos lá: a taxa de crescimento está em queda, né? Vimos isso nos gráficos que postei. Mas a velocidade dessa queda indica que vai cair cada vez mais, ou que vai parar de cair? Para mostrar isso, calculei a variação da taxa para os 26 estados + DF nos últimos 30 e 10 dias: //13
O que busquei com esse cálculo: 1. Se tivéssemos um estado com uma variação alta tanto nos últimos 30 E TAMBÉM nos últimos 10 dias, isso poderia significar um surto, algo relacionado talvez até à uma variante mais transmissível. //14
Percebemos que mesmo os estados com variação altíssima nos últimos 30 dias tiveram uma variação um pouco menor nos últimos 10, mostrando bem a estabilização (AINDA EM UM PATAMAR ALTO!! Estabilização em níveis altos NÃO É BOM!) //15
2. Se tivéssemos algum estado que, mesmo que estivesse em queda, possuísse uma variação MAIOR nos últimos 10 dias do que nos últimos 30 dias, isso PODE indicar um início de reversão de tendência. Pois bem, vejam quais estados estão nessa situação: //16
O que vemos em comum nesses estados? Exatamente o caminho dos aumentos da primeira onda. 85% dos estados com possível reversão estão nas regiões Centro Oeste, Sudeste e Sul. Qual é esse caminho? @otavio_ranzani et al + @oatila mostram aqui:
Quais estados dessas regiões não tiveram a reversão? Exatamente os que fizeram um fechamento mais forte. MG (principalmente com BH se fechando) e SP (com um período na fase vermelha, infelizmente já finalizado). //18
Repito: eu normalmente aguardaria para falar dessa reversão, pois ela recém começou. Pode, sim, não vingar. Podemos fechar, criar medidas (ainda tenho esperança!). Eu faço 4 amostras semanais e se nas 4 a variação fica positiva, começo a alertar. //19
Dessa vez eu resolvi alertar antes pois tudo indica um início de um problema mais sério, pois a mobilidade tende só a aumentar daqui pra frente. Vejam como caiu a mobilidade nos últimos 60 dias nas capitais dos estados que estão apontando reversão: //20
Essa queda de mobilidade foi o suficiente para evitar um estouro maior já em janeiro, mas mesmo assim não esta sendo nem um pouco suficiente para uma queda sustentada (haja visto a reversão de tendência que começou a aparecer). //21
Para comparar, vejam como caiu BEM MAIS a mobilidade em lugares que fecharam, como Belo Horizonte e São Paulo: //22
Ah, caso não tenham entendido: a linha do "zero" no gráfico de mobilidade significa "igual ao período pré pandemia". Se estiver acima, significa mobilidade maior do que no pré pandemia, e se estiver abaixo, significa mobilidade menor do que antes da pandemia. //23
Em resumo: há uma chance média/alta de termos uma exponencial nos próximos 30 a 45 dias. Torço demais, demais, demais, para estar errado e que a queda se sustente mesmo com o aumento da mobilidade que vem por aí. //24
Iniciar fevereiro com uma situação dessas é assustador. Mesmo assim, infelizmente, a sensação é MUITO forte de que a homeostase (equilíbrio) social do Brasil já aceita a situação de 1.200 notificações de óbitos/dia como normal. Cuidem-se! //fim
Volta às aulas: A educação de um país é como uma corrida, na qual só é declarado o vencedor quando todos cruzam a linha de chegada. Se alguém cruzar antes, ficará aguardando pelos que ficaram para trás. Ele pode até ter algum sucesso individual, mas o país continuará estagnado.+
Isso pode ser visto em qualquer país desigual. Muitas escolas magníficas, pessoas com muito dinheiro/condições, e o país continua com um péssimo IDH. Observem países de sucesso e vão atrás da pior condição possível de educação. Ela é que dá o tom do todo. +
No Brasil, nós temos uma desigualdade avassaladora. Crianças e adolescentes em condições péssimas, com poucos a olharem para eles, pois o exemplo anedótico mostra "brasileiros de sucesso".+
Oi, pessoal! Mesmo com o colapso em andamento no AM e em RO, e chegando no AC e no PA, notamos que o RS está em uma estabilidade alta, e até uma queda em relação a dezembro? Por que será? Segue o fio que tentarei mostrar algumas possibilidades! 🧶 //1
O principal fator dessa epidemia, que sabemos bem, é o de que o vírus é transmitido de pessoas para pessoas. Esse fator é o que nos faz (ou deveria fazer) ficar de olho na correlação entre MOBILIDADE e CASOS. //2
Importante: também temos de lembrar, antes de ver os gráficos, da ordem de aumento dos números: Infecções, DEPOIS casos notificados, DEPOIS internações notificadas e DEPOIS óbitos notificados. Lembro sempre disso pois existe uma distância entre o fato e a notificação do fato. //3
Oi, pessoal! Por que será que quem analisa os dados da pandemia de COVID-19 continua pedindo restrições de mobilidade no Brasil (o famoso "lockdown")? Como sabemos que a situação tende a piorar? Será que temos bola de cristal? Segue o fio de 25 tweets que tentarei explicar!🧶 //1
Para quem gosta de ver em vídeo, fiz essa explicação também em vídeo: , usando os mesmos gráficos que mostrarei aqui no fio. //2
A essa altura do campeonato já sabemos bem do atraso de notificação e do represamento de dados, então temos de usar métricas e ferramentas para tentar ultrapassar esses obstáculos e dar uma resposta ao tomador de decisão, já que a decisão tem o potencial de salvar vidas! //3
Quando alguém vier com a fala (totalmente errada) de que o tratamento precoce salva vidas, peça dados, de fontes oficiais, de pacientes totais, quantos tomaram, internações hospitalares, óbitos...analise os dados oficiais de cada local, faça cruzamento de dados...//1
Infelizmente quem deveria fazer isso (quem prescreve) não está fazendo, está fazendo apenas análises observacionais, de que "parece que funciona". Hoje mesmo recebi um video do Instagram de um rapaz (que não vou divulgar aqui e dar palco) ostentando o tal "tratamento". //2
Ao analisar os dados dele, foram 969 pacientes e 42 internações em UTI. Ora bolas: isso dá 4,33% de pacientes internados em UTI, a mesma taxa da Lombardia em março: jamanetwork.com/journals/jama/… //3
Oi, pessoal. Quero contar pra vocês rapidinho como funciona uma matriz de gerenciamento de riscos, e mostrar como ou não fizermos isso aqui no Brasil, ou fizemos muito mal. Segue o fio! 🧶 //1
Quando temos uma situação complicada se avizinhando, ou mesmo um projeto que queremos muito fazer, é interessante fazermos uma tabelinha, na qual cada linha é um risco que pode acontecer, e nas colunas temos a probabilidade daquilo acontecer e o impacto caso aconteça. //2
Então, por exemplo, se temos uma epidemia acontecendo na China, e temos risco dela chegar aqui, é interessante fazer a lista de riscos com pessoas da área. //3
Vi "lockdown" nos trending topics e percebi que alguns ainda dizem que afastar as pessoas umas das outras não resolve uma epidemia de vírus respiratório. Sigam o fio de 16 tweets para vermos juntos esse artigo: 🧶 science.sciencemag.org/content/early/… //1
Este artigo demonstra, através da estatística, o quanto as intervenções não farmacológicas foram eficazes para reduzir a transmissão do vírus.
Reduzir a transmissão do vírus é, de longe, a ação mais efetiva. Ela evita novas variantes, mortes, fechamentos de fronteiras, etc. //2
Para entender a importância da redução da transmissão, acompanhe essa analogia: se abrir uma goteira no meio da sala da sua casa, vale mais a pena colocar um balde ou consertar a fonte da goteira?
Aumentar leitos equivale a botar muitos baldes. //3