A probabilidade de um país superar o subdesenvolvimento é muito baixa
Novo artigo de @IsabellaMWeber e outros mostra que a estrutura produtiva que um país tinha há mais de 100 anos praticamente determina sua posição atual na hierarquia global
Os autores criaram uma base inédita de comércio internacional para a era da globalização do séc. XIX, discriminando os dados o máximo possível para identificar os bens específicos que cada país exportava. Assim, puderam apurar a complexidade das estruturas produtivas de cada país
A intuição é que, se um país consegue produzir competitivamente muitos produtos que poucos outros países conseguem produzir, pode-se dizer que aquele país desenvolveu uma estrutura produtiva complexa (o conhecimento produtivo é amplo e está enraizado e disseminado na sociedade)
A literatura da Complexidade mostra que bens industrializados tendem a ser complexos. Bens agrícolas e minerais tendem a ser simples. Aparelhos médicos são produzidos por poucos países diversificados. Soja é produzida por muitos países não diversificados. Só o primeiro é complexo
Os autores mostram que países competitivos em bens complexos entre 1897 e 1906 continuam competitivos em bens complexos 100 anos depois. Mais preocupante, países competitivos em bens simples continuam competitivos em bens simples, *sem conseguir superar a especialização*
Isso ocorre porque, quanto mais conhecimento produtivo um país possui, mais consegue adquirir, por razões como transbordamentos científicos e tecnológicos, economias de escala e de escopo e learning by doing
O problema? A complexidade está muito ligada à renda per capita (rpc)
Os autores mostram que 56% da variação da rpc atual pode ser explicada pela complexidade econômica de 100 anos atrás!
Recursos naturais, capital humano, investimentos estrangeiros, abertura comercial e instituições, *mesmo considerados em conjunto*, explicariam muito menos
Os autores mostram também que a geografia e as instituições que países tinham no século XIX não impactam a estrutura produtiva que possuem atualmente, com uma exceção: países que foram colônias europeias reduziram seus conhecimentos produtivos mais do que outros países
É praticamente impossível superar a hierarquia global
Japão e Coreia do Sul, que se destacaram por suas políticas industriais, foram os mais bem-sucedidos, apresentando os maiores acúmulos de complexidade nos últimos 100 anos
Países que descobriram petróleo apresentaram declínio no longo prazo
Democratização gerou resultados positivos apenas para os pioneiros do século XIX
Adesão à OMC e a Programas de ajuste do Banco Mundial e do FMI, sinônimos de liberalização econômica, não tiveram efeitos
No longo prazo, o desempenho do Brasil foi razoável, tendo atingido posição média-alta
Como mostro neste artigo, contudo, nossa estrutura produtiva vem se simplificando nas últimas décadas
As evidências mostram que deveríamos estar muito preocupados
O NIS possui até um Departamento cuja função é garantir que as tecnologias permaneçam no país
De 2014 até 2019, o NIS reportou 123 casos de vazamento de tecnologia da Coreia. 83 foram para a China
"Garantir o sucesso da Samsung é uma questão de importância nacional para Seul"
A Samsung elaborou um sofisticado sistema para impedir o vazamento de tecnologia. Por exemplo: em um laboratório, o papel usado em máquinas copiadoras contém lâmina de metal, parte de um sistema de detecção que busca impedir que os funcionários imprimam informações confidenciais
Quão autônomos/independentes eram os Banco Centrais (BCs) dos tigres asiáticos nos anos 1980, quando exibiam elevado crescimento econômico e reduziam rapidamente a distância para o mundo desenvolvido?
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Em 1992, Cukierman, Webb e Neyapti criaram uma medida de independência dos Bancos Centrais, analisando a legislação de 50 países.
Consideraram os seguintes aspectos: (i) nomeação, duração do mandato e demissão do Presidente do Banco Central; jstor.org/stable/3989977…
(ii) formulação da política monetária (se cabia ao governo e se o BC possuía algum papel); (iii) objetivos do BC (se apenas estabilidade de preços ou se permitia outros, como pleno emprego); e (iv) limitações para o BC financiar o governo.
A tradicional estratégia chinesa era limitar em 50% o controle de multinacionais estrangeiras, oferecendo seu mercado interno em troca de capital, expertise e tecnologia
Nesse fio, explico por que a estratégia ainda não gerou os resultados pretendidos
A Tesla usou seu status como produtora de carros mais valiosa e mais avançada do mundo, e se beneficiou da ameaça de isolamento comercial imposta pelos EUA à China, para conseguir o controle total sobre a subsidiária
A fábrica gigante em Shanghai foi construída em tempo recorde
A história da indústria automobilística chinesa é uma ótima aula sobre as razões que fazem ser tão difícil para um país pobre atingir alto nível de desenvolvimento, mas também sobre as oportunidades que surgem quando se tem ambição e visão.
Primeiramente, não é à toa que a indústria automobilística é considerada estratégica em tantos países. A cadeia de fornecimento é longa (elevado número de partes e peças e de serviços terceirizados), cria muitos empregos com bons salários e incorpora e gera inovação e tecnologia
A primeira vez que foi elaborada uma estratégia para o desenvolvimento da indústria automobilística na China foi em 1994.
A meta era criar de três a quatro conglomerados automotivos com "competitividade internacional" até 2010, com marcas e tecnologia nacionais.
East Indies, ou British East Indies, outra grande exportadora de algodão da época, provavelmente é a Índia atual, que ficou muito para trás no desenvolvimento econômico até recentemente. O mesmo aconteceu com o Egito.