Quando você analisa a linha do tempo você percebe que as direitas (e uso o termo em um sentido bem amplo) se aproximaram da internet com o intuito de realizar campanhas de contrainformação, especialmente em casos sintomáticos, como o da Juíza Patrícia Acioli.
A postagem do 01 não ocorreu no vácuo e tampouco foi origem de qualquer coisa, ela era o fenômeno de superfície de uma ampla campanha de difamação movida contra a juíza, com direito a supostos detalhes íntimos de sua vida, que já rolavam nas redes em 2011.
Esse tipo de operação - chamo de operação pois era obviamente organizada e tinha método e objetivos claros - era muito comum quando casos de violência policial vinham a tona. Lembram da morte do DG, dançarino do Esquenta? No dia seguinte supostas fotos suas com um fuzil.
Em 2017 vimos algo semelhante com a Maria Eduarda (morta com um tiro de fuzil no pátio da escola). extra.globo.com/noticias/eboat…
Em 2018 observamos a mesma sequência de eventos no caso Marielle. No dia seguinte de sua morte já circulava - numa velocidade avassaladora - relatos falsificados e fotos absurdas que diziam que ela fora casada com Marcinho VP.
Não vou entrar na questão das imagens, o ponto é a existência de uma estrutura, de uma operação de contrainformação que ocorre tem pelo menos uma década, mas que atingiu velocidades e proporções extremas nos últimos anos.
De fato, eu diria que a diferença entre o que ocorre hoje e que o ocorria no passado, no primórdio das redes, é apenas uma questão de velocidade e escala. Em 2018 não tivemos nada de absolutamente novo no que diz respeito a utilização de tecnologias de contrainformação.
Tivemos um aperfeiçoamento do método, inclusive por conta da "radicalização" dos algorítimos de algumas redes como Facebook e Youtube.
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A prisão do Daniel Silveira talvez marque um ponto de "não retorno" (tipping point) do Bolsonarismo. Daniel não é bucha de canhão, como a Sara Winter, diria - para nos mantermos na metáfora militar - que ele é algo como um Tenente de infantaria.
Daniel é uma figura proeminente, importante na articulação política de um setor fundamental do bolsonarismo: as forças de segurança, especialmente - mas não apenas, reforço - a Polícia Militar. Seu nome é recorrente em grupos de whatsapp.
Como a @tainalon demonstrou, é uma figura proeminente no ecossistema virtual do Bolsonarismo, atuando como disseminador de informações falsas e propaganda do governo. Dando a elas um ar de autoridade por se tratar de um "deputado federal".
Todo carnaval é a mesma coisa, abjet@s ligadas ao conluio neoliberal/miliciano/neopentecostal postam mensagens atacando a festa, muitos, inclusive, ganharam notoriedade dessa forma - lembram da jornalista falando do carnaval?.
E todo ano caímos, repercutimos e nos revoltamos.
Para vocês terem uma ideia do quanto esse tipo de estratégia é importante: o carnaval do "golden shower" foi um marco da mobilização das tropas de desinformação bolsonaristas, com direito a disparos e mobilização de bots. Superada, apenas, por momentos como a saída do Moro.
O motivo? A luta contra o carnaval é um ponto de encontro entre os milicos, evangélicos conservadores e neoliberais (grupos que em 90% do tempo estão batendo cabeça). Todos consideram a festa um tipo de "degeneração".
Thread de carnaval: Meus sambas-enredo preferidos. Vou começar por um atípico: apesar de ser cria da área não torço pela escola (sou UPM). Mas esse samba foi o último que curti com meu finado tio na quadra, ele queria me transformar em torcedor.
Esse, creio, foi o primeiro samba que aprendi a cantar - tinha 3-4 anos quando ele estourou. Cresci - não muito - cantando o refrão "que tititi é esse que vem da Sapucaí?"
Para citar um recente, o samba da Mangueira de 2017. Nem preciso explicar muito o motivo, o samba é uma ode a arte do axé, da multiplicidade e a força da incorporação que marca as religiões de matriz africana.
Para bom entendedor: trechos do livro do Villas Bôas deixam claro que (1) existia um "clamor" intervencionista entre empresários, (2) que a declaração sobre o julgamento do Lula foi feita com a alta cúpula e (3) tudo começou como uma reação à CNV.
Eu digo, insisto e repito: a primeira articulação virtual, implementação de táticas de ocupação de redes sociais que vi, no Brasil, foi justamente acompanhando grupos de intervencionistas em 2014, quando coordenava os trabalhos do GT Araguaia na CNV.
Na época vi uma verdadeira operação de contrainformação sendo montada na internet para conter o avanço do debate público e disseminação do material coletado e analisado pela Comissão Nacional da Verdade.
A fala da Mãe Aline sobre as atitudes de sua filha de axé, a Lumena, sintetiza - ao mesmo tempo - uma das coisas que mais aprecio no fundamento e ataca um dos maiores problemas que temos hoje.
Certeira de uma forma que só uma ialorixá consegue ser.
É uma mensagem que fala sobre respeito e acolhimento. Respeito pelo tempo de cada um e pelo "direito" de errar, mais do que isso, sobre como o erro faz parte do processo de aprendizado. Por isso, aqueles que erram devem ser acolhidos e não excluídos, destruídos.
"Eu não concordo com o que ela falou ontem, eu assisti, mas por uma questão ética como mãe de Santo eu não posso virar as costas para um filho”.
Eu até compraria essa ideia de que o casting do BBB foi feito sob medida para esvaziar pautas sociais se todo santo dia, absolutamente todo santo dia, não tivéssemos exemplos de militantes agindo daquela mesma forma (e em absolutamente todas as causas/pautas).
Outro dia, inclusive, falávamos sobre isso por aqui, sobre como confundimos as redes sociais com "espaço público", ao ponto de achar saudável expor debates importantíssimos - como conflitos intrapartidários - ao escrutínio do algorítimo.
E esse me parece o ponto, tem pelo menos uma década que os debates políticos, as pautas sociais, a militância vem sendo afetada pelo sua relação com as redes sociais: um ambiente que estimula a beligerância, o voluntarismo e o personalismo.