Eu até compraria essa ideia de que o casting do BBB foi feito sob medida para esvaziar pautas sociais se todo santo dia, absolutamente todo santo dia, não tivéssemos exemplos de militantes agindo daquela mesma forma (e em absolutamente todas as causas/pautas).
Outro dia, inclusive, falávamos sobre isso por aqui, sobre como confundimos as redes sociais com "espaço público", ao ponto de achar saudável expor debates importantíssimos - como conflitos intrapartidários - ao escrutínio do algorítimo.
E esse me parece o ponto, tem pelo menos uma década que os debates políticos, as pautas sociais, a militância vem sendo afetada pelo sua relação com as redes sociais: um ambiente que estimula a beligerância, o voluntarismo e o personalismo.
As redes sociais acabaram dando vazão a toda uma geração de "militantes virtuais e influenciadores políticos" sem qualquer referência - macumbeiros diriam fundamento -, seja ela de formação política, intelectual ou de luta mesmo.
E antes que me acusem, não estou colocando todo mundo no mesmo saco, tem gente boa, muito boa que surgiu nos últimos anos e ganhou visibilidade por meio das redes.
O ponto é que observamos a emergência de toda uma geração de influenciadores e militantes cujo talento consistia em "xingar" nas redes, expor sua raiva, por meio de uma estética que - superficialmente - se confunde com a ideia de militância "à esquerda/progressista"...
Observamos a constituição de verdadeiros sectos que atuam de forma muito semelhante aos do outro lado do muro, basicamente, muda apenas a estética, a skin. E é interessante como muitas vezes não se vê contradição nenhuma nisso.
Isso não ocorre por acaso. Mais uma vez, as redes sociais, os espaços virtuais, forma criados com isso em mente. O engajamento beligerante, o personalismo, tudo isso é um efeito direto do próprio desenho das redes.
Sobre esse último aspecto recomendo a leitura do El enemigo conoce el sistema, da Marta Peirano e 24/7 do Jonathan Crary.
O meu ponto é: não estamos imunes ao poder das redes, a maneira como ela captura e transforma a nossa libido, e é urgente encarar isso de frente, do contrário nossas pautas e lutas serão esvaziadas, seja por desistência, seja por incapacidade de expansão.
O debate sobre o nosso uso das redes sociais, beligerância, voluntarismo e personalismo nas e das lutas é urgente.

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12 Feb
Para bom entendedor: trechos do livro do Villas Bôas deixam claro que (1) existia um "clamor" intervencionista entre empresários, (2) que a declaração sobre o julgamento do Lula foi feita com a alta cúpula e (3) tudo começou como uma reação à CNV.

outline.com/fLBA4N
Eu digo, insisto e repito: a primeira articulação virtual, implementação de táticas de ocupação de redes sociais que vi, no Brasil, foi justamente acompanhando grupos de intervencionistas em 2014, quando coordenava os trabalhos do GT Araguaia na CNV.
Na época vi uma verdadeira operação de contrainformação sendo montada na internet para conter o avanço do debate público e disseminação do material coletado e analisado pela Comissão Nacional da Verdade.
Read 12 tweets
11 Feb
A fala da Mãe Aline sobre as atitudes de sua filha de axé, a Lumena, sintetiza - ao mesmo tempo - uma das coisas que mais aprecio no fundamento e ataca um dos maiores problemas que temos hoje.

Certeira de uma forma que só uma ialorixá consegue ser.

bahia.ba/entretenimento…
É uma mensagem que fala sobre respeito e acolhimento. Respeito pelo tempo de cada um e pelo "direito" de errar, mais do que isso, sobre como o erro faz parte do processo de aprendizado. Por isso, aqueles que erram devem ser acolhidos e não excluídos, destruídos.
"Eu não concordo com o que ela falou ontem, eu assisti, mas por uma questão ética como mãe de Santo eu não posso virar as costas para um filho”.
Read 20 tweets
9 Feb
Nada do que está acontecendo no BBB é acidente (talvez apenas a desistência do Lucas): o casting da emissora foi preciso, seu intento era justamente criar esse espetáculo grotesco que estamos vendo ai.

Pois o ódio é o afeto que mais engaja.
Sempre bom lembrar de como nos últimos anos, políticos se elegeram dessa forma: Bolsonaro, Trump, etc.... todos eles cresceram mobilizando o ódio, tanto de seus apoiadores quanto o de seus contrários.

E esse é um efeito direto das redes sociais nas nossas vidas.
Sabemos, o algorítimo, a estrutura que organiza as redes, não registra se estamos falando bem ou mal de algo, registra apenas que se trata de uma interação - ou uma "meaningful interaction", como afirma o Facebook. E isso tem diversos efeitos.

fastcompany.com/90321304/faceb…
Read 20 tweets
9 Feb
Toda hora é um vídeo novo de pessoas ridicularizando as religiões de matriz africana no Big Brother, com direito a participação de quem se diz do axé, né?
Se tem uma coisa que se aprende em um barracão, talvez uma das mais fundamentais, é a de que, independente dos seus problemas ou diferenças com alguém, é fundamental respeitar os/as orixás e os/as guias daquela pessoa.
Eu, como ogã, por exemplo, jamais poderia me recusar a tocar para o/a orixá (ou entidade) desta ou daquela pessoa só por não concordar com as suas atitudes, jamais poderia me recusar a bater cabeça para ele. Zombar deles então, totalmente fora de cogitação.
Read 4 tweets
8 Feb
Eu amo o bairro onde nasci, subúrbio do Rio de Janeiro, e por isso vivo nele até hoje (não é uma escolha política, é de vida mesmo), mas se tem uma coisa que me consome é o medo constante de ser mais uma vítima aleatória da competência (sim!) policial.

g1.globo.com/sp/sao-paulo/n…
Quem mora em favela, periferia, subúrbio sabe muito bem como as ações da PM se desenham. Não importa a hora, não importa o local, a PM vai fazer o que sabe fazer (aquilo que foi criada para fazer), atirar para matar.

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Pois foi para isso que as PMs foram "redesenhadas" durante a Ditadura Militar. A força auxiliar tem um papel muito específico na estratégia da guerra revolucionária (utilizada pela Ditadura): "procurar e destruir"

brasil.estadao.com.br/noticias/geral…
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7 Feb
Esse BBB realmente virou o espetáculo do grotesco, da violência e dos microfascismos que as "esquerdas/progressistas" secretam cotidianamente, pior, secretam utilizando as "boas causas" como desculpa.
Nada melhor do que ter uma boa causa como desculpa para exercer, secretar todo tipo de violência que costumamos atribuir ao que supostamente estão do outro lado do muro do espectro político.
O pior de tudo é que isso, esse espetáculo grotesco, esse massacre, é o cotidiano das redes sociais. Qualquer um que não chegou ontem aqui já deve ter visto centenas de episódios semelhantes.
Read 13 tweets

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