Para bom entendedor: trechos do livro do Villas Bôas deixam claro que (1) existia um "clamor" intervencionista entre empresários, (2) que a declaração sobre o julgamento do Lula foi feita com a alta cúpula e (3) tudo começou como uma reação à CNV.
Eu digo, insisto e repito: a primeira articulação virtual, implementação de táticas de ocupação de redes sociais que vi, no Brasil, foi justamente acompanhando grupos de intervencionistas em 2014, quando coordenava os trabalhos do GT Araguaia na CNV.
Na época vi uma verdadeira operação de contrainformação sendo montada na internet para conter o avanço do debate público e disseminação do material coletado e analisado pela Comissão Nacional da Verdade.
A coisa sempre me pareceu estruturada demais para ter surgido de forma espontânea. Estou dizendo que foi a alta cúpula do exército que fez isso? Não. Apenas que não foi uma meia dúzia de saudosos da ditadura. Existia dinheiro envolvido, existia organização, existia conhecimento.
O nome do Ustra por exemplo, ele passou a ser usado com mais frequência nas postagens por conta da polêmica que gerava - e o público que atraia. O movimento nasce explorando as dinâmicas dos algoritmos das redes sociais.
O tal "clamor intervencionista" que ele cita emerge daí. Ele nunca cessou no Brasil, é verdade, mas sempre teve dificuldade de ganhar tração - muito por conta do próprio perfil dos intervencionistas.
Em 2013-2014 a coisa ganha outra faceta: a meta dos grupos era conquistar os mais jovens (daí a relação com os games, YouTube, etc...).
Interessante lembrar como o nome do Jair Bolsonaro, nesses grupos, foi de odiado a "mal necessário", sempre foi considerado instável, mas acabou sendo abraçado por sua capacidade de incitar polêmica e tomar os holofotes. Já falei disso aqui antes.
Na minha interpretação: desejavam que ele fosse uma espécie de bobo da corte, uma marionete do seu projeto de reforma moral da sociedade brasileira (movida pelo ressentimento).
Interessante que o próprio Villas Bôas fala sobre esse papel do Bolsonaro, de ter rompido com o "politicamente correto".
E ainda tem quem livre a barra dos militares nessa história, como se fossem um bando de tecnocrátas que nada sabem de política. Pega esse embate entre Mourão e Bolsonaro, a oposição que Mourão tenta fazer de forma meio velada e as respostas do próprio Bolsonaro.
Você vai ver que não tem bobo ali. São dois grupos, IGUALMENTE RESPONSÁVEIS pelo que está acontecendo no Brasil, disputando o poder.
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A fala da Mãe Aline sobre as atitudes de sua filha de axé, a Lumena, sintetiza - ao mesmo tempo - uma das coisas que mais aprecio no fundamento e ataca um dos maiores problemas que temos hoje.
Certeira de uma forma que só uma ialorixá consegue ser.
É uma mensagem que fala sobre respeito e acolhimento. Respeito pelo tempo de cada um e pelo "direito" de errar, mais do que isso, sobre como o erro faz parte do processo de aprendizado. Por isso, aqueles que erram devem ser acolhidos e não excluídos, destruídos.
"Eu não concordo com o que ela falou ontem, eu assisti, mas por uma questão ética como mãe de Santo eu não posso virar as costas para um filho”.
Eu até compraria essa ideia de que o casting do BBB foi feito sob medida para esvaziar pautas sociais se todo santo dia, absolutamente todo santo dia, não tivéssemos exemplos de militantes agindo daquela mesma forma (e em absolutamente todas as causas/pautas).
Outro dia, inclusive, falávamos sobre isso por aqui, sobre como confundimos as redes sociais com "espaço público", ao ponto de achar saudável expor debates importantíssimos - como conflitos intrapartidários - ao escrutínio do algorítimo.
E esse me parece o ponto, tem pelo menos uma década que os debates políticos, as pautas sociais, a militância vem sendo afetada pelo sua relação com as redes sociais: um ambiente que estimula a beligerância, o voluntarismo e o personalismo.
Nada do que está acontecendo no BBB é acidente (talvez apenas a desistência do Lucas): o casting da emissora foi preciso, seu intento era justamente criar esse espetáculo grotesco que estamos vendo ai.
Pois o ódio é o afeto que mais engaja.
Sempre bom lembrar de como nos últimos anos, políticos se elegeram dessa forma: Bolsonaro, Trump, etc.... todos eles cresceram mobilizando o ódio, tanto de seus apoiadores quanto o de seus contrários.
E esse é um efeito direto das redes sociais nas nossas vidas.
Sabemos, o algorítimo, a estrutura que organiza as redes, não registra se estamos falando bem ou mal de algo, registra apenas que se trata de uma interação - ou uma "meaningful interaction", como afirma o Facebook. E isso tem diversos efeitos.
Toda hora é um vídeo novo de pessoas ridicularizando as religiões de matriz africana no Big Brother, com direito a participação de quem se diz do axé, né?
Se tem uma coisa que se aprende em um barracão, talvez uma das mais fundamentais, é a de que, independente dos seus problemas ou diferenças com alguém, é fundamental respeitar os/as orixás e os/as guias daquela pessoa.
Eu, como ogã, por exemplo, jamais poderia me recusar a tocar para o/a orixá (ou entidade) desta ou daquela pessoa só por não concordar com as suas atitudes, jamais poderia me recusar a bater cabeça para ele. Zombar deles então, totalmente fora de cogitação.
Eu amo o bairro onde nasci, subúrbio do Rio de Janeiro, e por isso vivo nele até hoje (não é uma escolha política, é de vida mesmo), mas se tem uma coisa que me consome é o medo constante de ser mais uma vítima aleatória da competência (sim!) policial.
Quem mora em favela, periferia, subúrbio sabe muito bem como as ações da PM se desenham. Não importa a hora, não importa o local, a PM vai fazer o que sabe fazer (aquilo que foi criada para fazer), atirar para matar.
Pois foi para isso que as PMs foram "redesenhadas" durante a Ditadura Militar. A força auxiliar tem um papel muito específico na estratégia da guerra revolucionária (utilizada pela Ditadura): "procurar e destruir"
Esse BBB realmente virou o espetáculo do grotesco, da violência e dos microfascismos que as "esquerdas/progressistas" secretam cotidianamente, pior, secretam utilizando as "boas causas" como desculpa.
Nada melhor do que ter uma boa causa como desculpa para exercer, secretar todo tipo de violência que costumamos atribuir ao que supostamente estão do outro lado do muro do espectro político.
O pior de tudo é que isso, esse espetáculo grotesco, esse massacre, é o cotidiano das redes sociais. Qualquer um que não chegou ontem aqui já deve ter visto centenas de episódios semelhantes.