A simplificação neoliberalismo = menos Estado é grosseira e não resolve nada.
O neoliberalismo de Pinochet não enxugou gastos militares. E precisa ser muito tacanho para achar que o custo de manter a repressão nos cascos não é pensado como investimento econômico.
Se pensar Pinochet, Reagan e Thatcher, ninguém ali enxugou a capacidade repressiva dos seus países. Aliás, me pergunto sobre a correlação entre desregulamentação financeira e o crescimento dos gastos militares.
Para Reagan, com certeza isso aconteceu. Pinochet nem preciso dizer. Thatcher é minha dúvida. Mas não duvido...
Ideólogos neoliberais sequer questionam que enquanto pedem menos Estado, se calam diante dos abusos de militares e policiais.
Singapura, queridinha dos dodóis do "naum-piza-na-mioca", é um regime de partido único. Seus gastos militares são de 3% do PIB (os da China, para criar uma base de cálculo, representa cerca de 2%).
Isso ninguém quer enxugar, né?
No fundo, esses ideólogos querem desregulamentação financeira e enxugar as contas públicas. Mas pergunta quem é que fala em corte em orçamento dos milicos???
O cão de guarda precisa ser bem alimentado, né?
Eles podem chiar agora com o verme botando um milico na Petrobrás, mas quando tinha milico na saúde, tava de boa. Quando 300 militares entraram no primeiro e segundo escalão, tavam achando supimpa, vibrando com o Guedes e seus terrenos na lua.
O problema nunca foi menos Estado. O problema aí é o papel do Estado - que para algumas pessoas se resume a repressão.
É o único papel consensual sobre o Estado que o neoliberalismo tem a oferecer.
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O fantástico caso do intelectual que pede rigor conceitual para "neoliberalismo", mas que acha que pode usar o conceito de "populismo" para Chavez, Putin, Bolsonaro, Jango e Trump. 🤷
Dada a desonestidade em alguns retweets, uma explicação: "populismo" e "neoliberalismo" são conceitos com valor heurístico em seus campos de estudo. Ou seja, eles possuem poder explicativo desde que situando e situados por ou um balanço bibliográfico, ou por um estudo empírico.
O problema aí é que para algumas pessoas, o uso de um desses conceitos pode extrapolar os limites do campo e virar moeda de troca simbólica no cotidiano e o outro não.
Interditar neoliberalismo porque queremos rigor conceitual, mas usar populismo como moeda de troca é seletivo.
"Tea War: A History of capitalism in India and China", de Andrew Liu, é um daqueles livros difíceis de largar. Ele te ganha pela tese: e se o capitalismo não se explicar pelas relações capitalistas de produção?
A dúvida que ele planta é por meio do chá, o maior produto de exportação da economia chinesa no século XVIII, quando a Inglaterra ainda pagava toneladas de prata para garantir o chá com bolachas da corte.
Aliás, não só da corte. A Revolução Industrial não seria a mesma sem as drogas não-europeias. Chá, café, açúcar, tabaco...todos eles estimulantes que foram incorporados na dieta dos operários britânicos.
O chá também virou a bebida oficial do operariado industrial.
O Amartya Sen tem uma tese batida, mas sempre atual: há muito mais chance de ter fome onde não tem democracia.
Isso porque, um regime democrático funcional pressupõe que as pessoas são livres para protestar contra a fome.
Se a democracia vai mal das pernas, a fome vem e se estabelece, os líderes políticos não prestam contas ao povo, a imprensa normaliza a carestia...
A fome no Brasil foi um grande projeto de oligarquias e militares. Grupos que Bolsonaro representa.
Pensar na fome como projeto é entender que um tal grau de espoliação só é possível quando não se concebe projeto civilizatório algum de nação, de democracia liberal, nada.
É isso que envolve o fim do auxílio emergencial, a redução de beneficiários do Bolsa Família, ...
O fio do @kakobelmont sobre anarquismo e crítica anti-colonial é realmente muito bom. Pessoal tá pedindo pra eu falar sobre marxismo e crítica anti-colonial... A real é que essa história é complexa.
Eu já concebi que Marx era etnocentrico e pronto, uma posição preguiçosa, mas embasada em alguns escritos dele dos anos 1850. A verdade é que o limite do pensamento de Marx é, sim, europeu, mas isso não significava que ele não entendia o colonialismo ou o invisibilizava.
Tanto os capítulos 24 e 25 do Capital são ótimos pontos de partida para essa reflexão, assim como algumas passagens dos Gundrisse. Para Marx, o colonialismo era o segredo da origem do capitalismo, articulado na ideia de "acumulação primitiva de capital".
Entendo todas as ponderações sobre a história do leite condensado do pessoal que falou que isso tava dentro do orçamento do Executivo e tal...
Mas rapidinho a galera encontrou as falcatruas, né? Superfaturamento vai ser mato...
162 golpes uma caixinha de leite condensado???
Uma varredura nos fornecedores é de boa, viu?
Sei lá, a gente quando pede uma caneta que seja numa universidade, tem que mandar demonstrativo, fazer pregão, orçar pelo menos 3 fornecedores diferentes...