Agora no início do mês (fevereiro) saiu uma discussão na Nature sobre essa questão da atenção à descontaminação de superfícies. Siga o fiozinho comigo que vou atualizar alguns pontos. nature.com/articles/d4158…
A discussão se pauta no fato de que já está até bem estabelecido que a contaminação pelo SARS-CoV-2 se dá muito mais por gotículas e aerossóis (aumentando a transmissão) do que a possibilidade daquela proporcionada pelos fomites (superfícies).
Bom, a reportagem da Nature em nenhum momento desacredita que as gotículas depositadas nas superfícies não possam ser fonte de contaminação. Pelo contrário, eles argumentam segundo uma importante observação do CDC...
... "a transmissão pelas superfícies não é considerada uma forma comum de espalhamento da COVID-19, mas a desinfecção frequente de superfícies e objetos tocados por várias pessoas é importante".
A principal fonte de informação que originou as condutas sobre a descontaminação dos fomites veio desse artigo do NEJM de abril: nejm.org/doi/full/10.10…
De lá para cá, alguns estudos ecológicos também mostraram contaminação de fomites principalmente em ambientes de saúde, como mostrado nesse artigo: pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32507114/
Porém, independente de presença de partículas virais viáveis em superfícies após longo período de tempo, ainda há muita discussão se, na prática, as pessoas poderiam se contaminar a partir delas. pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33007224/
O microbiol. Emanuel Goldman da Univ. Rutgers (EUA) observou: a chance de transmissão por meio de superfícies é muito pequena e apenas nos casos em que uma pessoa infectada tussa ou espirre na superfície e outra pessoa toque essa superfície logo após a tosse e o espirro (1-2 h).
Entretanto, contribuindo para essa questão da persistência do vírus em superfícies, foi publicado um estudo em setembro destacando sua capacidade de infectividade (vou detalhar um pouco mais na sequência): pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32579874/
Nesse estudo, foi avaliada a estabilidade e a infectividade do SARS-CoV-2 depositado em plástico poliestireno, alumínio e vidro por 96 horas a 45%-55% de umidade relativa e 19 –21°C de temperatura usando dose de infectividade 10e6 50% (TCID50)/mL de inóculo. Ensaio in vitro, ok?
Os autores depositaram 50 μL (gotinha) em triplicata nas várias superfícies (≈ 1 cm2 por peça). As gotículas foram recuperadas para analisar a capacidade infectiva sobre células Vero. Para mimetizar as proteínas dos fluidos corporais expelidos com o vírus, foi usada albumina bov
Foi observada diminuição de viabilidade após 44h em vidro, estabilidade mesmo após 92h para o plástico, e queda acentuada em até 4h no alumínio. Coloquei o gráfico aqui 👇
Os autores apontam que a provável adsorção de partículas virais na superfície do plástico PE está associada à infectividade prolongada, enquanto uma alta queda no alumínio foi observada como em dados publicados anteriormente sobre SARS-CoV, adenovírus ou poliovírus.
A cereja do bolo: os dados mostraram que a infectividade pelo SARS-CoV-2 foi notavelmente preservada na presença de proteínas, independentemente do tipo de superfície (concentração final de 11,4 g/L de proteínas, que mimetiza a encontrada nos fluidos respiratórios).
Em conclusão, os autores mostraram que uma concentração de proteína moderada em gotículas aumentou significativamente a infectividade do SARS-CoV-2, sugerindo que um meio rico em proteínas como secreções das vias aéreas poderia proteger o vírus quando ele é expelido.
Isso também pode aumentar a persistência e transmissão do vírus em superfícies contaminadas. Assim, é plausível que os fomites infectados com SARS-CoV-2 desempenham um papel fundamental na transmissão indireta da COVID-19.
Este achado suporta que a limpeza das superfícies é uma ação necessária que deve ser aplicada e repetida, pois pode desempenhar um papel fundamental na interrupção da transmissão SARS-CoV-2 e na mitigação da pandemia COVID-19.
Mas como eu e outros pesquisadores já observamos: usar máscara e manter o distanciamento físico é MUITO MAIS efetivo na prevenção do que sair "fumegando" coisas por aí...
Portanto, meus caros, continuemos higienizando as compras, em especial, as embalagens plásticas. E lembrem: tocou em algo no mercado e tocou no celular, pode contaminar o celular também. Não leve ou higienize o celular na volta do supermercado. E não saia sem máscara!!!
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Sabe quando estamos assistindo um filme de terror/suspense e do outro lado da tela dizemos mentalmente ao personagem "não vá por aí!"? Os cientistas, muitos médicos e uma parte da população têm se sentido exatamente assim quanto ao que estamos vivendo (segue)...
Desde quando começou a pandemia, fruto de ações negacionistas, muitas pessoas desistiram de sequer observar as medidas preventivas. Eu acho muito improvável que ainda exista alguém que não use máscara porque não sabe que precisa usar e nem que deixar o nariz de fora ajuda em algo
Desde o início, as pessoas se dividiram entre os que seguiram as medidas preventivas, importando-se com sua saúde e com a dos outros, e os que preferiram "pagar pra ver". Ainda me dói lembrar da garota gritando "me entuba" no show de não sei quem. Mas o que nos levou a isso?
Pessoal, vou transpor aqui algumas observações das maravilhosas palestras que tivemos ontem, no PPGBIO/UFCSPA, que você pode assistir à gravação aqui: (segue)
A primeira delas é a importância sobre o entendimento que a eficácia de uma vacina está relacionada à incidência de uma doença, conforme explicou o Dr Paulo @Nadanovsky. Ele fez uma ótima analogia disso com o uso do cinto de segurança.
Em uma sociedade onde as pessoas dirigem em alta velocidade e alcoolizadas, o uso do cinto quase não será eficaz, porque as batidas serão geralmente fortes.
O ano era 1987. A cidade era Goiânia. Um catador encontra um equipamento de radioterapia e o considera como sucata. Ele leva o equipamento para um ferro-velho, onde é desmontado, liberando 20g de cloreto de césio-137, que é colocado no bolso (isso mesmo). (siga o fio)
Com o césio no bolso, o dono do ferro-velho se desloca para a casa em um TRANSPORTE COLETIVO. O resultado: 112 mil pessoas examinadas para contaminação radioativa. Além das vítimas fatais, 129 apresentaram contaminação, onde 21 vieram a falecer posteriormente. E isso com a COVID?
Esse artigo, publicado em janeiro, mostra a possibilidade de contaminação pelo SARS-CoV-2 em locais públicos. Diferente da contaminação radioativa, essa PODE SER EVITADA, se seguidas as condições sanitárias/preventivas adequadas e redução de circulação. pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33519256/
Nestas primeiras semanas de 2021, a revista Science publicou alguns artigos e textos a respeito de estudos que, assim como muitos outros, vem nos auxiliando no entendimento de questões relacionadas à COVID-19 e ao SARS-CoV-2 no âmbito da resposta imune. (segue)
Os artigos referem-se a fatores como a exaustão de células T em pacientes com COVID-19 severa, células T auxiliares residentes que influenciam na memória de células B e T citotóxicas e proteção respiratória...
... as diferenças da resposta imune entre os sexos, a memória de células B em pacientes após 6 meses de COVID-19, precursores de células T citotóxicas de memória que resistem a dano de DNA e deleções que causam escape da proteína Spike do SARS-CoV-2 à ação dos anticorpos.
Atenção cabeludas e cabeludos do meu Brasil, este fiozinho é para você, que usa sua máscara certinho, mas não prende a melena...
Pois eu venho aqui justamente para te alertar que “cabelo preso” também é uma Boa Prática em Biossegurança.
Por que? Porque cabelos também são “superfícies”. Eles estão expostos à poluição, ácaros, microorganismo e, obviamente, a gotículas que podem conter partículas do SARS-CoV-2.
Esse é um fio indignado sobre o tal “hiato” das vacinas... Desculpem, mas é que está difícil, sabe? Não estimularam/estimulam prevenção. E não tem vacina (segue).
O general não é um “estrategista”? No dicionário, “estrategista é aquele versado em estratégia”.
Primeiro não queriam “vacina chinesa”. Daí, veio “me dá essas vacina aqui pra cá”. Depois, compraram umas poucas doses da vacina de Oxford (era o que dava? Ah, “não tinha demanda”... 🤔).