Arquitetura indígena e a arqueologia brasileira:

Os povos proto-Jê habitavam complexos de casas subterrâneas, também associadas a estruturas cerimoniais geométricas há 2.200 anos atrás dispersadas pelas terras altas do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

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O prefixo ‘proto’ é utilizado para englobar todos os ancestrais dos atuais grupos Jê do Sul, como os Xokleng e os Kaingang, incluindo também os antigos falantes das línguas Jê meridionais, Ingain e Kimdá, do território onde hoje é o oeste de Santa Catarina e Misiones (Argentina).
Os proto-Jê são identificados por uma cultura material conhecida como tradição Taquara-Itararé, englobando cerâmica, arte rupestre, e diferentes tipos de sítios arqueológicos como as aldeias de casas subterrâneas, montículos, plataformas e praças cerimoniais (danceiros).
Para se protegerem do inverno rigoroso que castiga as regiões altas do Sul do Brasil, chamados Campos de Cima da Serra, eles construíam suas moradias, centros de encontro e estoques, de forma enterrada, protegidas dos ventos fortes e gelados que cortam o planalto de araucárias.
Eram construídas a partir da abertura de um buraco arredondado no chão, estacas de madeira eram fincadas em diferentes pontos do piso funcionando como pilastras.

Com a ajuda dessas escoras e de uma armação de madeirame, construíam um teto coberto por palha projetado para fora.
Essas estruturas eram circulares, escavadas dentro da terra com rocha basáltica, basalto composto ou arenito.

Suas dimensões vão até 13 metros de diâmetro com profundidade média de 2,5 a 5 metros de altura, havendo casos de 4 e até 6 metros de profundidade.
Sobre o círculo que delimitava a casa, erguia-se uma cobertura de folhas sustentada em armações de madeira fixadas na base e nas laterais com o auxílio de pedras.

Em algumas casas além do revestimento de piso, haviam também revestimentos em pedra nas paredes.
No interior destas casas, arqueólogos encontraram fogueiras de antigas cozinhas com restos de pinhão carbonizados, além de restos microscópicos de milho, feijão, mandioca, cará e abóbora que ficaram aderidos a fragmentos de panelas.
Estes resultados mostram que os proto-Jê tiveram uma economia de subsistência baseada em uma ampla gama de alimentos de origem animal e vegetal, por intermédio da caça, pesca, agricultura e coleta, com destaque para os pinhões.
Estudos paleoambientais demonstram que a presença humana é positivamente relacionada ao enriquecimento das matas de araucária, ou seja, através da dispersão do pinhão, levados com eles a cada nova moradia, e da abertura de áreas de cultivo associadas ao manejo dos campos.
Os povos indígenas, com isso, contribuíram para dispersar a araucária para além de suas áreas de endemia.

Ao redor do ano 1.000, quando esta população se torna mais densa, o pinhão a acompanha e as florestas de araucária crescem significativamente pelos seus territórios.
Nos arredores dessas aldeias há sítios fúnebres, chamados popularmente de ‘danceiros’, compostos por taipas circulares construídas em terra e montículos.

Ficavam em áreas sempre altas, para ter visibilidade do entorno, pontos de onde os xamãs pudessem observar o horizonte.
Outros sítios sagrados, com pinturas rupestres, estão cuidadosamente voltados para o por do sol e com a visão de uma cachoeira, escolha ligada a elementos simbólicos da cultura e da religiosidade desses povos.
É importante recuperar a história dos povos que ocuparam as serras antes dos colonizadores, não só pelo aspecto histórico e antropológico, como também ajudar na preservação e interesse de pesquisa desses sítios arqueológicos e em resgates ancestrais dos descendentes Proto-Jê.
Fontes:

Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo; Jornal da USP; Xapuri Socioambiental; UFPEL; Diário Catarinense.

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27 Feb
Mingqi representando uma figura antropomórfica, possivelmente mitológica e ritual, inspirada pela literatura Han e iconografia budista, conhecida como “guardião das feras”.

Leste Asiático, China, Dinastia Han, 206 AC-220 DC.
Figuras como esta fazem parte de uma classe de artefatos chamados ‘mingqi’, conhecidos como "utensílios espirituais" ou "receptáculos para fantasmas" e se tornaram populares na Dinastia Han, persistindo por vários séculos.
Mesmo sendo produzidos em massa, os mingqi da Dinastia Han geralmente mostram um alto nível de detalhes e naturalismo.

Eles foram projetados para auxiliar o “Po”, a parte da alma do falecido que permanecia no subsolo com o corpo enquanto o Hun, a outra parte da alma, ascendia.
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27 Feb
Como uma pintura egípcia conhecida como “A Mona Lisa do Egito” de 4.500 anos pode ajudar a identificar uma espécie desconhecida e já extinta de gansos? 🦆

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A pintura conhecida como "Ganso de Meidum", foi descoberta em 1800 na tumba de Nefermaat, um vizir, ou o oficial que servia ao faraó e sua esposa Itet em Meidum, um sítio arqueológico no baixo Egito.

A pintura foi descoberta na Capela de Itet dentro do túmulo.
A pintura vívida, que já fez parte de um quadro maior desde então foi descrita como "A Mona Lisa do Egito", o autor do estudo é Anthony Romilio, paleontólogo e assistente técnico da Universidade da escola de química e biociências moleculares de Queensland.
Read 12 tweets
26 Feb
A civilização Nurágica:

A civilização Nurágica foi uma cultura autóctone que floresceu na Idade do Bronze, por volta de 1800 A.C na atual ilha italiana da Sardenha.
O nome deriva de seus monumentos mais característicos: Os ‘Nuragues’.

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Foram formados na Sardenha por populações enraizadas na ilha há milhares de anos e influenciada pelas culturas anteriores.

A ilha foi capaz de sustentar por pelo menos 5000 anos, o desenvolvimento de povos neolíticos e da idade do Cobre/início da Idade do Bronze (7000-1600 AC).
Fontes romanas descrevem a ilha como habitada por numerosas comunidades que se fundiram culturalmente.

As populações Nurágicas mais importantes mencionadas incluem os Balares, os Corsi e os Ilienses. Image
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25 Feb
O relevo de Burney, ou “a rainha da noite”, é uma placa de terracota em alto relevo da antiga Mesopotâmia, muitas vezes usada pra identificar a iconografia de Lilith (tema já controverso), porém há discussões em torno do artefato e de quem ele representa.

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Ela provém do sul da Mesopotâmia, provavelmente na Babilônia, durante o reinado de Hammurabi (1792-1750 AC), pois compartilha qualidades de artesanato e técnica com a famosa estela de diorito das leis de Hamurabi e também com a peça conhecida como ‘o deus de Ur’ do mesmo período.
Infelizmente, sua proveniência original permanece desconhecida. O relevo não foi escavado arqueologicamente e, portanto, não temos mais informações de onde veio ou em que contexto foi descoberta.

O artefato foi levado a Londres por um negociador sírio-libanês por volta de 1930.
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24 Feb
Cerâmica pré-colonial Amazônica.🏺🌳

Considerações gerais:

A floresta amazônica é a maior floresta tropical do mundo (4,9% da área continental mundial), ocupando uma área de 7.000.000 km² distribuída em nove países, dos quais Brasil, Peru e Bolívia tem a maior extensão. ImageImageImage
O trabalho realizado pelos arqueólogos Meggers e Evans na foz do Amazonas é considerado o início da arqueologia científica na Amazônia Brasileira, em meados da década de 1950 e início da década de 1960. Image
Meggers considerava, naquela época, a área amazônica inadequada para seu próprio desenvolvimento sócio-cultural devido aos limites impostos pela natureza e avaliou sua produção cerâmica como a interferência de outras culturas de origem andina.
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23 Feb
O sítio arqueológico de #Uxmal.

A antiga cidade Maia de Uxmal está localizada na Península de Yucatán, no México e foi um importante centro religioso e cerimonial, destacada pelo seu estilo artístico e arquitetônico.

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Uxmal foi uma das capitais regionais durante o período clássico tardio e é considerada hoje um dos mais importantes sítios arqueológicos da civilização.

Localizadas na região de Puuc, suas ruínas são um documento impressionante dos feitos arquitetônicos da Mesoamérica.
Uxmal significa “construído três vezes” ou “o que está por vir, futuro”.

As tradições Maias dizem que o primeiro rei da cidade foi derrotado por um anão mágico, que ganhou a posição de rei ao construir o monumento mais alto (Pirâmide do Adivinho) da cidade em uma única noite.
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