Há quase um ano eu comentei, no thread compartilhado abaixo sobre o cenário catastrófico da economia brasileira. Risco de inflação, descontrole e, inclusive, alta dos juros pelo cenário versus a política econômica de Bolsonaro-Guedes (1/10).
Muitas coisas estão se confirmando agora, mas tudo tende a ser pior pelo descontrole da pandemia e da farsa dos últimos meses. Havia um mundaréu de coisas que foram ignoradas, talvez pelos motivos errados, um deles é a inflação (2/10).
Guedes culpa o auxílio-emergencial pelo aumento dos preços, mas (1) ele sabe que isso é mentira; (2) ele conta essa história porque odeia o fato de ter precisado dar o auxílio e, ainda, precisa de um argumento para estruturar um arrocho pós-pandemia (3/10).
O auxílio contradisse uma política ensaiada desde 2015, mas implementada apenas com a remoção de Dilma do poder em 2016. Esvaziar as condições materiais da classe trabalhadora, o que inclui aumento da fome e do desemprego com fins de controle político de curto prazo (4/10).
Sem o auxílio, o governo dar o dinheiro que ele emite para as pessoas pobres comerem os alimentos que o Brasil produz, se construiu a única saída possível naquele momento. Movimentar a "demanda reprimida" por insumos básicos (5/10).
Isso não gerou inflação. O que gerou inflação é (1) o grau de monopólio alto não combatido pelo governo, que permite repasse de preços de modo abusivo; (2) mais do que isso, o fato da economia brasileira ser totalmente amarrada em indexações ao dólar, que "subiu" (6/10).
Se o dólar ganha valor, e o real perdeu valor em relação a ele e, em geral, a quase todas as outros moedas, basicamente contratos de aluguel, tarifas, concessões disparam gerando um efeito dominó, de uma economia que funciona, ainda, com "correção monetária" (7/10).
Nesse sentido, o resgate "por cima" do ano passado, criou -- junto com a injeção de liquidez americana nos mercados globais --, um efeito maluco na bolsa que iludiu os rentistas. Mas isso não é sustentável e essa turma sabe disso (8/10).
E novamente, pela combinação entre inflação (que tem causas estruturais, não sendo efeito automático de nenhum auxílio) e a necessidade de reativar o comércio espúrio de títulos da dívida, os juros podem, oportunamente, voltar a subir. Mas isso não vai funcionar bem (9/10).
Tudo isso, com a ausência de qualquer política industrial e de emprego, a própria farra da especulação começa a ficar ameaçada. Numa combinação de PIB declinante e inflação galopante, não há esperança dentro desse governo e dessa perspectiva, venha de onde vier (10/10).
P.S.: quanto mais o real perde valor, sem uma política industrial, mas nós nos desindustrializamos e os insumos industrializados passam a se tornar mais escassos e caros, o que estimula mais desindustrialização, mas passa a acochar os déficits comerciais.
P.S. 2: o real perdeu valor em parte pela política deliberada do governo nesse sentido, mas também porque cada vez mais gastamos mais dinheiro comprando fora coisas que produzíamos, ou podíamos fabricar aqui.
P.S.3.: emitir moeda pode ser uma saída, mas isso tem de ser feito de maneira organizada e, entendendo que há inúmeros gatilhos inflacionários por meio de indexações e outras aberrações, que são "ignoradas" pelos defensores do livre-mercado.

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4 Mar
Aécio Neves, quem diria, volta à cena com Lira no comando da Câmara. Isso mostra que a sucessão de Rodrigo Maia, menos que uma vitória de Bolsonaro, ilustra uma sofisticada e sorrateira nas fileiras da "direita tradicional" pelo poder. Entendam (1/10).
Em 2014, Aécio se afastou do que seria uma colaboracionismo com o Lulismo e retomou uma linha FHCista no PSDB. Mais do que isso, subiu como ninguém o tom, baixando o nível, contra uma combalida Dilma (2/10).
Ele, Aécio, surfou na onda do direitismo que é *também* um dos efeitos de 2013. Mas na hora H, ele não enfiou o pé, sabe-se lá para onde, para vencer Dilma. Há quem diga que se negou, inclusive, a permitir Bolsonaro no seu palanque. Perdeu, por pouco (3/10).
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31 Jan
As revelações das conversas entre Moro e Dallagnol são estarrecedoras. O STF precisa ter coragem de anular as condenações de Lula, mas também libertar o hacker que tornou públicas essa conversa. Se não continuaremos neste atoleiro (1/7).
Há colegas falando em "prova ilícita", mas vejam: o hacker agiu em legítima defesa de terceiro não em benefício próprio. As conversas eram feitas em meio privado pela natureza clandestina e criminosa da prática, sendo que elas se referiam a algo público, os processos (2/7).
Ninguém vazou conversas privadas de Moro e Dallagnol. Aquelas conversas deveriam estar em meios oficiais, como o e-mail institucional deles, mas evidentemente isso não ia ser tratado por lá pela *natureza* do conteúdo (3/7).
Read 7 tweets
28 Jan
Interessante a movimentação alemã, e por consequência europeia, em direção da China e se afastando dos EUA. Isso é um dos maiores movimentos de placa tectônica desde o fim da URSS e está quase sendo ignorado no Brasil (1/7).
Até Obama, havia um processo de globalização em curso, uma competição cooperativa entre China e EUA e, do outro lado, um alinhamento quase total da Europa com os EUA, na economia e na política (2/7).
A Europa, p.ex., tinha um enorme comércio com a China, mas não um acordo de investimentos. Isso, por incrível que pareça, só saiu agora e é parte dessa movimentação (3/7).
Read 9 tweets
11 Jan
A China parecia condenada a ser um enorme parque industrial para produzir as invenções, designs e modelos desenvolvidos na Califórnia, mas ela inverteu essa relação, o que deixou os EUA de cabelo em pé e virou o mote da tensão sino-americana (1/5).
Pois bem, quem mais se incomoda com o avanço da China na vanguarda tecnológica nem são as empresas de alta tecnologia do Vale do Silício, mas um capital velho dos EUA que vê nessa "ultrapassagem" um tema para tomar o poder como tomaram em 2016 (2/5).
Por que a China tomou a dianteira em coisas como 5G, fusão nuclear, automóveis elétricos? Pela capacidade de investir organizando e organizar investindo. Isso, aparentemente, acabou no Ocidente depois de 2008 (3/5).
Read 8 tweets
10 Jan
Está em curso a aplicação a fórmula Crivella em escala nacional: no caso, manter um presidente fraco, sem moral, com inúmeros crimes de responsabilidade nas costas, mas que é justamente um pato manco capaz de conferir legitimidade a quem for enfrenta-lo na reeleição (1/7).
Militares lucram ocupando ministérios, parlamentares lucram colocando a faca no pescoço do presidente, banqueiros lucram com a política econômica e aos sem voz nem vez, Bolsonaro tem uma agenda de perversidade (2/7):
A entregar uma flexibilização de direitos trabalhistas e ambientais para o pequeno e médio capital ficarem felizes com a diminuição (todavia inócua) dos custos e uma agenda moral perversa para trabalhadores e pobres (3/7).
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9 Jan
Ocupar uma rede social como esta é tática. Ela é um câncer. O uso da capacidade tecnológica humana reduzida à mercadoria vil. E serviu para alavancar a extrema-direita irresponsavelmente todos estes anos, ganhando muito dinheiro. Aí chegamos na exclusão do perfil de Trump (1/7).
A nova direita radical mal tinha força eleitoral fora da Europa, onde vivia mascarada na forma de movimentos anti-imigração, e voltou com tudo depois de 2008, autorizada por uma oligarquia global desesperada pelo revival social-democrata. Onde o Twitter entra (2/7)?
Isto daqui foi uma das principais plataformas dessa onda. Não foi nenhuma rede social clandestina ou a deep web. Foi aqui. E não me falem em "precedente". Quantos perfis de militantes não foram suspensos ou excluídos? Aqui talvez só seja menos pior do que o Youtube (3/7).
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