Thread by @hugoalbuquerque

Aécio Neves, quem diria, volta à cena com Lira no comando da Câmara. Isso mostra que a sucessão de Rodrigo Maia, menos que uma vitória de Bolsonaro, ilustra uma sofisticada e sorrateira nas fileiras da "direita tradicional" pelo poder. Entendam (1/10).

Em 2014, Aécio se afastou do que seria uma colaboracionismo com o Lulismo e retomou uma linha FHCista no PSDB. Mais do que isso, subiu como ninguém o tom, baixando o nível, contra uma combalida Dilma (2/10).

Ele, Aécio, surfou na onda do direitismo que é *também* um dos efeitos de 2013. Mas na hora H, ele não enfiou o pé, sabe-se lá para onde, para vencer Dilma. Há quem diga que se negou, inclusive, a permitir Bolsonaro no seu palanque. Perdeu, por pouco (3/10).

Se Dilma entrou condenada a ser derrubada, pelo crime de ter vencido a eleição, e pouco animada a resistir -- ao contrário, capitulou a la Chamberlain --, a direita se alinhou apenas para sua derrubada, mas rachou para 2018 já ali (4/10).

Um fato à época considerado anedótico é que Bolsonaro anunciou, ainda no final de 2014, que iria concorrer a presidência, marcando um racha da direita dura em relação aos tucanos que, pragmaticamente, eles apoiaram de 1994 até ali, na vitória e na derrota (5/10).

Várias balas podem ter atingido Aécio, mas ele ressente do fogo amigo, quando a manobra de Alckmin lançar Doria a prefeito de São Paulo, em 2016, era uma forma de bloquear Andrea Matarazzo, seu candidato. Aquela manobra mirou, e acertou, Aécio (6/10).

Ali, lembremos, Aécio pretendia atropelar Alckmin e furar o rodízio de grupos do PSDB na disputa presidencial. Aécio credita que essa derrota em São Paulo, lhe custou o enfraquecimento e o consequente ataque posterior, no escândalo da JBS (7/10).

Talvez Aécio ignore, ou finja ignorar, que a direita dura pode ter permitido as denúncias contra ele para inviabiliza-lo para 2018. E conseguiu. Mas Aécio sobreviveu e planejou cuidadosamente sua vingança (8/10).

Eleito deputado federal em 2018, ele ficou quieto até puxar o tapete de Rodrigo Maia por vê-lo como um aliado de Doria. E teve ACM Neto ao seu lado. Juntos, eles criaram Lira, que é uma solução e ao mesmo tempo um problema para Bolsonaro (9/10).

Hoje, Aécio parte para a manobra mais ousada durante anos, colonizar a poderosa comissão de relações exteriores da Câmara. Esperemos se Lira vai mesmo cumprir esse acordo, o que vai exigir que ele ouse tirar poder dos Bolsonaros (10/10).

P.S.: Temer tentou o mesmo, colonizar a morta-viva diplomacia brasileira, o que exigia que o MDB tomasse as duas casas. Mas Temer perdeu. E seu objetivo era o Itamaraty mesmo.

P.S.2: quem perdeu com Lira foi Doria e o próprio Maia. A esquerda apenas sofreu uma derrota porque acreditou na cantilena de Maia e Baleia. Não precisava ter entrado nesse barco furado e tomado um tiro que não era para ela.

*batalha.