1/n O @ahcristo perguntou-me "Mas é necessário ter os professores e os auxiliares vacinados para poder reabrir as escolas? A vacina só trava a doença, não trava o contágio, pelo que, com ou sem vacina, a questão extra-escolar colocar-se-á sempre. O ponto é a testagem regular"
2 Primeiro: podemos discutir este tema a partir de um ponto meramente teórico ou de um ponto totalmente prático. Eu sou mais dado ao pragmatismo que me é dado pelos dados, por estudos científicos revistos por pares, e por uma análise diária ao que se faz um pouco por todo o mundo
3. A resposta à pergunta do @ahcristo é um "Sim". É necessário ter professores e auxiliares vacinados, como também é necessário testar, e testar muito mais do que estamos a testar neste momento. As condições não são exclusivas, mas sim inclusivas.
4. E porquê? Para mitigar o risco que as escolas representam, e sobre o qual há demasiada evidência para que se negue. Proteger um universo significativo de pessoas permite mitigar o aparecimento de surtos.
5. "Ah, mas os miúdos passam uns aos outros, e depois passam lá em casa". Correcto! E por isso mesmo é preciso testar, e testar em massa e regularmente.
6. Com professores e auxiliares vacinados, podemos ter alguma "tranquilidade" em ambiente escolar que iria permitir alguma constância, independentemente de existirem infetados ou até surtos nas escolas.
7. Podemos debater tudo o que não foi feito, e que deveria ter sido feito? Podemos e devemos. Porque a situação em que estamos agora também é fruto de uma crença: que se tinha operado um milagre e que já estava tudo bem.
8. Não foi feito nenhum esforço para preparar o ano letivo tendo em conta a pandemia, não foram criadas as condições para a existência de regimes presenciais nos escalões mais novos, regimes mistos e em espelho nos regimes mais velhos, e regime totalmente online para o superior
9. Acreditámos na estrelinha e passados poucos meses estávamos, novamente, a reagir em vez de agir atempadamente antes do céu nos cair de novo em cima da cabeça.
10. Mas agora, em março de 2021, falar disso não vai resolver o problema. E abrir todas as escolas, invocando o trauma para sempre que estes meses vão deixar nas crianças, é só e apenas demagogia, e das más.
11. "Mas não podemos ficar assim para sempre!!!!"
Pois não, mas devemos ter um plano para saber o que abrir, quando o abrir, e quais os parâmetros para voltar a fechar se necessário.
12. No que diz respeito às escolas, devemos voltar ao ensino presencial nos escalões mais novos só nos concelhos com menos de 240 casos por 100k. Devemos também ter planos de testagem em massa a funcionar, não no papel, nestes concelhos e de modo gratuito para todos.
13. Devemos também ter as condições para se fazer um contact tracing eficaz, e regras que não dependem da "percepção" da autoridade de saúde local. Regras iguais para todos, sem excepções.
14. Com tudo isto, mais os postos de vacinação a funcionar, podemos voltar ao ensino presencial para os escalões mais velhos. Mesmas regras, mesmos critérios.
15. Devemos também começar já, de imediato, a preparar o próximo ano letivo tendo em conta um contexto de pandemia: planear e estar preparado não significa implementar mas pelo menos existirá um plano e um conhecimento público do mesmo.
16. Resumindo, que isto já vai longo:
- O desconfinamento deveria ser feito por concelhos, conforme a incidência de casos, e os dados atualizados diariamente (existem!)
- Regimes distintos para incidências distintas
- Reabrir lentamente e voltar atrás sempre que necessário
17.
- Não ter medo de assumir regras sem excepções
- Não colocar nada no plano da crença de que o bom senso vai imperar
- Testar, vacinar, testar, vacinar, testar, vacinar.
18. No capítulo da vacinação estamos dependentes de factores externos, mas no capítulo da testagem não estamos. Adequar o plano de vacinação à realidade do país é imperativo também.
Ontem @antoniocostapm disse "excepto os 25 concelhos que têm menos de 240 casos por 100000 habitantes"
Os últimos dados por concelho, da @DGSaude, mostram que existem 59 concelhos nessas condições.
A contiguidade territorial sempre foi um dos factores, além dos casos por 100000 habitantes, para definir o escalão de risco de cada concelho. Mas será que isso explica a redução de 59 concelhos para 25?
Olhando para o mapa de risco, percebemos que temos concelhos que foram declarados como de risco moderado, totalmente cercados por concelhos de risco muito elevado e até extremo.
Vamos lá, novamente, falar de dados, já que o contrato da @DGSaude com a Closer Consulting, termina brevemente.
O contrato, no valor de €48216 à razão de ~€398,47/dia, deveria garantir termos mais dados, com mais qualidade. Afinal estamos a pagar para isso, certo? Errado
Após uma longa pausa sem dados por concelho, no dia 16NOV2020 voltámos a ter esses dados semanalmente. Seria expectável que se escolhesse um intervalo temporal que permitisse todas as semanas ter dados atualizados para pelo menos 7 dias. Seria expectável, útil, e possível.
A realidade, infelizmente, é outra, como se pode observar, especialmente nos dados divulgados esta semana que só não cobrem o mesmo período da semana passada por 3 dias.
Agora sem letras de músicas dos anos 80, vamos lá falar do famoso gráfico, para ver se isto se esclarece de uma vez por todas, porque entre o spin da defesa e o spin do ataque, há uma realidade que importa compreender. Abro thread:
No dia 7 de novembro 2020 (já a passar para 8 de novembro), @antoniocostapm apresentava este gráfico para justificar uma série de medidas que entrariam em vigor no dia 9 de novembro até dia 23 do mesmo mês.
Rapidamente se notou que a soma das parcelas do gráfico não resultavam em 100%, como seria obrigatório, mas sim em 95%, estando em rodapé no gráfico uma nota a dizer que os 5% que faltavam eram desconhecidos.
Ontem, escrevi um par de tweets, irritado, sobre o que me parece ser uma narrativa de endeusamento de um jovem militante do partido do Voldemort do Algueirão. Vou abrir uma pequena thread sobre este assunto, agora com mais calma.
Nas respostas aos tweets, algumas pessoas vieram-me dizer que a manifestação do pessoal da restauração, e a organizada pelo jovem, era manifestações distintas. Andei à procura de informação que me esclarecesse isto, mas não encontrei.
Mesmo assim, dou o benefício da dúvida a quem me disse isso, e sou "forçado" a estabelecer dois cenários para o que aconteceu ontem:
Cenário 1: O que ontem, irado, escrevi (com um erro de português que ainda me está a assombrar - obrigado @iAModp ;)
Este é um exercício baseado em dados, dados esses disponibilizados pela @DGSaude, até dia 26 de Outubro de 2020.
É uma visão alternativa do que tem sido proposto, do que tem sido feito, e do que tem sido divulgado.
Vale o que vale mas, sendo crítico do que está a ser feito, não poderia deixar de tentar contribuir para uma solução ou, pelo menos, para o início de uma discussão que merece ser feita, na minha opinião.
A 03 de Agosto, a situação não era de milagre no nosso país. Aliás, nunca existiu milagre, como até os próprios defensores do milagre já vieram defender e, na minha opinião, era esta a altura para começarmos a tomar medidas.
Acabei agora de ler o artigo do @danielolivalx hoje no @expresso, com o título "No desespero, decide-se bem com boa informação".
Em comum, com o que é escrito pelo @danielolivalx, tenho a preocupação de se estarem a tomar decisões assentes em dados que não são granulares o suficiente para se tirarem conclusões. Como eu, e muitos outros já referimos, juntar coabitantes e familiares na mesma fatia, é errado
Também carecem de validação os outros principais factores de contágio, que foram mudados no espaço de três dias, sem que ninguém tenha questionado as entidades competentes sobre essa mudança: