Vamos lá, novamente, falar de dados, já que o contrato da @DGSaude com a Closer Consulting, termina brevemente.
O contrato, no valor de €48216 à razão de ~€398,47/dia, deveria garantir termos mais dados, com mais qualidade. Afinal estamos a pagar para isso, certo? Errado
Após uma longa pausa sem dados por concelho, no dia 16NOV2020 voltámos a ter esses dados semanalmente. Seria expectável que se escolhesse um intervalo temporal que permitisse todas as semanas ter dados atualizados para pelo menos 7 dias. Seria expectável, útil, e possível.
A realidade, infelizmente, é outra, como se pode observar, especialmente nos dados divulgados esta semana que só não cobrem o mesmo período da semana passada por 3 dias.
Podem existir várias justificações para isto ter acontecido, mas nenhuma delas é pública. O interesse dos OCS sobre a integridade dos dados também parece não existir. Para terem uma ideia, o PDF fornecido com os dados por concelho esta semana, quando passado para xls ficou assim
Nas semanas anteriores ficava desformatado, mas não tanto 🙄 e de repente fica-se a desejar que aquilo que é péssimo seja a norma, quando confrontados com o terrível.
Nunca entendi porque razão os dados não são fornecidos num formato aberto, de fácil derivação para outros formatos, e que permitam a sua análise. Nunca entendi e nunca vou entender, e escrevi sobre isso aqui:
Segundo o portal BASE o contrato com a Closer Consulting termina amanhã. Não sei se durante estes 120 dias os Serviços Partilhados do @saude_pt tiveram tempo para, internamente, assegurarem "os serviços técnicos necessários à elaboração do boletim epidemiológico"
O que sei, aliás tenho a absoluta certeza, é que a entrega a uma entidade privada desta tarefa só nos trouxe, a todos nós, menos dados, piores dados, e de mais difícil acesso. Espero que a experiência não se volte a repetir.
Agora sem letras de músicas dos anos 80, vamos lá falar do famoso gráfico, para ver se isto se esclarece de uma vez por todas, porque entre o spin da defesa e o spin do ataque, há uma realidade que importa compreender. Abro thread:
No dia 7 de novembro 2020 (já a passar para 8 de novembro), @antoniocostapm apresentava este gráfico para justificar uma série de medidas que entrariam em vigor no dia 9 de novembro até dia 23 do mesmo mês.
Rapidamente se notou que a soma das parcelas do gráfico não resultavam em 100%, como seria obrigatório, mas sim em 95%, estando em rodapé no gráfico uma nota a dizer que os 5% que faltavam eram desconhecidos.
Ontem, escrevi um par de tweets, irritado, sobre o que me parece ser uma narrativa de endeusamento de um jovem militante do partido do Voldemort do Algueirão. Vou abrir uma pequena thread sobre este assunto, agora com mais calma.
Nas respostas aos tweets, algumas pessoas vieram-me dizer que a manifestação do pessoal da restauração, e a organizada pelo jovem, era manifestações distintas. Andei à procura de informação que me esclarecesse isto, mas não encontrei.
Mesmo assim, dou o benefício da dúvida a quem me disse isso, e sou "forçado" a estabelecer dois cenários para o que aconteceu ontem:
Cenário 1: O que ontem, irado, escrevi (com um erro de português que ainda me está a assombrar - obrigado @iAModp ;)
Este é um exercício baseado em dados, dados esses disponibilizados pela @DGSaude, até dia 26 de Outubro de 2020.
É uma visão alternativa do que tem sido proposto, do que tem sido feito, e do que tem sido divulgado.
Vale o que vale mas, sendo crítico do que está a ser feito, não poderia deixar de tentar contribuir para uma solução ou, pelo menos, para o início de uma discussão que merece ser feita, na minha opinião.
A 03 de Agosto, a situação não era de milagre no nosso país. Aliás, nunca existiu milagre, como até os próprios defensores do milagre já vieram defender e, na minha opinião, era esta a altura para começarmos a tomar medidas.
Acabei agora de ler o artigo do @danielolivalx hoje no @expresso, com o título "No desespero, decide-se bem com boa informação".
Em comum, com o que é escrito pelo @danielolivalx, tenho a preocupação de se estarem a tomar decisões assentes em dados que não são granulares o suficiente para se tirarem conclusões. Como eu, e muitos outros já referimos, juntar coabitantes e familiares na mesma fatia, é errado
Também carecem de validação os outros principais factores de contágio, que foram mudados no espaço de três dias, sem que ninguém tenha questionado as entidades competentes sobre essa mudança:
Será verdade que a @DGSaude pediu para as pessoas fecharem os vidros dos carros na A28?
Vou deixar aqui umas pistas:
1. A imagem não foi manipulada. Foi transmitida hoje no jornal da tarde da @SIConline, e a pessoa que está na imagem é a Teresa Leão
2. Esta investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, diz enquanto enumera conselhos práticos que "circular de janelas fechadas pode ser uma boa alternativa também"
O que acontece quando não existem dados públicos, é que cada OCS escreve o que quer, baseado no que quiser, e não há hipótese de contraditório.
Isto quer dizer que, neste momento, a @DGSaude é uma enabler de notícias falsas, por pura falta de transparência.
Com vários OCS, locais e regionais, a avançarem com números que ninguém sabe de onde vêm, estão a colocar várias populações em níveis de ansiedade evitáveis.
Esperar "pelo momento certo" soa a estratégia política, não a ciência ou saúde pública.
Esta "estratégia" (estou a ser simpático) de guardar dados, de não os divulgar, de não ser transparente, vai trazer muitos maus resultados. Ninguém vai compreender que a uma 2ª feira sejam 121 concelhos, e a uma 6ª passem a 280. É assim que se perde credibilidade.