Pra quem perdeu hoje o Diario da Peste, Maurício @Virology_FAMERP e eu explicamos com detalhes a relação entre variantes e vacinas.
em resumo: cuidado com preprints e com o alarde feito sobre eles. até agora temos dados suficientes para demonstrar que as vacinas que temos ainda funcionam contra as variantes e por isso devemos usa-las e logo.
alguns preprints mostraram queda de neutralização de anticorpos na variante P1 que circula no Brasil. isso gerou preocupação, fios longos no twitter e muita discussão. os fatos sao bem menos assustadores. ensaios de neutralização medem um único aspecto da resposta imune.
que é q capacidade mecânica do anticorpo de se ligar ao virus no domínio de ligação ao receptor, impedindo assim que ele entre na célula. e isso tudo é feito “in vitro” ou seja, no tubo de ensaio. é uma informação muito importante mas não mede tudo que acontece no organismo vivo
anticorpos também servem para sinalizar e chamar celulas de defesa como macrofagos e monocitos que vao lá “comer” o complexo virus/anticorpos. também sinalizam para o sistema complemento que, bem, complementa a resposta!
alem disso, anticorpos não sao nossa única defesa. outro estudo mostra que as variantes não fazem nem cosquinha na resposta celular, de células T, que vão reconhecer e eliminar celulas infectadas. tb vao sinalizar e mandar fazer mais anticorpos.
alem disso, no organismo vivo temos celulas de memória, prontinhas prq jogar mais anticorpos quando o virus aparece. e finalmente, nao sabemos o correlato de proteção, a quantidade minima de anticorpos e celulas T que protegem contra a doença.
então, dizer que a neutralização de anticorpos gerados pelas vacinas caiu 20, 30, 40 vezes, nao quer dizer nada a nao ser que tenhq caido abaixo do mínimo necessário. o que não parece ser o caso ainda.
digo ainda porque se nao vacinarmos nem tomarmos medidas restritivas mais severas, o virus segue circulando solto e podem aparecer mais variantes. e uma delas pode acabar escapando de fato de vacinas.
lembrando que testes de eficácia das vacinas Janssen e Novavax mostraram eficácia menor na África do Sul, ao encontrar a variante de lá. Mas ainda funcionam. e podem e devem ser usadas.
Estudo novo da AstraZeneca mostra uma eficácia de 76% com dose única da vacina, nos primeiros 90 dias, e aumenta para 82,4% após a segunda dose, neste intervalo. Mostrando que esperar 3 meses para dar o reforço pode ser realmente uma boa estratégia.
Mas vale a pena dar o reforço, para garantir maior duração da resposta imune. O número de anticorpos neutralizantes também aumentou bem com o reforço.
ótimos resultados e finalmente a transparência que tanto esperamos. quase 20 mil voluntários, aprox 15 mil vacinados e 5 mil no placebo. eficácia de 91,6%. contra casos graves, nada no grupo vacinado contra 20 no placebo
mostrando mais uma vez o potencial que parece ser comum a todas as vacinas de prevenir doença grave. o que mostra de novo como é irrelevante comparar eficácia de vacinas ao pe da letra.
Disclaimers de sempre: é press release, e tem poucos dados. Mas o que tem é muito bom! Eficácia de 72% nos EUA, 66% na América Latina e 57% na Africa do Sul. Ensaio com 43 mil voluntários, e 468 eventos. Assim como a Novavax, chama atencao a perda de eficacia na Africa do Sul.
Mais um sinal de alerta para variantes com escape de mutação. Isso mostra - de novo - a urgência de vacinar rapidamente e caprichar na prevenção, pra evitar mais mutantes. Outro fator importante é termos vacinas diferentes, com tecnologias diferentes,
Resultados da análise interina (preliminar), contou com 15 mil participantes no Reino Unido, entre 18-84 anos, com 27% maiores de 65, o que dá uma boa quantidade de idosos, que em outras vacinas temos poucos dados. Foram observados 62 eventos (pessoas com sintomas),
Destes 62 eventos, 56 estavam no grupo placebo, e apenas 6 no grupo vacinado, dando uma eficácia de 89%. Muito boa, considerando que 50% dos casos já eram da nova variante do Reino Unido. Dados se segurança ótimos tb, como é de se esperar de uma vacina de proteína.
Depois da reportagem na TV cultura sobre etiqueta da pandemia, onde perdi a paciência, creio que cabe republicar minha coluna sobre as festas de fim de ano: blogs.oglobo.globo.com/a-hora-da-cien…
E ainda sobre a reportagem na TV cultura, alguns pontos que nao tivemos tempo de comentar ao vivo, mas que são importantes. Delmantou levantou a questão de que ficaria receoso de corrigir alguém na rua, e a pessoa reagir de forma violenta. Verdade. é um cuidado.
Eu sempre faço isso em locais públicos, e se possível, chamando um gerente ou responsável. Mas a reportagem falava de familiares, em um ambiente de festa, o que é bem diferente. Outro ponto que me chamou atenção foi quando Delmanto comentou sobre um restaurante que ele frequenta
Alguns conceitos que apresentamos, fitness viral não é a mesma coisa que fitness epidemiológico, embora muitas vezes ocorram juntos.
sobre esse mutante especificamente, os dados ainda são insuficientes para afirmar se é mais infeccioso e se pode ser co-responsavel pelo aumento de casos no Reino Unido. digo co-responsavel porque certamente não é o unico responsável.