A decisão de Fachin foi acertada no teor, mas não deixa de ser uma meia-verdade, embora revele uma parte da grande farsa que foi a Lava Jato - onde uma vara da Justiça Federal em Curitiba passou a ter competência jurisdicional total, o que sempre foi uma aberração. Entenda (1/7):
Sempre que eu discuti Lava Jato com os amigos, sobretudo com o pessoal de fora do Direito, eu enfatizava: "para começo de conversa, como TUDO AQUILO pode ter tramitado na Justiça Federal de Curitiba?" (2/7).
Sim, porque na "Lava Jato" para além de uma mistura entre polícia, acusação e judiciário, havia uma bisonha lógica de que TODOS AQUELES FATOS TERIAM CONEXÃO ENTRE SI. Não tinham, é óbvio (3/7).
Pior ainda, mesmo que tivessem, a Petrobrás não é sediada em Curitiba. A Lava Jato sempre foi uma violação muito elementar da Constituição e do Código de Processo Penal, daquela coisinha que aprendemos nos primeiros anos do Direito, a competência territorial (4/7).
A decisão de Fachin, com muito atraso, reconhece isso. Uma vara da Justiça Federal de Curitiba não poderia ter sequer julgado Lula por aqueles processos. Mas o problema é mais embaixo como sabemos (5/7).
No caso de Lula, a denúncia, a própria denúncia, que foi apresentada pelo Ministério Público Federal é nula e, antes dela, a própria atuação da polícia federal. Aquilo foi fruto de um complô e está documentado em arquivos que estão em posse do STF (6/7).
Antes da Vaza jato, essa decisão de hoje seria 100% correta pelo que se sabia, mas depois dela, contudo, não deixa de ser menos do que Lula merece. No entanto, é uma maravilhosa notícia que a Justiça comece a sorrir novamente por ele. E pelo Brasil (7/7).

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4 Mar
Aécio Neves, quem diria, volta à cena com Lira no comando da Câmara. Isso mostra que a sucessão de Rodrigo Maia, menos que uma vitória de Bolsonaro, ilustra uma sofisticada e sorrateira nas fileiras da "direita tradicional" pelo poder. Entendam (1/10).
Em 2014, Aécio se afastou do que seria uma colaboracionismo com o Lulismo e retomou uma linha FHCista no PSDB. Mais do que isso, subiu como ninguém o tom, baixando o nível, contra uma combalida Dilma (2/10).
Ele, Aécio, surfou na onda do direitismo que é *também* um dos efeitos de 2013. Mas na hora H, ele não enfiou o pé, sabe-se lá para onde, para vencer Dilma. Há quem diga que se negou, inclusive, a permitir Bolsonaro no seu palanque. Perdeu, por pouco (3/10).
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3 Mar
Há quase um ano eu comentei, no thread compartilhado abaixo sobre o cenário catastrófico da economia brasileira. Risco de inflação, descontrole e, inclusive, alta dos juros pelo cenário versus a política econômica de Bolsonaro-Guedes (1/10).
Muitas coisas estão se confirmando agora, mas tudo tende a ser pior pelo descontrole da pandemia e da farsa dos últimos meses. Havia um mundaréu de coisas que foram ignoradas, talvez pelos motivos errados, um deles é a inflação (2/10).
Guedes culpa o auxílio-emergencial pelo aumento dos preços, mas (1) ele sabe que isso é mentira; (2) ele conta essa história porque odeia o fato de ter precisado dar o auxílio e, ainda, precisa de um argumento para estruturar um arrocho pós-pandemia (3/10).
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31 Jan
As revelações das conversas entre Moro e Dallagnol são estarrecedoras. O STF precisa ter coragem de anular as condenações de Lula, mas também libertar o hacker que tornou públicas essa conversa. Se não continuaremos neste atoleiro (1/7).
Há colegas falando em "prova ilícita", mas vejam: o hacker agiu em legítima defesa de terceiro não em benefício próprio. As conversas eram feitas em meio privado pela natureza clandestina e criminosa da prática, sendo que elas se referiam a algo público, os processos (2/7).
Ninguém vazou conversas privadas de Moro e Dallagnol. Aquelas conversas deveriam estar em meios oficiais, como o e-mail institucional deles, mas evidentemente isso não ia ser tratado por lá pela *natureza* do conteúdo (3/7).
Read 7 tweets
28 Jan
Interessante a movimentação alemã, e por consequência europeia, em direção da China e se afastando dos EUA. Isso é um dos maiores movimentos de placa tectônica desde o fim da URSS e está quase sendo ignorado no Brasil (1/7).
Até Obama, havia um processo de globalização em curso, uma competição cooperativa entre China e EUA e, do outro lado, um alinhamento quase total da Europa com os EUA, na economia e na política (2/7).
A Europa, p.ex., tinha um enorme comércio com a China, mas não um acordo de investimentos. Isso, por incrível que pareça, só saiu agora e é parte dessa movimentação (3/7).
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11 Jan
A China parecia condenada a ser um enorme parque industrial para produzir as invenções, designs e modelos desenvolvidos na Califórnia, mas ela inverteu essa relação, o que deixou os EUA de cabelo em pé e virou o mote da tensão sino-americana (1/5).
Pois bem, quem mais se incomoda com o avanço da China na vanguarda tecnológica nem são as empresas de alta tecnologia do Vale do Silício, mas um capital velho dos EUA que vê nessa "ultrapassagem" um tema para tomar o poder como tomaram em 2016 (2/5).
Por que a China tomou a dianteira em coisas como 5G, fusão nuclear, automóveis elétricos? Pela capacidade de investir organizando e organizar investindo. Isso, aparentemente, acabou no Ocidente depois de 2008 (3/5).
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10 Jan
Está em curso a aplicação a fórmula Crivella em escala nacional: no caso, manter um presidente fraco, sem moral, com inúmeros crimes de responsabilidade nas costas, mas que é justamente um pato manco capaz de conferir legitimidade a quem for enfrenta-lo na reeleição (1/7).
Militares lucram ocupando ministérios, parlamentares lucram colocando a faca no pescoço do presidente, banqueiros lucram com a política econômica e aos sem voz nem vez, Bolsonaro tem uma agenda de perversidade (2/7):
A entregar uma flexibilização de direitos trabalhistas e ambientais para o pequeno e médio capital ficarem felizes com a diminuição (todavia inócua) dos custos e uma agenda moral perversa para trabalhadores e pobres (3/7).
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