É sintomático que muito dos comentários que recebo sobre a atuação das igrejas e congregações evangélicas ignore o papel pragmático dessas instituições. Ignoram o papel dessas redes na socialização dos indivíduos, seu papel humanitário/assistencialista.
Esquecem, inclusive, da longa relação que as esquerdas tiveram com estes setores ao longo dos anos 90-00, vide, por exemplo, o papel proeminente de figuras como Benedita e Marina Silva. Mas também na constituição da base de governabilidade do PT.
As redes evangélicas não se resumem aos pastores da universal exorcizando pessoas na televisão, tampouco aos grupos de estudos da Bíblia no whatsapp. As redes evangélicas correspondem, sempre, a uma rede de indivíduos reais que, geralmente, tem um papel comunitário essencial.
Não adianta ficar atacando os evangélicos e suas redes no genérico sem compreender a importância que essas tem nas periferias, nas favelas, nos subúrbios. Como podemos competir com eles se não oferecemos nada em troca a essas pessoas?
Não sejam evangélicos, não escutem o pastor, não votem nos candidatos evangélicos, mesmo que sejam estas pessoas que tenham arrumado um emprego para aquele seu primo que acabou de sair da cadeia, que tenham te arrumado aquela cesta básica, aquela cadeira de rodas para a sua avó.
Já disse e repito: não podemos, mais uma vez, esperar por um presidente, pela ocupação do Estado, para atuarmos nessas áreas. Diria, inclusive, que uma eventual eleição seria consequência direta dessa atuação.
Do contrário, ficaríamos reféns, como foi durante o Governo Dilma, dessas redes evangélicas. Pessoal esquece que o Cunha era um dos maiores representantes dessas redes, por isso ele ganhou tanto poder na política.
E esse é um ponto crucial, qualquer projeto de ocupação estatal, hoje, passa necessariamente pelo diálogo com essas comunidades, com essas populações. Desde pelo menos 2002 não existe presidente que não se elege com voto evangélico.
Para quem acha que o diálogo é impossível, sempre bom lembrar que em 2018, uma pesquisa do Neamp, da PUC-SP, mostrou que Lula liderava entre os evangélicos a despeito da campanha dos grandes pastores.
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O óbvio se constatou: a PEC emergencial era um golpe do governo - especialmente de sua equipe econômica - para destruir o serviço público no país. Em troca disso, "recebemos" uma esmola e, provavelmente, o fortalecimento de uma certa teocracia difusa.
Sim, esmola, pois a quantia de - no melhor dos casos - 250 reais pode até ajudar uma família que possui alguma renda e fazer a diferença entre a vida e a morte para quem não tem nenhuma. Mas no geral não muda em absolutamente nada para a grande parcela que realmente necessita.
Nem vamos entrara aqui nas questões de acesso ao auxílio, documentação, etc... mas a realidade é que, dada a inflação galopante, especialmente no setor alimentício e moradia, 250 reais (no melhor dos casos, reitero), e por tão pouco tempo, não vai ser capaz de mudar muita coisa.
O governo Bolsonaro é uma "operação limpeza" das FFAA que está dando muito errada. E até 2022 teremos um ponto crucial, pois é impossível que as FFAA (e o governo Bolsonaro) sejam capazes de mudar o situação nós próximos dois anos.
"Operação limpeza" é uma operação militar que ocorre para limpar os resultados de suas ações. Nesse caso específico, os mortos e desaparecidos políticos durante a Ditadura Militar.
Aconteceu no Araguaia, por exemplo, quando os militares fizeram seguidas "operações limpeza" na região para sumir com os restos mortais dos guerrilheiros e camponeses mortos durante o período militar.
O PSDB e congêneres não aprenderam absolutamente nada com 2018, quando viram o seu projeto de poder ser surrupiado pelo então deputado Jair Bolsonaro (financiado pelos militares.).
Sempre bom lembrar, Bolsonaro não era o candidato do "mercado", era o Alckmin (e o Meirelles como plano B). Tanto que o Paulo Guedes fora vendido como o fiador de uma agenda ultraliberal que nem chegou ao papel.
O "mercado", repito sempre, só comprou o mandato Bolsonaro como um alternativa pois lhe fora prometido que ele seria um presidente (fraco) comprometido com o mercado, que "ele" seria capaz de pautar livremente a agenda econômica do governo.
O não voto favorece o Bolsonarismo. E nesse momento é a sua única estratégia para vencer as eleições. Setores mais ao "centro" apostam na narrativa para, mais a frente, lançarem alternativas ao "cenário de polarização" (que eles mesmo estão criando).
Deu muito certo para o Alckmin em 2018, né? Passaram anos gestando um "espírito nacional à direita" na esperança de se valerem dele nas eleições. Tomaram uma lavada do conluio bolsonarista.
A decisão do Fachin foi, ao mesmo tempo, o melhor e o pior dos mundos para o Bolsonaro. No melhor dos mundos lhe deu uma narrativa para suportar os próximos meses, no pior, lhe deu o pior cenário possível para 2022.
Melhor dos mundos: tem semanas, meses até, que a máquina de desinformação bolsonarista vem tentando, sem muito sucesso, emplacar uma narrativa capaz de virar o jogo político. A viagem para Israel foi uma tentativa desesperada de criar algo.
O desespero da máquina era tão grande que chegavam a testar narrativas conflitantes no mesmo dia. As pessoas percebem - e comentam isso nos grupos. No geral, existe um período de tempo entre elas, alguns dias. Isso demonstra desespero.
Essa história do Bolsonaro se filiar ao Partido da Mulher Brasileira sendo aventada, justamente, no 8 de Março tem toda cara do mundo de ser uma estratégia de comunicação pensada.
Real ou não a filiação já nasce como trending por conta do efeito de ultraje. Revoltados, estamos divulgando a notícia, o deboche. Os partidários do sujeito estão rindo nos comentários. Bullying como política tem eficácia comprovada.
Povo adora utilizar a palavra "cortina de fumaça", né? Exceto quando se trata de uma. A filiação, real ou factoide, por se tornar uma trending desvia atenção do fracasso político que foi a criação do Aliança Pelo Brasil.