Relutei em dar opinião sobre a mudança do cenário político a partir a anulação dos processos contra @LulaOficial. Uns cravaram que Lula está com a mão na taça, outros disseram que Bolsonaro está reeleito. Mas como as pesquisas recentes sugerem, o cenário é bem + complexo 🧵👇
1) Teremos que observar 3 variáveis fundamentais:
- Como Bolsonaro se comportará diante de Lula;
- Como Lula construirá sua candidatura;
- Em que medida uma terceira via poderá aparecer.
Considero, para fins dessa análise, que não teremos reviravoltas políticas ou econômicas 👇
2) A posição de Bolsonaro é + difícil do que parece. Concordo que ele só sabe fazer política pela confrontação; esse é um dos traços da extrema-direita.
Mas há uma diferença: ao contrário da metralhadora giratória dos últimos 2 anos, em que todo opositor era inimigo da nação 👇
3) ...em potencial, agora ele terá que centrar suas munições contra o único inimigo que é maior que ele.
Ao contrário de Folha, Globo ou Doria, o único que a militância virtual não consegue esmagar ou tripudiar facilmente.
E, mais importante, o único que forçará Bolsonaro...👇
4) ...a ir para o mano-a-mano, situação que Bolsonaro tende a perder, seja pq é um político menos habilidoso, seja pq tem menos a mostrar.
A corrupção é uma variável menor no cálculo do eleitor. E o governo Lula já é distante o suficiente pra ser lembrado pelas coisas boas 👇
5) ...sem ser contaminado pelo caos político e econômico de 2015-16.
Nesse quadro, a única opção viável p/Bolsonaro é dobrar a aposta no antipetismo, fazendo novamente uma campanha negativa, movida por medo e ódio, na expectativa de reconciliar com bolsonaristas desgarrados 👇
6) Ainda assim, vale lembrar que Bolsonaro não modera o tom. Ele não é (e nunca será) um político de centro. Precisa reativar a polarização.
Quem espera um Bolsonaro defendendo máscaras ou a terra redonda só porque o Lula o criticou não conhece o modus operandi do bolsonarismo👇
7) Lula, por sua vez, seguirá batendo forte em Bolsonaro. A incompetência, o radicalismo e a grosseria do bolsonarismo são alvos fáceis.
Mas essa é só parte da história. Lula também terá que se posicionar para o eleitor. E há 2 caminhos possíveis, um mais e um menos moderado 👇
8) Quem viu o discurso de 4a se apressou em dizer que o "Lulinha paz e amor" está de volta. Não é bem assim. Lula perdeu a confiança de uma parcela do eleitor mais ao centro e o mercado não está mais ao seu lado.
Não será fácil reconstruir esses laços: a conjuntura de 2022... 👇
9) ...é totalmente diferente daquela de 20 anos atrás. As promessas que ele fará são limitadas.
Pleno emprego? Bancos lucrando horrores? Brasileiro comprando cerveja e picanha? Diplomacia ativa e altiva? Esquece.
A verdade é que um Lula de centro, hoje, não tem o mesmo charme👇
10) Lula sabe que, se eleito, herdará um país quebrado, desmoralizado, com enormes tensões sociais.
Não é possível costurar um pacto nacional sem falar em justiça social, em direitos de minorias, em mais Estado na economia. Mas sabemos que essas pautas foram desqualificadas 👇
11)...do debate público, parte graças aos erros do passado, parte pela corrupção descontrolada, parte pelo interesse das elites e suas ideias "liberais".
Então pode ser que Lula tenha que se apresentar como alguém de esquerda. Não digo radical, até porque esse não faz o perfil👇
12)...do próprio ex-presidente, mas alguém que fará menos concessões a banqueiros, aos gigantes do agro, aos (poucos) grandes industriais que restaram.
E sabemos que ser de esquerda, mesmo defendendo o óbvio e o básico, tem seus custos. E são custos que definem uma eleição 👇
13) Eis o paradoxo: um Lula de centro-esquerda, à la 2002, seria para ele o melhor dos mundos, até porque dificulta a polarização desejada por Bolsonaro.
Um Lula de esquerda, à la 1989, talvez esteja + sintonizado c/o momento de crise, mas facilita o discurso do medo e do ódio👇
14) E tanto Bolsonaro quanto Lula precisam chegar ao 2o turno, situação provável, mas não certeira.
Em 2014, @MarinaSilva quase rompeu a polarização histórica PT-PSDB. Quase.
Um candidato viável de 3a via tem que tirar votos de Lula e de Bolsonaro, mas demarcar diferenças 👇
15) O discurso deverá trazer algum apelo popular (Tirar o nome do SPC? Lar doce lar?) e ao mesmo tempo oferecer caminhos liberais que Bolsoguedes não conseguiu.
Figuras como @cirogomes@jdoriajr precisarão se reinventar. Nova Matriz e farinata não são boas bandeiras eleitorais👇
16) Uma 3a via sem estigmas políticos poderá se beneficiar.
O eleitor que não gosta de Lula ou Bolsonaro (mesmo que prefira um ao outro) está buscando alternativas. As que estão aí não agradam tanto.
17) Ainda é muito cedo para cravar qualquer coisa. Ser cientista político no Brasil nos obriga a ter cautela, porque tudo sempre pode mudar completamente.
Mas será interessante acompanhar as movimentações dos próximos meses. 2022 será emocionante e surpresas não faltarão 😅
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O bom dos posts recalcados do @ernestofaraujo é que é muito fácil desmenti-los. Nem entrarei no mérito de que Ernesto, o camaleão, defendeu a política externa da Era Lula com unhas e dentes. Vamos só focar nas mentiras contadas pelo chanceler?
As relações 🇧🇷🇺🇸 viveram bons momentos na era Lula-Bush, avançando em temas como biocombustíveis e a questão palestina.
As tensões com Obama disseram respeito a desencontros naturais entre a superpotência e a busca brasileira por protagonismo.
2) Não houve hostilização da Europa.
Vimos avançar parceria estratégica c/🇪🇺 (2007), além da aproximação c/🇩🇪 no campo ambiental, c/🇫🇷 no campo de defesa/militar, c/🇬🇧 no campo do combate à fome/desenvolvimento.
A área comercial não avançou por resistência em liberalizar o agro
Hoje, 8 de março, o Brasil recusou-se a apoiar declaração da ONU sobre os direitos das mulheres e o avanço nos compromissos internacionais sobre saúde feminina, supostamente em função uso da expressão "direitos sexuais e reprodutivos".
Em jul/20, o Brasil trabalhou para eliminar expressões como "intersecção" e "direitos sexuais e reprodutivos" de projeto de resolução mexicano no Conselho de Direitos Humanos, também se opondo a referências sobre "educação sexual" para mulheres e meninas.
Em artigo recente, @davidmagalhaes e eu argumentamos que, em vez de chamar Bolsonaro de negacionista, deveríamos considerá-lo um "populista sanitário", ou seja, alguém que usa medidas médico-científicas, ainda que desconexas, para legitimar suas (in)ações diante da pandemia 👇
Nem entrarei no mérito, bem levantado pela @brumelianebrum, de que esse caos não é fruto de incompetência, mas de um projeto deliberado de destruição. Tudo indica que é. Quero comentar sobre a ciência alternativa, ou "alt-science", que gravita em torno do governo Bolsonaro 👇
Alt-science é um movimento difuso de supostos "buscadores da verdade" que militam por posições científicas minoritárias a partir de evidências parciais, pseudociência e teorias da conspiração. São médicos, celebridades, empresários unidos pela desconfiança do establishment 👇
Uma vez comentei uma postagem absurda do deputado-bombado com um artigo da CF88. Além de me xingar, naquele mesmo dia ele gravou um vídeo dizendo que gente como eu ("cientistas políticos vagabundos que vêm regurgitar a Constituição") deveriam levar um "tiro bem na cabecinha" 👇🏼
Na época, fiquei até com certo receio, mas não fiz nada. Achei melhor deixar pra lá. Segui criticando o deputado publicamente por + 1 ano, até ele me bloquear recentemente. Passei a tratá-lo como palhaço, um sujeito que decorou palavras difíceis do dicionário p/parecer erudito 👇🏼
Não sei se teria feito alguma diferença se eu entrasse na justiça contra ele. Acho até que não, até porque esses caras são inconsequentes e perigosos. A prisão recente, por mais controversa que seja, tem uma função pedagógica: revela a verdadeira face dos tigrões virtuais... 👇🏼
🧵Rússia e México estão entre os "pretendentes" a parceiro privilegiado do 🇧🇷. São países de boas relações históricas conosco, mas que nunca foram centrais na estratégia brasileira. Diante do isolamento diplomático do governo Bolsonaro, os olhos se voltaram para eles. Por quê? 👇
1) O caso russo é interessante, já que Putin se coloca como uma espécie de "terceira via" geopolítica. Manteve boas relações com Trump (há até quem diga que o sharp power russo tenha ajudado a elegê-lo) e possui vínculos com a China, mas quer se afirmar como um pólo independente.
2) Boas expressões dessa independência econômica/militar são (1) o ativismo no espaço pós-soviético, que inclui interferência em vizinhos como Ucrânia, Geórgia, Belarus; (2) engajamento no O. Médio (Síria, Turquia, Irã, Catar); (3) maior presença além-mar (África, Venezuela)