🧵Rússia e México estão entre os "pretendentes" a parceiro privilegiado do 🇧🇷. São países de boas relações históricas conosco, mas que nunca foram centrais na estratégia brasileira. Diante do isolamento diplomático do governo Bolsonaro, os olhos se voltaram para eles. Por quê? 👇
1) O caso russo é interessante, já que Putin se coloca como uma espécie de "terceira via" geopolítica. Manteve boas relações com Trump (há até quem diga que o sharp power russo tenha ajudado a elegê-lo) e possui vínculos com a China, mas quer se afirmar como um pólo independente.
2) Boas expressões dessa independência econômica/militar são (1) o ativismo no espaço pós-soviético, que inclui interferência em vizinhos como Ucrânia, Geórgia, Belarus; (2) engajamento no O. Médio (Síria, Turquia, Irã, Catar); (3) maior presença além-mar (África, Venezuela)
3) Ainda assim, a 🇷🇺 está mais para uma potência capaz de desestabilizar a ordem internacional do que construir uma alternativa. Para ser 3a via, precisa de apoio de países intermediários, que lhe dêem força política, legitimidade e alcance extrarregional: worldpoliticsreview.com/insights/27815…
4) Portanto, é interesse da Rússia aproximar-se do Brasil. Como no caso da Índia, as relações 🇧🇷🇷🇺 não são novas e ganham força desde meados dos 90. Possuem parceria estratégica (2002) e uma curiosa "Aliança Tecnológica" (2004), que ampliou os horizontes de cooperação bilateral.
5) Ao Brasil também interessa essa relação. A Bolsonaro, a Rússia representa importante mercado do agro, fornecedor de fertilizantes e componentes de defesa, agradando ruralistas e militares. Também serve à narrativa, pois a 🇷🇺 não é globalista como Biden nem comunista como a 🇨🇳.
6) Aos olhos do bolsolavismo, apesar das desconfianças, a Rússia vem sendo retratada como um país soberanista e cristão(ortodoxo). Nacionalista religioso, pois. Quando @ernestofaraujo foi indicado chanceler, ele propôs uma "santa aliança" entre potências cristãs: EUA, BR, Rússia.
7) De fato, um dos aspectos menos explorados do reinado de Putin é sua intensa relação c/a Igreja Ortodoxa. As relações Estado-sociedade ficaram + centralizadas e conservadoras. As posições internacionais da 🇷🇺 também mudaram, convergindo c/o bolsonarismo foreignpolicy.com/2018/09/10/put…
8) A aproximação Brasil-Rússia, como se vê, é estratégica para ambos. Há interesses comerciais e valores compartilhados, sobretudo no campo dos costumes. Mas há 2 problemas: primeiro, os vínculos econômicos não são suficientes para justificar uma grande aproximação. O fluxo...
9)... comercial é pequeno e não há grande potencial de investimentos aqui (ao contrário de 🇺🇸, 🇨🇳 e até mesmo 🇮🇳).

Segundo, Putin dificilmente verá o 🇧🇷 como um igual. Não deixará Bolsonaro liderar o campo conservador e dificilmente fará concessões em temas contenciosos, como 🇻🇪
10) Ou seja, apesar de elogios de parte a parte e a inegável tentativa russa de seduzir o governo brasileiro, devemos encarar esse relacionamento c/cautela. Os potenciais são evidentes, mas limitados. O alinhamento brasileiro pode significar a adesão a um projeto que não é nosso.
11) No próximo (e último) fio da série, falarei das relações de Brasil e México. A aproximação recente é inusitada: Bolsonaro e AMLO ocupam lugares opostos no espectro ideológico. A afinidade decorre do fato de serem igualmente populistas e nutrirem enorme carinho por Trump.

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4 Feb
Bolsonaro inovou bastante em política externa. Colocou um bufão olavista no MRE e o filho semiletrado para tocar a agenda estratégica.

O resultado foi o inédito isolamento internacional do Brasil. Nossas relações estão fragilizadas com os principais parceiros. O que sobrou? 🤷‍♂️👇
1) Neste fio, analisarei as relações com um país de quem Bolsonaro vem se aproximando: a Índia.

Não pretendo explorar as tensões c/China, EUA, Argentina e UE, que já foram muito discutidos.

Basta dizer que vivemos o pior momento dos últimos anos com nossos maiores parceiros.
2) A vacina e a cloroquina fizeram dos indianos parceiros imprescindíveis de um Brasil sem opções estratégicas.

Bolsonaro e Filipe Martins vêm tratando a Índia como prioridade absoluta, o que fica claro nas manifestações públicas de ambos.

Mas qual o verdadeiro lugar da 🇮🇳?
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28 Dec 20
A única coisa que sustenta o bolsonarismo é a fabricação de inimigos imaginários.

Essa é a base da guerra cultural, criação desvairada de narrativas conspiratórias sobre forças ocultas e onipotentes.

Não é só espuma. A guerra cultural afeta diretamente as políticas públicas 👇🏼
Desde o princípio do governo, estava claro que a guerra cultural era a razão da sanha dos olavistas em ocupar espaços em áreas-chave: cultura, educação, direitos humanos, política externa.

Em todas elas, desejava-se construir uma nova ideia de Brasil, cristão e conservador 👇🏼
A infame frase de Bolsonaro na ONU é a melhor tradução disso: "o 🇧🇷 é um país cristão e conservador". Somos majoritariamente cristãos, sim, mas isso não faz do povo um monolito de ideias e convicções.

Essa idealização do Brasil serve bem aos interesses populistas do presidente👇🏼
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17 Dec 20
Esse artigo que escrevi com meu amigo @davidmagalhaes é um dos + importantes que escrevemos.

Nele, buscamos responder à seguinte pergunta: o que permitiu que populistas continuassem sendo populistas diante de uma crise sanitária, mesmo colocando em risco a saúde das pessoas? 👇🏼
Nossa resposta passa por 2 conceitos:

1) Populismo médico: uso de retórica divisiva p/reduzir responsabilidades durante a crise e transferi-las p/outros atores;

2) Ciência alternativa: rede de suporte ao populista que propõe soluções pseudocientificas c/verniz de legitimidade👇🏼
Analisando a promoção da cloroquina no Brasil e nos EUA, percebemos que Bolsonaro e Trump optaram por lidar com a crise não de forma abertamente negacionista, mas pretensamente científica, c/argumentos amparados por uma rede de médicos, jornalistas e influenciadores de direita👇🏼
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10 Nov 20
A eleição de Biden é um duplo golpe em Bolsonaro.

Primeiro, golpe simbólico: o bolsonarismo veio à sombra do trumpismo, imitou suas táticas, importou suas narrativas. Bolsonaro terá que se agarrar a outros referenciais daqui em diante.

Mas a maior vítima é a política externa 👇🏼
Já disse, aqui, que o comportamento irresponsável de Bolsonaro coloca o 🇧🇷 em posição de fragilidade.

Nenhum presidente deveria fazer campanha em eleições alheias. Isso é óbvio e está na CF-88.

Além de torcer pra Trump, comprou, sem ressalvas, a narrativa de fraude eleitoral 👇🏼
E a cereja do bolo é a demora em reconhecer a vitória do democrata, ao passo que praticamente todos os países já o fizeram - inclusive aliados 🇭🇺🇮🇳🇮🇱

A diplomacia é feita de sinalizações. Os democratas sabem que terão um presidente hostil e terrivelmente trumpista por aqui 👇🏼
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4 Nov 20
Há 1 razão fundamental p/um presidente não fazer campanha p/outro, além do óbvio respeito à boa diplomacia: se a torcida der errado, colocam-se as relações bilaterais em risco.

Bolsonaro quis ser cabo eleitoral de Macri 🇦🇷, Bibi 🇮🇱 e Trump 🇺🇸. Ele não costuma dar muita sorte 👇
O + surpreendente é Bolsonaro dobrar a aposta, mesmo quando a estatística joga contra ele.

A implicância c/o governo "socialista" do país vizinho levou ao pior período das relações 🇧🇷🇦🇷 em 4 décadas.

O caso 🇺🇸 é ainda + estranho. Bolsonaro segue em campanha aberta por Trump 👇
Já seria suficientemente ruim se Bolsonaro tivesse se calado semanas atrás, quando disse que torcia por Trump.

Com a menção inédita e pouco elogiosa no debate à política ambiental brasileira, Biden deixou clara sua insatisfação com o Trump tropical.

Riscou uma linha no chão 👇
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2 Nov 20
Às vésperas da eleição norte-americana, possivelmente a mais decisiva da nossa geração, gostaria de (novamente) recomendar algumas arrobas que entendem MUITO do assunto e poderão ajudá-l@s a decifrar a loucura do sistema eleitoral e da política 🇺🇸 👇

#Election2020 #ElectionDay Image
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