Bolsonaro inovou bastante em política externa. Colocou um bufão olavista no MRE e o filho semiletrado para tocar a agenda estratégica.
O resultado foi o inédito isolamento internacional do Brasil. Nossas relações estão fragilizadas com os principais parceiros. O que sobrou? 🤷♂️👇
1) Neste fio, analisarei as relações com um país de quem Bolsonaro vem se aproximando: a Índia.
Não pretendo explorar as tensões c/China, EUA, Argentina e UE, que já foram muito discutidos.
Basta dizer que vivemos o pior momento dos últimos anos com nossos maiores parceiros.
2) A vacina e a cloroquina fizeram dos indianos parceiros imprescindíveis de um Brasil sem opções estratégicas.
Bolsonaro e Filipe Martins vêm tratando a Índia como prioridade absoluta, o que fica claro nas manifestações públicas de ambos.
Mas qual o verdadeiro lugar da 🇮🇳?
3) As boas relações entre 🇧🇷🇮🇳 têm pelo menos 2 décadas de história. Os 2 países viraram parceiros estratégicos em 2006.
FHC, Lula, Dilma, Temer visitaram a Índia.
Eles, aliás, são o único país que está conosco nas grandes coalizões globais: BRICS, IBAS, G4, G20 com/fin, BASIC
4) Bolsonaro, portanto, não está inventando a roda. O que mudou foi a narrativa. Antes, 🇧🇷🇮🇳 se orgulhavam de ser nações emergentes, multiétnicas e multirreligiosas. Hoje, ao menos da perspectiva brasileira, é interessante vender a relação a partir de outro referencial...
5) ... o das nações soberanas, religiosas e nacionalistas. Quando Bolsonaro foi à Délhi a convite de Modi, há 1 ano, escrevi a respeito do tema. Nacionalismo religioso é traço comum entre os 2 países, o que implica a submissão da nação a um critério de fé. internacional.estadao.com.br/noticias/geral…
6) Para a Índia, contudo, essa narrativa tem seus limites. Modi certamente é um nacionalista religioso, mas está longe de ser antiglobalista. Ao contrário do 🇧🇷, cujo lugar atual no mundo deveu-se à relação com os EUA, os indianos querem seguir exercendo liderança multilateral.
7) Ao contrário do Brasil, a Índia se orgulha de seu lugar no mundo em desenvolvimento. É a "voz dos sem voz" na política internacional. Modi não mudou isso, mantendo relações diversificadas, focadas na influência indiana em seu entorno estratégico e no protagonismo multilateral.
8) Isso significa que Brasil e Índia dificilmente se alinharão em temas centrais da política mundial: reforma da ONU/OMC, mudanças climáticas, refugiados, direitos humanos, Palestina.
Tudo indica, também, que a Índia não se interessará em fazer oposição direta a China ou EUA.
9) Ademais, o comércio bilateral tem pouco espaço para crescer. Em 2019, a 🇮🇳 foi o 18º destino das nossas exportações e a 7º origem das importações. A tendência é mantermos uma balança deficitária, graças à compra de produtos químicos/farmacêuticos. Somos concorrentes no agro.
10) No próximo fio, falarei de dois outros "romances" em potencial da diplomacia bolsonarista: Rússia e México. Ambos são grandes nações com aspirações regionais. Mesmo que o governo brasileiro faça aberturas a esses 2 parceiros, dificilmente satisfarão as necessidades do país.
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🧵Rússia e México estão entre os "pretendentes" a parceiro privilegiado do 🇧🇷. São países de boas relações históricas conosco, mas que nunca foram centrais na estratégia brasileira. Diante do isolamento diplomático do governo Bolsonaro, os olhos se voltaram para eles. Por quê? 👇
1) O caso russo é interessante, já que Putin se coloca como uma espécie de "terceira via" geopolítica. Manteve boas relações com Trump (há até quem diga que o sharp power russo tenha ajudado a elegê-lo) e possui vínculos com a China, mas quer se afirmar como um pólo independente.
2) Boas expressões dessa independência econômica/militar são (1) o ativismo no espaço pós-soviético, que inclui interferência em vizinhos como Ucrânia, Geórgia, Belarus; (2) engajamento no O. Médio (Síria, Turquia, Irã, Catar); (3) maior presença além-mar (África, Venezuela)
A única coisa que sustenta o bolsonarismo é a fabricação de inimigos imaginários.
Essa é a base da guerra cultural, criação desvairada de narrativas conspiratórias sobre forças ocultas e onipotentes.
Não é só espuma. A guerra cultural afeta diretamente as políticas públicas 👇🏼
Desde o princípio do governo, estava claro que a guerra cultural era a razão da sanha dos olavistas em ocupar espaços em áreas-chave: cultura, educação, direitos humanos, política externa.
Em todas elas, desejava-se construir uma nova ideia de Brasil, cristão e conservador 👇🏼
A infame frase de Bolsonaro na ONU é a melhor tradução disso: "o 🇧🇷 é um país cristão e conservador". Somos majoritariamente cristãos, sim, mas isso não faz do povo um monolito de ideias e convicções.
Essa idealização do Brasil serve bem aos interesses populistas do presidente👇🏼
Esse artigo que escrevi com meu amigo @davidmagalhaes é um dos + importantes que escrevemos.
Nele, buscamos responder à seguinte pergunta: o que permitiu que populistas continuassem sendo populistas diante de uma crise sanitária, mesmo colocando em risco a saúde das pessoas? 👇🏼
Nossa resposta passa por 2 conceitos:
1) Populismo médico: uso de retórica divisiva p/reduzir responsabilidades durante a crise e transferi-las p/outros atores;
2) Ciência alternativa: rede de suporte ao populista que propõe soluções pseudocientificas c/verniz de legitimidade👇🏼
Analisando a promoção da cloroquina no Brasil e nos EUA, percebemos que Bolsonaro e Trump optaram por lidar com a crise não de forma abertamente negacionista, mas pretensamente científica, c/argumentos amparados por uma rede de médicos, jornalistas e influenciadores de direita👇🏼
Primeiro, golpe simbólico: o bolsonarismo veio à sombra do trumpismo, imitou suas táticas, importou suas narrativas. Bolsonaro terá que se agarrar a outros referenciais daqui em diante.
Mas a maior vítima é a política externa 👇🏼
Já disse, aqui, que o comportamento irresponsável de Bolsonaro coloca o 🇧🇷 em posição de fragilidade.
Nenhum presidente deveria fazer campanha em eleições alheias. Isso é óbvio e está na CF-88.
Além de torcer pra Trump, comprou, sem ressalvas, a narrativa de fraude eleitoral 👇🏼
E a cereja do bolo é a demora em reconhecer a vitória do democrata, ao passo que praticamente todos os países já o fizeram - inclusive aliados 🇭🇺🇮🇳🇮🇱
A diplomacia é feita de sinalizações. Os democratas sabem que terão um presidente hostil e terrivelmente trumpista por aqui 👇🏼
Há 1 razão fundamental p/um presidente não fazer campanha p/outro, além do óbvio respeito à boa diplomacia: se a torcida der errado, colocam-se as relações bilaterais em risco.
Bolsonaro quis ser cabo eleitoral de Macri 🇦🇷, Bibi 🇮🇱 e Trump 🇺🇸. Ele não costuma dar muita sorte 👇
O + surpreendente é Bolsonaro dobrar a aposta, mesmo quando a estatística joga contra ele.
A implicância c/o governo "socialista" do país vizinho levou ao pior período das relações 🇧🇷🇦🇷 em 4 décadas.
O caso 🇺🇸 é ainda + estranho. Bolsonaro segue em campanha aberta por Trump 👇
Já seria suficientemente ruim se Bolsonaro tivesse se calado semanas atrás, quando disse que torcia por Trump.
Com a menção inédita e pouco elogiosa no debate à política ambiental brasileira, Biden deixou clara sua insatisfação com o Trump tropical.
Às vésperas da eleição norte-americana, possivelmente a mais decisiva da nossa geração, gostaria de (novamente) recomendar algumas arrobas que entendem MUITO do assunto e poderão ajudá-l@s a decifrar a loucura do sistema eleitoral e da política 🇺🇸 👇