A alta transmissão do SARS-CoV-2 desperta uma preocupação urgente quanto às hospitalizações, novos casos e óbitos, mas também quanto ao surgimento de VARIANTES de nossa preocupação. Hoje vamos falar de algumas descritas lá nos Estados Unidos

Esse é o fio!
Na Califórnia, no fim de Dezembro de 2020, pesquisadores começaram a investigar a presença de variantes de atenção que poderíam ter uma maior transmissão, como a B.1.1.7, que tinha sido identificada no Reino Unido (UK) em Setembro de 2020.
Além de encontrar a presença da B.1.1.7 em algumas amostras, os pesquisadores descobriram outro achado: uma variante "para chamar de sua", até então não descrita em amostras de residentes na Califórnia. A variante foi chamada de CAL.20C
A variante CAL.20C apresenta um conjunto de mutações como a L452R, uma troca de aminoácidos na posição 452 que ocorre na proteína Spike (imagem da direita). Atualmente, 45% das amostras de SARS-CoV-2 da Califórnia apresentam essa mutação.
A mutação da proteína S chamada L452R está dentro de um domínio de ligação de receptor (RBD) e alguns estudos vêm levantando a possibilidade de possível escape a anticorpos da resposta imunológica. Mas mais estudos precisam ser feitos para confirmação
Ainda, por não termos análises clínicas sobre ela, o efeito funcional dessa variante em relação à infecciosidade e gravidade da doença permanece incerto. Mas sua identificação é importantíssima para a vigilância genômica dessa e de novas variantes
Essa variante abrange as linhagens B.1.427 e B.1.429, sendo também chamada como B.1.427/B.1.429
Um artigo publicado na @JAMA_current analisou 2.311 amostras do Centro Médico Cedars-Sinai (CSMC) Em 22/01/21, era responsável por 35% (86 de 247) na Califórnia e 44% (37 de 85) no Sul da Califórnia de todas as amostras coletadas em janeiro

jamanetwork.com/journals/jama/…
A análise de 40.5871 amostras globais no GISAID revelou que CAL.20C foi encontrado apenas no sul da Califórnia em Out/20 (4 casos).

Em Nov/20, 30 casos também foram identificados no norte da Califórnia e casos individuais em 5 estados adicionais.
nytimes.com/2021/02/23/hea…
E em 22/01/2021, a CAL.20C foi detectado em 26 estados e outros países.

jamanetwork.com/journals/jama/…
Outra variante que está sendo acompanhada nos Estados Unidos é a B.1.526
A B.1.526 foi descrita pela primeira vez em amostras coletadas em Nova York em Nov/20. Em meados deste mês, era responsável por cerca de 1 em cada 4 sequências virais que apareciam em um banco de dados compartilhado por cientistas

nytimes.com/2021/02/24/hea…
Observou-se um aumento constante na taxa de detecção do final de Dez a início de Fev, com um aumento alarmante de 12,3% nas últimas duas semanas
medrxiv.org/content/10.110…
O sequenciamento do genoma completo demonstrou ainda que a maioria das amostras com a mutação E484K (n = 49/65) caiu dentro de uma única linhagem: a linhagem Pangolin B.1.526 (NextStrain clado 20C).
A B.1.526 apresenta algumas mutações de importância na região da Spike:
- A E484K que pode estar relacionada com escape da resposta imunológica
- A S477N que pode propiciar que o vírus se ligue mais fortemente às células humanas.

biorxiv.org/content/10.110…
Desde a primeira descrição em Nov/20, a variante respondia por cerca de 27% das sequências da cidade de Nova York em Fev/21.
Mas Mell, seriam mais transmissíveis que a B.1.1.7? Precisamos estudar mais, mas alguns pesquisadores já estão convergindo de que não seria tão transmissível quanto, AINDA que possa ser mais transmissível que a cepa original. nytimes.com/interactive/20…
Variantes mais transmissíveis são um problema imenso e estamos sentindo na prática.

Quanto maior a transmissão ➡️ Mais pessoas infectadas➡️Mais vão precisar de hospitalização ➡️ Poderemos ver mais óbitos pelo aumento dos fatores anteriores.
E com isso, colocamos em risco os sistemas de saúde, que podem colapsar porque, mesmo aumentando leitos, equipe, os recursos são limitados e o crescimento é numa velocidade muito superior aos nossos incrementos.
Com um exacerbado número de óbitos em virtude da soma da transmissão, agravamentos, esperas por leitos e sistema de saúde colapsado, o próximo a colapsar é o funerário, e como muito bem colocado ontem no Spaces do @rodaviva isso gera um problema sanitário ENORME.
Portanto, queria destacar esses dois últimos tuítes e lembrar que o surgimento de variantes é um processo esperado da evolução do vírus, porém quando aceleramos esse processo, por permitir que o vírus circule mais, estamos caminhando em um lugar perigoso
Inclusive, recomendo seguir o @AndersonBrito_ para aprender mais sobre!

Muita gente comenta que "ah mas os EUA tem uma transmissão super elevada, é uma população imensa, por que só o Brasil está com problemas com a P.1?"

Bem, espero que o fio tenha ajudado a esclarecer um pouco que existem variantes potencialmente de atenção por lá também.
Agora, os EUA estão acelerando sua velocidade de vacinação num ritmo muito ágil, algo que precisamos cobrar de nossos gestores: precisamos de mais vacinas, mais doses aliado à adesão da população nas restrições e medidas de enfrentamento.

cnnbrasil.com.br/saude/2021/03/…
Então, além de se vacinar e cobrar daqueles que elegemos para representar e cmprir os interesses da população e sua saúde nesse momento crítico, o que devemos fazer?

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18 Mar
Os últimos dados levantamos (recuperados de COVID-19, ação neutralizante e até mesmo eficácia de algumas vacinas) têm apontado para um possível escape da resposta imunológica por algumas variantes, como a B.1.351 e a P.1.

Bora dar uma atualizada? Vem comigo!
Vou discutir alguns dados desse preprint publicado recentemente e trazer alguns fios que já foram escritos abordando o tema biorxiv.org/content/10.110…
O SARS-CoV-2 é um vírus de RNA, e utiliza uma enzima chamada RNA polimerase dependente de RNA, que basicamente cria uma cópia do RNA se baseando numa fita existente de RNA.

Durante essa cópia, erros podem acontecer, e existem sistemas de correção, mas algum erro pode passar né? Image
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17 Mar
Hoje tem #neurofio temático em virtude da Semana Nacional do Cérebro, com vários eventos online no Brasil! E para contribuir, o tema de hoje é sobre LINGUAGEM: por que somos palestrinhas? como isso ocorre? Como é adquirido? Isso muda minha percepção das coisas?

Vem comigo!
Linguagem pode ser entendida como um sistema de sons, símbolos e gestos para a comunicação. O principal papel da linguagem é justamente comunicar algo, repassar uma informação - e por isso seu repertório é imenso. Sempre pensamos na linguagem verbal, mas ela vai muito além disso
Esse processo reune uma série de estruturas do nosso corpo, dentro e fora do sistema nervoso: desde os nossos sensores como os olhos, os ouvidos até a articulação da comunicação pelo sistema motor (boca, mãos), com auxílio de estruturas respiratórias entre tantas outras! Image
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17 Mar
Sobre o artigo da AstraZeneca:
- O dado é sobre a B.1.351 e é um dado com n pequeno, algumas questões estatísticas importantes, mas é um dado importante que aponta a necessidade de mais estudo
- B.1.351 não é a P.1! Para a P.1, precisamos de estudos específicos - e logo! (1/n)
- Em outras vacinas (especialmente dados de ação neutralizante) vimos que a P.1 tem um impacto menor do que a B.1.351 sobre esses dados analisados
- O estudo não viu sobre casos graves, então não sabemos o impacto da B.1.351 sobre a vacina quanto a evitar agravamentos (2/n)
- Dos 87 antígenos específicos da Spike identificados, 75 permaneceram não afetados pelas mutações da B.1.351 e foi observada uma boa expansão de células T CD4+ e CD8+. A resposta celular pode estar relacionada com a prevenção de agravamentos = + estudos! (3/n)
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16 Mar
Onde foi parar ochoque ao ver mil óbitos diários na Itália, no início de 2020? Se pegássemos a notícia de hoje e mostrássemos para a população em Fev/20 e disséssemos que isso seria BR em Mar/21, ninguém acreditaria que chegaríamos nisso. Não aceitaríamos nunca isso.
Se chegássimos lá em Fev/20 e disséssemos que tem gente fazendo carreata para reabertura de tudo, gestores contra o uso de máscara e lockdown numa situação de quase 3 mil óbitos só nas últimas 24h, aquela população estaria cobrando gestores por atitudes coerentes.
Se disséssemos para essa população que não foi por falta de aviso de cientistas, profissionais da saúde, eles olhariam pra nós e perguntariam "como vocês ignoraram isso? O que deu em vocês? Pra que desafiar o vírus?"

Estamos fazendo isso. E tem gente que não entendeu isso.
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16 Mar
Analistas ainda começam a se preocupar com a chegada do feriadão de Páscoa, na primeira semana de abril. Se o sistema de saúde do RS não se recuperar até lá e houver grande mobilidade da pop., com viagens e encontros, a situação pode piorar ainda mais.

gauchazh.clicrbs.com.br/saude/noticia/…
Segundo @sucamey graças às medidas restritivas, evitamos cerca de 2 mil internações. "Mesmo se considerarmos que algumas pessoas não tenham sido internadas, não temos 2 mil em casa pela falta de leito. Essa é uma certeza: as medidas tomadas conseguiram evitar um caos maior "
Os impactos mais significativos só devem começar a ser sentidos no *início de abril*.

Isso se as pessoas mantiverem o distanciamento.

O efeito de desafogar UTI levaria ainda mais 20 a 30 dias para ser enxergado.
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15 Mar
@WHO afirma que não há indícios de que o imunizante esteja causando os raros casos de coagulação sanguínea detectados. A suspensão corrobora que o sistema de vigilância funciona e que controles eficazes estão em vigor - 🧶

valor.globo.com/mundo/noticia/…
Importante destacar que suspensões, pausas e outras ações quando temos a notificação de eventos após a imunização são parte da rotina do monitoramento de imunizantes. Quando a suspensão ocorre, não significa que a relação entre evento A e vacina A está estabelecida.
E não é porque duas coisas acontecem próximas que elas necessariamente tem uma relação de causa e consequência entre si. Explico um pouco mais nesse fio:
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